Em Bolonha, no ano de 1977, juntamente com Ivan Ribeiro e Carlos Nelson Coutinho, representávamos o Partido Comunista Brasileiro em um seminário sobre “As ditaduras na América Latina”. No primeiro intervalo desse evento fomos procurados pelo Dr. Arnoaldo Berti, famoso advogado bolonhês, mas para nós um ilustre desconhecido. Ele se apresentou e disse, entre outras coisas, ser o proprietário da casa de Monte Castelo, que “hospedou” os pracinhas brasileiros durante a 2° Guerra Mundial.
O Dr. Berti nos fez, então, a seguinte oferta: ele queria doar ao povo brasileiro, através de nós, aquela área para que fosse feito um monumento aos pracinhas. Perguntamos por que ele não oferecia à Embaixada brasileira e ele respondeu que já o tinha feito mas que não tinham aceitado pois ele pretendia que fosse escrita uma frase, mais ou menos assim, se bem me lembro:
“Aos brasileiros que morreram defendendo a Itália do fascismo e aos brasileiros que hoje morrem sob uma ditadura fascista”.
Aceitamos o encargo e ficamos de falar com o secretario do PCB, Luiz Carlos Prestes, a respeito. Eu fiquei como encarregada desse contacto e fui a tradutora das cartas que eles trocaram. Prestes procuraria Niemeyer, faria a proposta e nos daria uma resposta.
Niemeyer aceitou de fazer o monumento e nos colocou em contacto com o engenheiro, seu braço direito nos trabalhos que estava fazendo na Argélia (agora não recordo o seu nome). Esse companheiro veio para Bolonha e juntamente com o Dr. Arnoaldo Berti, fomos visitar os locais onde os pracinhas brasileiros estiveram durante a guerra.
Todos os acordos foram feitos, verbalmente, e começamos a esperar notícias. Algum tempo depois fomos informados que Niemeyer deveria vir para a Itália e França inaugurar suas obras e aproveitaria para vir até Bolonha par visitar a área do futuro monumento.
Nós e o PCI o esperávamos e depois da chegada do avião, sem ele, descobrimos que não gostava de viajar de avião e que tinha voltado do aeroporto carioca para sua casa…
Quando pude voltar ao Brasil em 1979, numa manisfestação pela anistia, o encontrei. Após as apresentaçoes, conversamos sobre o monumento e ele me disse que, infelizmente, o material que tinha recebido não era suficiente para fazer o projeto. A área de Bombiana, nome do local onde seria feito o monumento, parecia ser muito “acidentada”, cheia de altos e baixos, de subidas e descidas e que seria necessário ver pessoalmente para poder fazer algo.
PS¹. Passaram-se outros anos e nos ficou claro que ele não viria para cà, Bolonha, nem de avião, nem de navio; assim o monumento foi feito por uma arquiteta brasileira residente na Suiça.
São dois arcos: aquele voltado para baixo simboliza os soldados que lutaram e ficaram aqui na terra; o voltado para cima, representa os que morreram e subiram aos céus.
A sombra do monumento forma uma cruz naquele chão onde quase 500 brasileiros deixaram sua contribuiçao lutando contra o nazi-facismo:
PS². Neste momento estou em Bolonha.
Foto-link enviada por Cláudia Nascimento.