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Ao deixar de suprimir o salário de professor grevista,
o governo age como um pai relapso que não dá limites ao filho,
que com “birra” seguirá testando limites
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Freud, entre as inúmeras contribuições que constituiriam a teoria psicanalítica, propôs este revelador fenômeno que consiste na transição sofrida pela criança: a passagem do princípio do prazer para o princípio da realidade.
Durante aquela fase inicial, a criança vê o seu mundo como um aparelho cuja única função é satisfazer seus desejos. Não há limites. O agente, o instrumento desse domínio, é a mãe.
O início da transição para atuação sob o princípio da realidade – ou seja, para a maturidade – ocorre quando limites começam a ser impostos aos desejos da criança.
Este papel é responsabilidade principalmente do pai, pois a mãe, acostumada a satisfazer os desejos da criança, é menos capaz de impor limites a ela.
Portanto, para que a criança amadureça e se torne um cidadão saudável, é absolutamente necessário que o pai exerça a sua obrigação.
É claro que é desejável que a transição entre os princípios do prazer e da realidade se faça suavemente, tornando a passagem tolerável. Eis porque a intermediação pela mãe é desejável.
A proposta do executivo federal para o ensino superior é não apenas generosa. Ela é também extremamente inteligente, pois concilia os valores acadêmicos com os interesses individuais.
Oferece salários competitivos, equivalentes, talvez até superiores, àqueles típicos de universidades europeias. Estimula o aumento da competência acadêmica ao privilegiar o tempo integral e a titulação. Além do mais, como também acontece com as universidades do mundo desenvolvido, salários de professores ainda podem ser complementados pelo CNPq com relativa facilidade para aqueles que realizam pesquisas com alguma seriedade.
Olhando, por outro lado, o estímulo representado pelo aumento, que seria de 25% a 40% (que, descontando uma inflação prevista de 15% para os próximos três anos, resultaria aumento de 25% para fins de carreira, 15% para posições intermediárias e 10% para iniciantes), não deixa de ser elogiável o esforço.
Embora Freud não tivesse se preocupado, em sua análise dos princípios do prazer e da realidade, com excessos de comportamento da criança, é hoje consenso que ela procurará, para encontrar seus próprios limites de atuação, infringir regras, abusar de seus direitos. Para isso, desafia os progenitores. Se eles não exercem as suas obrigações, o caos advém.
E agora, tomando como paradigma a descoberta do saudoso Stephen J. Gould de que “a filogenia imita a ontogenia”, assumindo que a evolução do comportamento social imita a da psicológica, podemos concluir que a comunidade acadêmica ainda opera de acordo com o princípio do prazer.
O amortizador natural para excessos grevistas é a supressão de salários. Sem este dispositivo, a greve perde sua legitimidade e grevistas se destituem de autoestima, como crianças de pais ausentes, alienados.
A greve deixa de ser um ato respeitável, por vezes heroico, para se tornar um acontecimento prosaico. Pretender, todavia, que reitores, promanados que são do corporativismo interno das universidades, venham a exercer sua inequívoca responsabilidade seria de grande ingenuidade, embora não haja dúvidas de que grevistas estão apenas testando seus limites, como as crianças que fazem “birra”.
Como propõe a moderna pedagogia, palmadas não são adequadas. O único aliado que tem o Executivo é, portanto, a consciência do cidadão, que percebe o mal que está fazendo para a sociedade e para si mesmo com o próprio comportamento insólito e injustificável.
*Rogério Cezar de Cerqueira Leite, 80, físico, é professor emérito da Unicamp, pesquisador emérito do CNPq e membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia e do Conselho Editorial da Folha.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br.
Fonte: Folha de São Paulo OPINIÃO (16/08/2012).
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A OPINIÃO do professor Rogério Cezar de Cerqueira Leite não reflete o que pensam os editores do BF; é tão somente a abertura de um espaço à discussão do possível corte no salário dos professores das Universidades Públicas Federais.
A pancada é forte; mas, bem menos humilhante que a volta às aulas com o dito “rabinho entre as pernas” diante de atitude constrangedora em prol do xeque-mate do maquiavelismo estatal.
UNIVERSIDADES EM GREVE deveriam ser uma AULA MAGNA à discussão da SOCIEDADE BRASILEIRA, pois são elas, as UNIVERSIDADES, os únicos espaços com configuração libertária, relativamente suficiente, à insenção diante dos interesses do Capital mal intencionado — se é que há um Bom Samaritano nesse “conflito educacional”.
A BIRRA apontada pelo octagenário físico pode ser tão real quanto a BIRRA de seu neto, que, certamente, o fez mudar de comportamento, em algum momento de sua vida; esta sim, uma OPINIÃO básica de contraponto do Blog.
[A OPINIÃO do professor Rogério Cezar de Cerqueira Leite não reflete o que pensam os editores do BF;] Tanto reflete que outras propostas de artigo não são aceitas. Só essa politica de obrigar quem não quiser passar fome ter que fazer pesquisa tem provocado danos perniciosos ao que esse diz gostar: pesquisa. Posto que, isso faz com que um pesquise e dezenas se pendurem no seu projeto, sem falar ainda nas montanhas de plágios pela necessidade de apresentar resultado a todo cursto.
Caro batista-n2006@ig.com.br:
Reafirmamos que “A OPINIÃO do professor Rogério Cezar de Cerqueira Leite não reflete o que pensam os editores do BF”.
O Blog da FAU não recebeu nenhuma proposta de artigo sobre o tema, portanto, afirmar que “outras propostas de artigo não são aceitas” não pactua com a verdade.
Utilize o e-mail fau.itec.ufpa@gmail.com para enviar sua opinião identificada que, na medida do razoável, será aqui publicada.
Os editores do BF.
O professor Rogério pertence a uma universidade estadual paulista, portanto, jamais viveu a realidade das federais.
Seus oitenta anos parecem recolher felicidades da época da Ditadura Militar, só fatou que soltasse que “no tempo do Medici era diferente porque se valorizava o professor!” (porque ganhavam bem as panelinhas universitárias com seu professores déspotas).
Uma universidade não é feita somente de professores, é uma congregação desses com seus inúmeros alunos e funcionários.
Cortar o salário dos professores é como demonstrar, de forma cabal, aos seus alunos, que a educação é uma merda neste país e que seus mestres são tão insignificantes quanto a mosca que pousou no cocô do cavalo do bandido.
O governo não atinge unicamente o PROFESSOR, mas ao aluno, que vê nesses atos irresponsáveis do governo, o fim de qualquer esperânça para o Brasil que ele atuará.
Se cortarem os salários os professores voltarão com o “rabinho entre as pernas” sim, não há dúvida, mas a qualidade desse professor será comprometida por tal humilhação e isso é irrecuperável para qualquer coeficiente que aponte Qualidade de Ensino nas IFES.