O periódico Estado do Pará de 05JAN1920, do qual retiramos os clichês e legenda acima, dá testemunho das festividades de inauguração da pedra básica do edifício central do que se pretendeu construir no Quarteirão H do bairro do Guamá com entusiasmo do governador Lauro Sodré e aquiescência popular: uma Leprosaria Modelar que redimisse o abandono ao Asylo do Tucunduba por mais de um século.
O médico Heraclides César de Souza Araújo, em seu livro A Prophylaxia da Lepra e das Doenças Venereas no Estado do Pará de 1922, transcreve a notícia dada pela Folha do Norte do mesmo dia:
A reprodução das páginas 39 e 40 do trabalho de Heraclides fez-se necessária pelo “canto do quarteirão H”, local onde enterraram o tesouro do Guamá: moedas, jornais do dia 4 e a acta do evento que desenhara aquele bairro para ser — sem jamais ter sido — um exemplo de prophylaxia à leprose configurando-se como um complexo hospitalar público instalado em pelo menos 15 quarteirões entre a Paes de Souza e a área da Pedreira do Guamá, da José Bonifácio ao igarapé Tucunduba (ver o Plano).
Bem, como nada disso saiu da surperfície do papel, voltemos ao famigerado Quarteirão H do Guamá que José Sidrim, em seu mapa de 1905, já batizara suas vias de composição:
O Guamá foi desobediente ao traçado imposto e criou seus próprios caminhos de tal modo que a Silva Castro não chega mais ao igarapé Tucunduba como em 04 de janeiro de 1920; muito menos há um Quarteirão H — a Intendente Coronel Antonio Pimenta de Magalhães, aqui projetada pelo rumo, é uma alameda aprisionada no Conjunto Residencial Alacid Nunes.
Em 24 de junho de 1924 o doutor Souza Araújo, chefe da Prophylaxia Rural do Departamento Nacional de Saúde Pública — DNSP — no Pará, inauguraria a Lazarópolis do Prata no Instituto do Prata, fundado em 1898 pelo capuchinho lombardo Frei Carlos de São Martinho, no governo de Paes de Carvalho, destinado à catequese dos silvícolas das regiões dos rios Capim e Guamá; ali, desde 1921, funcionava uma colônia correcional da Chefatura de Polícia:
Recorte do mapa de João de Palma Muniz datado de 1908; clique na imagem para vê-lo completo.
Mesmo com o surgimento da Lazarópolis do Prata, a primeira colônia agrícola de leprosos fundada no Brasil, o Asylo do Tucunduba permaceu em funcionamento precário até 1938 quando o interventor federal José Carneiro da Gama Malcher mandou atear fogo nos 70 casebres lá existentes e arrasar os pavilhões com material de lei — os hansenianos dali foram transferidos ao Prata restando dessas memórias e do devaneio de 1920 apenas as Ruínas do Tucunduba.