Avenida Primeiro de Dezembro

Antônio Lemos, em seu Relatório apresentado ao Conselho Municipal de Belém em 15 de novembro de 1902 (à página 176), fala da avenida que teve seu nome modificado em passado recente para Papa João Paulo II sem nenhuma consulta, como é habitual, aos munícipes:

176

Lemos tinha absoluta certeza que a única saída para um crescimento ordenado do Município seria o bairro do Marco da Légua, para tanto nele mandou abrir ou fez melhorias em travessas e avenidas determinadas em 1893, antes de sua chegada à Intendência; entretanto, 55 anos após a publicação da Lei 282 (de 1900) a Primeiro de Dezembro ainda era intransitável por veículos na grande maioria de seus trechos, muito menos chegou a cumprir o determinado pelos vogaes: iniciar ao lado direito da Praça Floriano Peixoto e findar defronte ao Lauro Sodré.
Somente em 1972 a via foi retificada, asfaltada e iluminada para ser inaugurada emergencialmente no final daquele ano em visita oficial do ministro da Ditadura Militar, Jarbas Passarinho – era prefeito de Belém Nélio Dacier Lobato e governador Fernando José Leão Guilhon.
Em meados de 1980 o Papa João Paulo II rezou missa campal na esquina da Primeiro de Dezembro com a Mauriti, lugar marcado por pequeno monumento em concreto armado e possível motivo para estender seu nome, posteriormente, à avenida que está em sua segunda ampliação com o intuito de desafunilar o fluxo terrestre à Cidade.

bueiro

Relíquia: tampa de bueiro original da Primeiro de Dezembro fundido em ferro com o ano de sua inauguração.

444

Imagem ampliável.

O acervo fotográfico não identificado da BC/UFPA comprova, em duas das dez fotos aéreas que Silveira Neto utilizou para escolher a área do Campus do Guamá, que a Primeiro de Dezembro em 1955 era composta por caminhos irregulares e que uma das intenções da Lei 282 jamais seria cumprida: chegar, em paralelo à Tito Franco (atual Almirante Barroso), à Praça Floriano Peixoto; uma desobediência política ao traçado técnico da  Planta da Cidade de Belém de 1899.
Curiosidade sobre os caminhos irregulares: a fotografia aérea (em detalhe acima) da avenida Primeiro de Dezembro com a travessa Timbó – uma das duas esquinas da Escola Superior de Educação Física da UEPA – nos faz perceber (salvo uma ilusão de ótica) a existência de um morro relativamente extenso e alto para o relevo comum da área limítrofe à baixada alagadiça ao Sudeste.

Sobre a irresponsável mudança na nomenclatura de vias nos diz Ernesto Cruz, em RUAS DE BELÉM – Significado histórico de suas denominações:

EC

Páginas da edição de 1992 – a publicação original é de 1970.

É o caso de se perguntar à Câmara Municipal de Belém, com parcela expressiva de membros subservientes aos interesses do capital privado que os elege: – como se deve chamar a tradicional Feira da 25?


Postscriptvm:
A Wikipédia comete erros crassos no verbete Marco (Belém): dentre outros, lá se atribui o nome da avenida à posse de D. Pedro I em 1822; o que nada tem a ver com a História.


Postscriptvm² (11/10/2014):

Professor José Maria Filardo Bassalo por e-mail:

Quando era engenheiro do extinto Departamento Municipal de Estradas de Rodagem, na época da Ditadura Militar, tive oportunidade de fazer o projeto de prologamento dessa Avenida até o Entroncamento que, no entanto, não foi realizado porque passava por terrenos do Exército (stand de tiros do Utinga) e pelos terrenos do Hospital da Aeronáutica.  

Sobre o Projeto Laboratório Virtual - FAU ITEC UFPA

Ações integradas de ensino, pesquisa e extensão da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará - em atividade desde maio de 2010. Prêmio Prática Inovadora em Gestão Universitária da UFPA em 2012. Corpo editorial responsável pelas publicações: Aristoteles Guilliod, Fernando Marques, Haroldo Baleixe, Igor Pacheco, Jô Bassalo e Márcio Barata. Coordenação do projeto e redação: Haroldo Baleixe.
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2 respostas para Avenida Primeiro de Dezembro

  1. Suas informações são preciosas e serão repassadas aos discentes e outras pessoas.
    Abraço, Euler Arruda.

  2. Msc. Arq. Urb. Stelio Santa Rosa disse:

    O pequeno monumento erigido em estilo gótico bem como o altar para a missa na década de 80 na Av.1º de Dezembro com a Trav.Mauriti são de minha autoria e o primeiro teve como figura principal o papa João Paulo II gravada em chapa metálica baseado em um cartaz que fiz para a páscoa da UFPa o qual foi enviado ao Vaticano.

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