Belém: prédios de até 40 andares convivem com áreas sem esgoto

Segundo o IBGE, 48% das ruas de Belém não são identificadas por placas e 35% não têm calçadas

Cleide Carvalho (Email · Facebook · Twitter)
Publicado: 20/04/13 – 19h30 Atualizado: 20/04/13 – 20h07

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Prédios de 40 andares no bairro Umarizal O Globo / Michel Filho

BELÉM – A imagem das torres gêmeas Village Sun e Moon, cada uma com mais de cem metros de altura e 40 pavimentos, serve como ícone do boom de construção de espigões em Belém. Banhada por grandes rios e recortada por igarapés, a cidade é repleta de áreas sujeitas a alagamentos devido às cheias da Amazônia.
Por esse motivo, qualquer lugar que a água não alcança é mais valorizado. Mas a beleza das varandas envidraçadas dos novos edifícios contrasta com o esgoto a céu aberto em boa parte das ruas, além do lixo em calçadas, palafitas que se avizinham na esquina e até mesmo falta de identificação dos logradouros. Segundo o IBGE, 48% das ruas de Belém não são identificadas por placas, 35% não têm calçadas, e um terço não tem bueiro ou boca de lobo.
—Só 7% do esgoto de Belém recebem tratamento. O restante vai para as galerias pluviais. Vai tudo parar nos rios — diz Antônio Valério Couceiro, presidente da Ademi-PA, lembrando que os novos empreendimentos têm de incluir algum tipo de tratamento de esgoto, o que aumenta o preço para o futuro morador.
—Além do conforto do apartamento, é preciso discutir a função social da cidade num plano diretor que evite desequilíbrios. A cidade tem de servir para todo mundo. O impacto da verticalização é brutal. É preciso discutir quantos indivíduos podem morar numa determinada rua, se a infraestrutura suporta ou não toda essa gente — afirma o professor José Júlio Ferreira Lima, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará, integrante do Observatório das Metrópoles.
Segundo Lima, as novas construções criam pressões sobre o poder público para dotar a área de infraestrutura, fazendo com que outros bairros sejam relegados a segundo plano. Lima lembra que Belém já atravessou várias fases de verticalização. Numa delas, os prédios não tinham recuo, eram feitos em fila, um ao lado do outro, dificultando a ventilação, e, ainda por cima, as construtoras faziam as varandas além do limite dos terrenos, debruçadas sobre as calçadas. Agora as chamadas Operações Urbanas permitem às prefeituras autorizar o aumento no número de pavimentos, gerando outro tipo de discussão, que é onde o dinheiro será aplicado.
Alice da Silva Rodrigues Rosas, da Companhia de Desenvolvimento Metropolitano de Belém, diz que a valorização das áreas mais centrais repercutiu em todos os bairros e transformou, ao longo dos anos, toda a Região Metropolitana numa enorme periferia da capital, acentuando problemas de mobilidade. Nos arredores, o modelo adotado pelas construtoras é o de diversos edifícios aglomerados em grandes lotes, num empreendimento único.
O novo modelo exige administração rígida. O contador Gustavo Lama, de 41 anos, enfrentou problemas quando comprou seu primeiro apartamento em Ananindeua, na Grande Belém, há dois anos.
—Lá são cinco prédios, 64 famílias em cada. Muita gente não estava acostumada a morar em apartamento e não queria cumprir as regras do condomínio. Jogavam coisas pela janela, andavam sem camisa no elevador. Agora está mais calmo, mas no início foi complicado — diz ele.
Lama espera um padrão melhor de vida e vizinhança em Icoaraci, distrito de Belém, onde comprou na planta um apartamento de 77 metros quadrados, com três quartos. São oito prédios, dois deles comerciais, numa área de 35 mil metros quadrados, com estrutura de lazer. É justamente o novo perfil de moradia proposto na região: áreas verdes e de lazer compartilhadas pelas diversas torres.
—Apesar de tantos rios e da beleza natural, Belém carece de áreas de lazer. A orla não é turística, e sim portuária — afirma Alice Rosas.
Ela ressalta ainda que Belém aumenta cada vez mais a impermeabilização do solo devido ao uso excessivo de asfalto e cimento, o que gera desconforto.
—Já temos um clima quente, com temperaturas de 29°C a 30°C. Com a impermeabilização do solo (que reduz o processo de evaporação), a sensação de calor fica ainda maior — diz Alice, que pretende trabalhar na regulamentação do plano diretor, para que os investimentos das Operações Urbanas alcancem também as áreas menos nobres.

Fonte: Globo.com.

Publicação sugerida por Igor Pacheco, editor do Fragmentos de Belém.

Sobre o Projeto Laboratório Virtual - FAU ITEC UFPA

Ações integradas de ensino, pesquisa e extensão da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará - em atividade desde maio de 2010. Prêmio Prática Inovadora em Gestão Universitária da UFPA em 2012. Corpo editorial responsável pelas publicações: Aristoteles Guilliod, Fernando Marques, Haroldo Baleixe, Igor Pacheco, Jô Bassalo e Márcio Barata. Coordenação do projeto e redação: Haroldo Baleixe.
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