Marca Belém 400 Anos — o polêmico concurso da PMB

Haroldo Baleixe

A Prefeitura Municipal de Belém — Edital nº01/2015-COMUS — realizou a etapa do concurso público à marca BELÉM 400 ANOS que selecionou as cinco propostas concorrentes a 30 mil Reais em prêmios (1ª colocação 20 mil, 2ª 6 mil e 3ª 4 mil).

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As logomarcas acima são as finalistas, apontadas por Comissão Julgadora “… composta por 10 (dez) profissionais de renome…”, que figuravam no site Agência Belém com objetivo de classificação por sufrágio popular online.
A votação saiu do ar em “… virtude da identificação do uso indevido de nomes e números de CPF, o que poderia beneficiar uma marca em detrimento de outras, comprometendo assim, a lisura do concurso.”; agora, em teste (“A nova data para votação será entre os dias 8 e 10 de julho.”), o e-mail do internauta pretende ser a chave da segurança, mesmo que alguns possuam diversas arrobações.
O DiárioOnLine publicou a matéria Associação aponta erros em concurso da Prefeitura  na qual um conjunto de designers reivindicou direito exclusivo à participação no certame da PMB,  expurgando o espectro da concorrência laica.
A Associação dos Designers Gráficos do Brasil (ADG Brasil) clama por reservar um mercado quando diz que “… é impossível imaginar a Prefeitura lançando um concurso para a realização de um projeto técnico de engenharia, ou mesmo arquitetura, aberto a todos os cidadãos brasileiros. O mesmo vale para o Design.”.
Arquitetura e engenharia, mal pensadas e executadas, matam — tal qual ocorre no torpe exercício da medicina —; todavia, pelo que se entende no Edital, não há propósito em licitação de lifting facial no prefeito, apenas um signo gráfico que sinalize a passagem dos 400 anos de uma cidade que nada tem a comemorar daí a livre prática da zombaria e do grotesco no grupo Concurso Belém 400 Logos do Facebook em contraposição ao discurso cartelista da ADG Brasil.
Qualquer resultado que advir da competição da PMB demonstrará que os designers gráficos brasileiros não raciocinaram Belém de maneira mais experta (ou esperta) que os indivíduos comuns; caso contrário teríamos “formas surpreendentes”, como estabelece o quesito criatividade, primeiro componente dos critérios técnicos e artísticos do Edital.
Se a intenção fosse escolher um jingle, do mesmo modo seria pertinente a participação do povo; afinal: qualquer cidadão tem capacidade e possibilidades de criar pelo assobio, batuque, estalos, palmas, etc.; mesmo que nada entenda do riscado musical.
Toda prepotência é excludente e démodée.

Opinião assinada: Haroldo Baleixe.

Sobre o Projeto Laboratório Virtual - FAU ITEC UFPA

Ações integradas de ensino, pesquisa e extensão da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará - em atividade desde maio de 2010. Prêmio Prática Inovadora em Gestão Universitária da UFPA em 2012. Corpo editorial responsável pelas publicações: Aristoteles Guilliod, Fernando Marques, Haroldo Baleixe, Igor Pacheco, Jô Bassalo e Márcio Barata. Coordenação do projeto e redação: Haroldo Baleixe.
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8 respostas para Marca Belém 400 Anos — o polêmico concurso da PMB

  1. Será bastante divertido saber que todas essas cinco marcas do concurso da Prefeitura de Belém foram feitas por designers profissionais com carteirinha da ADG Brasil.
    Pelo jeito de usar o manjado e batido a maioria é de fora do Estado porque parauara tem mais conteúdo sobre o lugar.
    O edital do concurso é muito legal, inclusive abre oportunidade para menores de idade, até dá passagem e hospedagem para responsável acompanhante no caso do premiado não morar em Belém.
    Esse concurso devia ter sido restrito mesmo, mas aos alunos do ensino fundamental do município e o prêmio pago para as escolas que deviam apresentar propostas comunitárias provocando o interesse da garotada sobre geometria, tipografia, uso de programas gráficos e tudo mais.
    O erro foi terem chamado de marca, isso mexeu com os brios dos designers (os designados por Deus) gráficos.
    Bastava UM DESENHO PARA OS 400 ANOS DE BELÉM, depois a prefeitura chamava os técnicos para formatarem a ideia da meninada mais esperta.
    Fico pensando se aqueles cabocos que abrem letras em barco não tinham direito de participar do concurso, aqueles que fazem as tais Letras Flutuantes.

    Quem quiser venha ver
    Mas só um de cada vez
    Não queremos nossos jacarés
    Tropeçando em vocês

  2. Fui no Face e vi as discussões cheias de mágoa contra ti Baleixe. Nem quis me meter.
    Minha opinião é que há trabalho para os profissionais em artes gráficas quando eles são bons de verdade.
    Não adianta se esconder atrás de um diploma porque criação não é para qualquer um, tem de ter feeling, trocar ideias e ser mesmo surpreendente.
    Nessas profissões o cliente indica porque ficou feliz com o resultado.
    Vejo também que tem uma galera misturando identidade visual com programação visual para algo que durará um ano.
    Se eles tivessem fechado o concurso para os designers numa hora dessas eles estavam se mordendo na piscina vazia.

  3. Jobson disse:

    Medo de que manus, vocês não são os fodões do design?
    Então véio é vocês na cabeça, os donos da boa aplicação dos kerning.
    E as idéia? Bacana?
    Comemora, né?

  4. Acácio Adrielson disse:

    Quatro pontos.
    A) Sobre o direito de comunicar. Bom, eu sou publicitário e militante da educomunicação. Acredito que todxs temos tal direito (seja por um texto, fala ou imagem). A base do concurso é a criatividade e isso é faz parte do ser humano, logo todxs teríamos condições de livre expressão criativa. O grande problema é que a sociedade não é educada para produzir comunicação. Às vezes a pessoa tem ideias maravilhosas, mas não tem competência técnica para transcrevê-la graficamente. Essa polêmica toda me ajudou a refletir sobre o quanto a gente precisa entender o design que emana do povo (o que não foi contemplado no concurso) e tbm o quanto o papel social do designer precisa ser compreendido. Caberia à PMB elaborar outras estratégias de interação gráfica com sociedade, talvez um concurso de cartazes, fotografias e ilustrações que seriam assinados com a marca base oficial, por exemplo.
    B) Sobre a representatividade. Talvez tenham aparecido outras propostas de marca mais inovadoras e interessantes no concurso, mas a banca avaliadora formada por “profissionais de renome” preferiu manter o clichê do que se convencionou representar Belém. A publicidade de Belém é entranhada de clichês e ideias superficiais. Não é por falta de profissionais talentosos, mas pela práxis do mercado local.
    C) Sobre o campo da Comunicação Social. A profissão do designer parece não ser vista com seriedade pela sociedade. As escolas de comunicação parecem ser omissas nas discussões sobre a precarização dos estágios, lacunas na legislação trabalhista e no aprimoramento da atuação profissional dos egressos. É tão grande essa omissão, que um debate super sério sobre um concurso de design gráfico está sendo levantado por um blog de uma faculdade de arquitetura.
    D) A Comunicação mal executada também mata. A partir da opinião do Haroldo Baleixe eu lembrei do meu primeiro dia de aula quando foi-me dito que o erro do advogado era preso, o do médico era enterrado e o do comunicador era publicado. A única coisa que posso falar sobre isso é que uma marca mal elaborada aborta sonhos, ideias e interações. Isso independe se o símbolo gráfico for comemorativo, ou não.
    (Para reflexão) Sobre cartelismos. A discussão e formação de Conselhos de Comunicação no Brasil ainda está em estágios iniciais, mas para ilustrar a dinâmica da representatividade profissional, eu farei um contraponto entre a ABD e o CREA. Se a ADG faz alguma intervenção no campo da comunicação é taxada de cartelista e comprometedora da participação e do conhecimento popular. No entanto se experimentarmos contratar algum pedreiro (com conhecimentos populares) para construir algo em nossas residências e não pagarmos a pela “assinatura” de um profissional filiado ao CREA não poderemos concluir a construção.
    É óbvio que “liberdade de expressão” não é igual a “liberdade de construção civil” (e nem deve ser), mas é muito cômodo falar do campo de atuação do outro quando o seu está legalmente salvaguardado.
    Obrigado,
    Acácio.

  5. Paulo Roberto Santos disse:

    Porra Haroldo tô rindo muito do teu texto porque não notaste que a ADG BRASIL e o Grupo 400 Logos são um só por mais que não pareça.
    Deve ter sido erro de estratégia deles o face e o jornal porque virou um tiro no pé já que estão mostrado os dentes e até querem te linchar.
    Tenho medo de profissionais coléricos.
    Cuidado com a vida.

  6. fauitec disse:

    Observamos que o Blog da FAU está disponível à publicação de comentários não ofensivos, seja a pessoas ou instituições.
    Também é possível publicar opiniões desde que assinadas e com fotografia do autor, obedecendo aos mesmos critérios acima citados; para tanto, basta fazer a solicitação neste espaço virtual (com as informações corretamente escritas) que a responderemos por e-mail enviando as orientações detalhadas ao post futuro.
    Obrigado,
    Haroldo Baleixe.

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