Aprender a interagir com outras pessoas é um dos aspectos mais importantes do desenvolvimento na infância. Desde cedo as relações mais importantes para as crianças são as estabelecidas com os pais ou outras pessoas que cuidam delas, como avós ou babás. Sinais de apego, ou vínculo emocional, já são evidentes aos seis meses de idade ou mesmo antes disso. O bebê reage com sorrisos e ruídos quando vê a pessoa que cuida dele, e com choro quando essa pessoa vai embora. Para bebês de cinco meses de idade, quando as mães saem do quarto ainda vale a regra que “o que os olhos não vêem, o coração não sente”, mas para os bebês de nove meses a memória da mãe permanece e assim, comunicam a pleno pulmões que a querem de volta!
Bebês e crianças aprendem (ou não), que podem contar com a presença da mãe e de outras pessoas que cuidam deles sempre que precisarem, eles podem aprender a se sentir seguros mesmo na ausência da mãe. O psicólogo Erik Erikson denominou esse comportamento de confiança básica no mundo, e especialmente nas pessoas que fazem parte desse mundo. Se, de uma maneira geral, as necessidades das crianças são atendidas, elas desenvolvem a confiança nas outras pessoas e em si mesmas, vêem o mundo como um lugar seguro e com pessoas com quem podem contar, e são otimistas com relação ao futuro. Se, ao contrário, as crianças cujas necessidades básicas nem sempre são satisfeitas, ou que são cuidadas por pessoas insensíveis ou ausentes, crescem sentindo medo e muita ansiedade com relação à sua própria segurança, e o mundo se torna uma ameaça. Essa visão é apoiada por pesquisas segundo as quais crianças que crescem em famílias equilibradas, amorosas e acolhedoras geralmente constroem vínculos mais fortes com seus pais e irmãos do que as crianças criadas em famílias repletas de conflitos, rivalidades e desatenção uns com os outros (Frosch, Mangelsdorf e McHale, 2000).
A confiança que a criança adquire é aprendida, e quando isso ocorre, elas não se sentem tão ansiosas ou preocupadas com a disponibilidade da pessoa que cuida dela, da mãe ou outro cuidador. São crianças que estão confortáveis no mundo para descobri-lo, no início um pouco inseguras talvez, depois com mais coragem, elas se afastam da pessoa cuidadora para se aventurar no conhecimento do mundo e de outras pessoas que a cercam. Essa é uma observação que indica o desenvolvimento da autonomia da criança, ou de seu senso de independência.
Autonomia e apego podem parecer conceitos opostos, mas na verdade estão intimamente relacionados. A criança que construiu um apego seguro com as pessoas que cuidam dela são capazes de explorar o ambiente que as cerca sem medo. Essa criança sabe que quem cuida dela estará por perto quando ela realmente precisar e assim essa pessoa funciona como um “porto seguro” a partir da qual ela pode navegar e voltar quando quiser.
Ao contrário, crianças fragilmente apegadas à mãe ou outra pessoa cuidadora, tem menos segurança e confiança para explorar o ambiente ao redor, mesmo quando a mãe está presente. Se deixadas em um lugar estranho, como creche ou escola, a maioria das crianças pequenas choram e se recusam a serem consoladas, mas uma criança inseguramente apegada tende a continuar chorando mesmo depois que a mãe retorna, com raiva ou ignorando a mãe. Em contrapartida, crianças seguramente apegadas tem maior probabilidade de correr para a mãe para ganhar um abraço e ouvir algumas palavras de confiança e depois voltar a brincar (Ainworth, Blehar, Waters e Wall, 1978).
A importância de um apego seguro desde o início da vida torna-se evidente muitos anos depois. Essas crianças passam a se ver como pessoas adoráveis e competentes e vêem os outros como pessoas confiáveis e com quem podem contar.
Estudos realizados com crianças de um a seis anos de idade mostraram que aquelas que possuem um apego seguro com suas mães até a idade de dois anos, tendiam a ficar mais à vontade com outras crianças, mais interessadas em explorar novos brinquedos e são mais entusiasmadas e persistentes diante de novas tarefas. Esse modelo de funcionamento interno vai influenciar positivamente o comportamento da criança e do futuro adolescente diante da maioria dos desafios da vida que enfrentarão à medida que crescerem.
Uma sugestão de leitura: Revista Piauí (agosto): Surto Tarja Preta. Tema polêmico, assunto do próximo domingo.
*Ivana Freitas, psicóloga clínica com abordagem psicodinâmica em EMDR, pós-graduada em orientação de casal e familiar; e-mail: ivana.psicologia@gmail.com.
Ivana Barbosa Freitas é professora do INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ — IFPA.
Fonte: Seção Cabeça.
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O texto acima parece, de algum modo, complementar o raciocínio do professor Rogério Cezar de Cerqueira Leite (publicação anterior); contudo, mostra os “cuidadores” como entes responsáveis e coerentes; talvez o que se esperasse de um governo capaz de enxergar a EDUCAÇÃO como um IVESTIMENTO, jamais como CUSTO à sociedade.
O corte no salário dos professores demonstrará ao alunado das IFES que “seus mestres são tão insignificantes quanto a mosca que pousou no cocô do cavalo do bandido”, segundo comentário de Manoel Ramalho Neto, aqui no BF.