
Equivocou-se a história oficial, pelo menos a contada ao microfone na cerimônia de inauguração do Centro Cultural Palacete Faciola, dia 25 de junho passado, quando afirmou, pela boca de vários, ser Antonio Faciola o encomendador e primeiro morador da “edificação moderna e sólida” situada na esquina nobre Nazaré-Doutor Moraes; nesse tempo Faciola residia e era domiciliado no Bem-Bom, na Estrada de Ferro de Bragança-Avenida Tito Franco canto com a Barão do Triunfo, no Marco da Légua – e nem se alcançou, ainda, o desde quando (?), mas a chácara finou pra ele em 1936.
Na realidade quem mandou erigir o casarão fora o coronel da Guarda Nacional Bento José da Silva Santos: comerciante, pecuarista e industrial: dono da Olaria e Serrariâ do Arâpiranga.
Possivelmente intentou um lugar para a família, acolhendo filhos casados e netos – é o que nos transmitem as notas consultadas.
Bento José da Silva Santos é a mesma pessoa que vendeu a Rocinha (sua morada e dos seus) ao Goeldi (governo) em 1895 – sugerindo um intervalo construtivo ao Palacete entre 1896 e 1898; ou anterior, se o empreendimento independeu da negociação com o Estado.
De todo modo é sabido pelos jornais que em dezembro de 1899 o Palacete Silva Santos já estava habitado: foi registrada a parada dos deputados federais Augusto Montenegro e Pedro Leite Chermont no endereço; o mesmo que hospedaria o médico Chermont naquele dia e no seu velório em 22 de outubro de 1911 – Bento José era sogro do parlamentar doutor que regressava do Rio de Janeiro.
O dono do Palacete (Silva Santos) faleceu em 01 de março de 1908 sem deixar testamento; entretanto, o inventário aberto por seu filho (Junior) – tinha 3 filhas – é bastante elucidativo quanto à essência do imóvel em 1908:
Há um ente da família Faciola que já é o único – e último – a balbuciar que o Palacete teve outro dono: “um tal Francisco Santos”, o que justificaria o monograma FS em contraponto ao romanceado SF em suposta homenagem à Servita Faciola, esposa do Intendente; todavia, o mais pertinente seria Família Santos, ou mesmo Família Silva Santos – do Palacete Silva Santos – proprietária de um sobrado portentoso capaz de abrigar muitos e de gerações diversas.
É possível também especular pelo Santos e Filhos – SF – da firma, o que redunda em descendência, prole… Família.
Provavelmente a morte dos mais velhos dos ditos Silva Santos (e cônjuges) e a debandada dos remanescentes à Europa esvaziou e entristeceu a enorme vivenda – ao fim iminente provocado pelo passamento de Bento José da Silva Santos Júnior, viúvo, em 11 de maio de 1915, velado na casa ao lado, o 26 da Nazaré, moradia de sua irmã, também viúva: Maria Silva Santos Chermont -; poderíamos resumir: uma habitação nova com jovens, crianças e idosos expirando: concebendo órfãos.
Por ora é impossível precisar a data de aquisição do bem ou a da mudança dos cinco Facióla (e comitiva) ao Palacete Silva Santos; mas, afirma-se, com base em documentos e fotos, que não ocorreu antes de 1916.

Fonte da imagem: Crônica de algumas perdas anunciadas; por Jussara Derenji
As investigações continuarão, agora mais complexas, porque se lidará com duas famílias em composições e momentos distintos ocupando o mesmo espaço como lar; de comum, o que se tem de fato, são apenas as produtivas vigílias aos defuntos no emblemático salão que se projeta à velha Nazareth.
Referências:
Bento José da Silva Santos e Antonio d’Almeida Faciola.
A escrava Clara confirma conexão Jardim Mythologico-Museu Goeldi.
Colaboraram com esta publicação, além dos editores de plantão, os pesquisadores Aldrin Moura de Figueiredo (PPGH-UFPA), Nelson Sanjad (Museu Paraense Emílio Goeldi) e Diego Leal (PPGH-UFPA).
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Postscriptvm (25JUL2022)
Em comentário (no Laboratório Virtual) o professor Fábio Fonseca Horácio-Castro afirma que a mãe de José Bento da Silva Santos se chamava Anna Francisca dos Santos.
Tal informação abre a possibilidade do monograma FS, acima referido, significar Francisca Santos – isto justificaria “um tal Francisco Santos” lembrado por membro idoso da família Faciola.
Se foi uma homenagem à mãe de Bento: o Servita Faciola, como tributo de Antonio Faciola à esposa, soa como clara adaptação da história (real) pregressa.
Agora: quem foi Anna Francisca dos Santos?
Sigo acompanhando esta preciosa pesquisa.
Se a história oficial mente em quem poderemos confiar nossa educação e cultura?
Ato criminoso do governo.
Jamais soube ou saberia que o Palacete Faciola já foi Palacete Silva Santos.
Meu sobrenome é Silva Santos, mas gostaria de ser Faciola porque é diferente e esse Bento era escravocrata.
Caro Baleixe, estou coordenando o livro sobre o restauro da residência dos Faciola e os autores de textos têm perfeita consciência de que o prédio não foi construído pelo Faciola. Foi fotografado em álbum de governo muito antes disso. As falas na inauguração, que não ouvi, não devem ter sido feitas por nenhum técnico.
https://fauufpa.org/2022/07/22/bem-bom-a-casa-dos-faciola/#comments
Jussara: as falas na inauguração, que você não ouviu, estão registradas de modo público no Youtube e confirmam o texto. O álbum de governo ao qual você se refere é o de 1908 – de Augusto Montenegro; é dele a foto ilustrativa do Palacete Silva Santos. O Laboratório Virtual pretende esclarecer à sociedade que Antonio d’Almeita Facióla nada tem a ver com o Palacete antes de 1916, pelo menos; ao que se pode comprovar. (https://fauufpa.org/2022/07/22/bem-bom-a-casa-dos-faciola/#comments)
Jussara: desculpe, o álbum referido por você foi o do Paes de Carvalho, de 1899 (https://fauufpa.org/wp-content/uploads/2022/07/Palacete-Silva-Santos-1899.jpg) e não o do Montenegro (1908). Assim se conclui que o Palacete Silva Santos é mais antigo ainda. Quanto mais velho, menos Facióla.
Muito interessante. Segue uma contribuição genealógica: Bento José da Silva Santos, um dos homens mais ricos do Pará no final do século XIX, era filho de Domingos da Silva Santos e de Anna Francisca dos Santos. Casou-se primeiramente com Catharina Maria de Lemos e, viúvo, com Rosa Monard, irmã do pecuarista João Monard. Sua segunda esposa faleceu em Paris, a 8 de julho de 1907. Da primeira união teve três filhos, Maria Catharina, nascida em fevereiro de 1866 em Belém e falecida meses depois, uma segunda filha chamada Maria Catharina da Silva Santos, Bento José da Silva Santos, Jr, e Joaquim da Silva Santos, falecido jovem. Maria Catharina casou-se com Pedro Leite Chermont, filho do visconde de Arary, dele tendo seis filhos, um dos quais Amando Chermont, casado com Inah Faciola. Outro filho desse casal foi Rodolpho Chermont, prefeito de Belém. De seu segundo matrimônio Bento José da Silva Santos teve também três filhos, ao que sei: Adília, Enid e Edith Monard da Silva Santos. Esta última foi casada com Francisco Seráphico de Souza, sendo pai de Yolanda, Otavio e Fernando da Silva Santos Seráphico de Souza
Fabio: no inventário de 1908 é dito que a segunda mulher do Bento (pai) é Marianna Fernandes da Silva Santos, casada em separação de bens. Rosa Monard seria esposa do Bento Junior, que morreu viúvo.
Outra Fabio: se a mãe do Bento Pai se chamava Anna Francisca dos Santos; há a possibilidade do monograma FS ser em sua homenagem. Observe no texto que um membro, já idoso, da família Faciola, relembra o significado do SF como Francisco Santos. Isto justificaria um monograma com duas letras e não três.