O Chalé de Ferro da FAU-UFPA pertenceu ao cônsul da Alemanha e Holanda: Gustav Grüner

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É lugar comum que o Chalé de Ferro montado às margens da Estrada de Bragança, às proximidades do Largo de São Brás, pertencera ao cearense Álvaro Adolpho da Silveira que ingressou na política como deputado estadual no Pará com mandato de 1912 a 1916; depois, entre 1924 e 1930, elegeu-se senador estadual (PA) — Adolpho cumpriria, também pelo Pará, duas legislaturas consecutivas no senado federal entre 1946 e 1959 falecendo aos 76 nessa atividade legislativa.
A questão é: quando, e por quanto tempo, o senador morou no Chalé da Tito Franco? já que em 1893, anunciada a (suposta) primeva venda do chalé, estava ele com apenas 10 anos de idade.
A mensagem do governador Dionysio Ausier Bentes, datada de 07 de setembro de 1928, afirma que aquele chalé, de origem belga, fora “adquirido pelo governo e convenientemente adaptado para o fim escolar” inaugurando-se, em 03 de maio de 1928, o 9º Grupo (escolar) Epitácio Pessôa — tal informação revela que a Escola de Arquitetura da Universidade do Pará não fora a primeira atividade educacional ali hospedada.
O Epitácio Pessoa agrupava 3 escolas primárias isoladas da vizinhança que foram extintas e somadas a duas novas e mistas: uma elementar e outra complementar — naquele lugar matricularam-se em 1928 trezentos e catorze estudantes sendo 135 do sexo masculino e 178 do feminino nos três turnos.
Entre a inauguração do 9º Grupo (1928) e o aluguel ao funcionamento da Escola de Arquitetura (1963) da Universidade do Pará passaram-se 35 anos, dos quais, é muito pouco provável que o senador Álvaro Adolpho tenha lá residido antes de sua morte, em 1959; o que nos faz supor que sua morada fora anterior à aquisição do chalé e implementação do Epitácio Pessôa; quiça: não tenha o próprio senador estadual vendido sua casa ao governo estadual de Dionysio Bentes:

Combate

Mas… regressemos no tempo:

cfA nota (ampliável) de O Democrata de 06 de julho de 1893 nos faz acreditar ser a primitiva venda do Chalé de Ferro já que a Architectura do Chalet é objeto raro nesta cidade.

F N

Pouco mais de três anos a Folha do Norte de 21 de outubro de 1896 anuncia, de modo sui generis, a venda do Chalet de ferro “no palacete estadual”.

Gustavo Grüner

O Pará de 14 de setembro de 1898 mostra, enfim, um dono (em coerência histórica) do Chalé de Ferro da Estrada de Bragança: Gustav Grüner.

Rastreando Grüner saber-se-á, pelo Almanck do Estado do Pará 1904-1905, que ele fora cônsul da Holanda e; pelo Almanack Administrativo, Mercantil e Commercial do Rio de Janeiro: vice-presidente da Associação Commercial do Pará em 1909.
O Século de 03 de abril de 1908 diz: “Não se acredita geralmente que o consul allemão, sr Gustavo Gruner, tenha impedido a creação, defendendo seus interesses e dos baixistas*.” “de uma agencia, neste Estado, do Branco do Brazil.”; afinal Gustav Grüner (ou Gustavo Gruner) era sócio da Schrader, Gruner & C.ª, firma representante da Seligman Brothers de Londres, com a qual o Estado do Pará contraíra empréstimos externos às obras da Estrada de Ferro de Bragança, segundo a situação financeira relatada por Augusto Montenegro em 1907.
Como trataremos, a partir de agora, o Chalé de Ferro da FAU-UFPA: ex-Gustav Grüner ou ex-Álvaro Adolpho?
Não esqueçamos que ainda há a possiblidade de ex-Epitácio Pessôa.

*Operadores de câmbio.


Postscriptvm: em Chalé de Ferro da Imprensa Oficial do Estado é possível distinguir a dinâmica da utilização dada ao outro chalet de ferro, também belga, no decorrer do século XX; ambos montados na mesma Estrada de Bragança (Tito Franco/Almirante Barroso) com a finalidade original de residência afastada do centro urbano.
Em outras palavras: não confundimos os chalés:

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Sobre o Projeto Laboratório Virtual - FAU ITEC UFPA

Ações integradas de ensino, pesquisa e extensão da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará - em atividade desde maio de 2010. Prêmio Prática Inovadora em Gestão Universitária da UFPA em 2012. Corpo editorial responsável pelas publicações: Aristoteles Guilliod, Fernando Marques, Haroldo Baleixe, Igor Pacheco, Jô Bassalo e Márcio Barata. Coordenação do projeto e redação: Haroldo Baleixe. Membros da extensão do ITEC vinculada à divulgação da produção de Representação e Expressão: Dina Oliveira e Jorge Eiró.
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5 respostas para O Chalé de Ferro da FAU-UFPA pertenceu ao cônsul da Alemanha e Holanda: Gustav Grüner

  1. Bassalo disse:

    Grande Blog, grande Haroldo…

  2. Ronaldo Marques de Carvalho disse:

    Na história mais chegada aos tempos do poente do segundo milênio, tendo sido o velho chalet passado ao clube Monte Líbano, um novo nome surge com a presença de Euler Santos Arruda, que ao prestar serviço ao clube, recebe como honorário esta Relíquia Metálica. Sem pestanejar demais presenteia à UFPA endereçado ao Curso de Arquitetura o tão “anunciado” edifício de outrora que agora, remontado ao lado do Atelier da FAU sob um bosque original de num ambiente do tropico-úmido, espera seu novo destino.
    Parabéns Prof. Haroldo Baleixe pela excelente busca de novas minúcias do passado, desse ente Arquitetônico hoje chamada “Chalé de Ferro da FAU”.

    • Paulo Andrade disse:

      Sem dúvidas, o chalé de ferro onde funcionou a querida Escola de Arquitetura (era assim chamada naqueles anos 1960) pertenceu ao her Gustav Grüner. Hoje o chalé está no campus da UFPA no Guamá.

      É o nosso arquiteto sempre romântico e poeta Ronaldo Carvalho nos faz lembrar o colega Euler Arruda e seu ato autruísta e não despresível de doar a bela e histórica edificação à nossa FAU.

  3. Se o Álvaro Adolpho era um bandido…

  4. Paulo Andrade disse:

    É bem sustentada a pesquisa
    Acredito que a conclusão está correta

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