Palacete Silva Santos – antes dos Faciola

Palacete Silva Santos – avenida Nazareth, 28 (foto publicada à página 154 do Álbum do PARÁ em 1899)

Equivocou-se a história oficial, pelo menos a contada ao microfone na cerimônia de inauguração do Centro Cultural Palacete Faciola, dia 25 de junho passado, quando afirmou, pela boca de vários, ser Antonio Faciola o encomendador e primeiro morador da “edificação moderna e sólida” situada na esquina nobre Nazaré-Doutor Moraes; nesse tempo Faciola residia e era domiciliado no Bem-Bom, na Estrada de Ferro de Bragança-Avenida Tito Franco canto com a Barão do Triunfo, no Marco da Légua – e nem se alcançou, ainda, o desde quando (?), mas a chácara finou pra ele em 1936.

Reclame da firma Silva Santos & filhos do Coronel Bento José da Silva Santos

Na realidade quem mandou erigir o casarão fora o coronel da Guarda Nacional Bento José da Silva Santos: comerciante, pecuarista e industrial: dono da Olaria e Serrariâ do Arâpiranga.
Possivelmente intentou um lugar para a família, acolhendo filhos casados e netos – é o que nos transmitem as notas consultadas.
Bento José da Silva Santos é a mesma pessoa que vendeu a Rocinha (sua morada e dos seus) ao Goeldi (governo) em 1895 – sugerindo um intervalo construtivo ao Palacete entre 1896 e 1898; ou anterior, se o empreendimento independeu da negociação com o Estado.
De todo modo é sabido pelos jornais que em dezembro de 1899 o Palacete Silva Santos já estava habitado: foi registrada a parada dos deputados federais Augusto Montenegro e Pedro Leite Chermont no endereço; o mesmo que hospedaria o médico Chermont naquele dia e no seu velório em 22 de outubro de 1911 – Bento José era sogro do parlamentar doutor que regressava do Rio de Janeiro.
O dono do Palacete (Silva Santos) faleceu em 01 de março de 1908 sem deixar testamento; entretanto, o inventário aberto por seu filho (Junior) – tinha 3 filhas – é bastante elucidativo quanto à essência do imóvel em 1908:

Texto de 1908
Monograma que compõe a fachada pela Nazaré

Há um ente da família Faciola que já é o único – e último – a balbuciar que o Palacete teve outro dono: “um tal Francisco Santos”, o que justificaria o monograma FS em contraponto ao romanceado SF em suposta homenagem à Servita Faciola, esposa do Intendente; todavia, o mais pertinente seria Família Santos, ou mesmo Família Silva Santos – do Palacete Silva Santos – proprietária de um sobrado portentoso capaz de abrigar muitos e de gerações diversas.
É possível também especular pelo Santos e Filhos – SF – da firma, o que redunda em descendência, prole… Família.
Provavelmente a morte dos mais velhos dos ditos Silva Santos (e cônjuges) e a debandada dos remanescentes à Europa esvaziou e entristeceu a enorme vivenda – ao fim iminente provocado pelo passamento de Bento José da Silva Santos Júnior, viúvo, em 11 de maio de 1915, velado na casa ao lado, o 26 da Nazaré, moradia de sua irmã, também viúva: Maria Silva Santos Chermont -; poderíamos resumir: uma habitação nova com jovens, crianças e idosos expirando: concebendo órfãos.
Por ora é impossível precisar a data de aquisição do bem ou a da mudança dos cinco Facióla (e comitiva) ao Palacete Silva Santos; mas, afirma-se, com base em documentos e fotos, que não ocorreu antes de 1916.

Desenho da fachada do Palacete Silva Santos (hoje Facióla) publicada em 2000 – plano de 1895

Fonte da imagem: Crônica de algumas perdas anunciadas; por Jussara Derenji


As investigações continuarão, agora mais complexas, porque se lidará com duas famílias em composições e momentos distintos ocupando o mesmo espaço como lar; de comum, o que se tem de fato, são apenas as produtivas vigílias aos defuntos no emblemático salão que se projeta à velha Nazareth.

Referências:
Bento José da Silva Santos e Antonio d’Almeida Faciola.
A escrava Clara confirma conexão Jardim Mythologico-Museu Goeldi.


Colaboraram com esta publicação, além dos editores de plantão, os pesquisadores Aldrin Moura de Figueiredo (PPGH-UFPA), Nelson Sanjad (Museu Paraense Emílio Goeldi) e Diego Leal (PPGH-UFPA).

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Postscriptvm (25JUL2022)
Em comentário (no Laboratório Virtual) o professor Fábio Fonseca Horácio-Castro afirma que a mãe de José Bento da Silva Santos se chamava Anna Francisca dos Santos.
Tal informação abre a possibilidade do monograma FS, acima referido, significar Francisca Santos – isto justificaria “um tal Francisco Santos” lembrado por membro idoso da família Faciola.
Se foi uma homenagem à mãe de Bento: o Servita Faciola, como tributo de Antonio Faciola à esposa, soa como clara adaptação da história (real) pregressa.
Agora: quem foi Anna Francisca dos Santos?

Sobre o Projeto Laboratório Virtual - FAU ITEC UFPA

Ações integradas de ensino, pesquisa e extensão da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará - em atividade desde maio de 2010. Prêmio Prática Inovadora em Gestão Universitária da UFPA em 2012. Corpo editorial responsável pelas publicações: Aristoteles Guilliod, Fernando Marques, Haroldo Baleixe, Igor Pacheco, Jô Bassalo e Márcio Barata. Coordenação do projeto e redação: Haroldo Baleixe. Membros da extensão do ITEC vinculada à divulgação da produção de Representação e Expressão: Dina Oliveira e Jorge Eiró.
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9 respostas para Palacete Silva Santos – antes dos Faciola

  1. Lucia Chaves disse:

    Sigo acompanhando esta preciosa pesquisa.

  2. rodrigossantos disse:

    Se a história oficial mente em quem poderemos confiar nossa educação e cultura?
    Ato criminoso do governo.
    Jamais soube ou saberia que o Palacete Faciola já foi Palacete Silva Santos.
    Meu sobrenome é Silva Santos, mas gostaria de ser Faciola porque é diferente e esse Bento era escravocrata.

  3. Jussara s Derenji disse:

    Caro Baleixe, estou coordenando o livro sobre o restauro da residência dos Faciola e os autores de textos têm perfeita consciência de que o prédio não foi construído pelo Faciola. Foi fotografado em álbum de governo muito antes disso. As falas na inauguração, que não ouvi, não devem ter sido feitas por nenhum técnico.

  4. Muito interessante. Segue uma contribuição genealógica: Bento José da Silva Santos, um dos homens mais ricos do Pará no final do século XIX, era filho de Domingos da Silva Santos e de Anna Francisca dos Santos. Casou-se primeiramente com Catharina Maria de Lemos e, viúvo, com Rosa Monard, irmã do pecuarista João Monard. Sua segunda esposa faleceu em Paris, a 8 de julho de 1907. Da primeira união teve três filhos, Maria Catharina, nascida em fevereiro de 1866 em Belém e falecida meses depois, uma segunda filha chamada Maria Catharina da Silva Santos, Bento José da Silva Santos, Jr, e Joaquim da Silva Santos, falecido jovem. Maria Catharina casou-se com Pedro Leite Chermont, filho do visconde de Arary, dele tendo seis filhos, um dos quais Amando Chermont, casado com Inah Faciola. Outro filho desse casal foi Rodolpho Chermont, prefeito de Belém. De seu segundo matrimônio Bento José da Silva Santos teve também três filhos, ao que sei: Adília, Enid e Edith Monard da Silva Santos. Esta última foi casada com Francisco Seráphico de Souza, sendo pai de Yolanda, Otavio e Fernando da Silva Santos Seráphico de Souza

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