“Polêmica obra-prima de Kubrick ainda é um filme obrigatório para qualquer um que goste um pouquinho de cinema.
É difícil para as gerações mais novas compreenderem filmes como Laranja Mecânica em sua totalidade. Isto pelo simples fato de não terem acesso ou lembranças do impacto que o lançamento de obras como a de Kubrick causaram em suas épocas. O mundo era muito diferente quando Laranja Mecânica chegou aos cinemas e, de certa forma, o próprio cinema era muito diferente. Porém, conquanto muito tenha mudado desde então, estas obras conseguem manter-se atuais ao longo dos anos, em grande parte devido às suas mensagens atemporais. É essa longevidade que caracteriza um clássico.
Roteirizado pelo próprio Kubrick a partir da obra literária de Anthony Burgess, Laranja Mecânica segue a trajetória de Alex, um jovem morador de alguma cidade inglesa em um futuro próximo. Na companhia de seus amigos, ou drugues, como o chama, Alex tem o costume de praticar atos de violência, como estupro, espancamento e até assassinato por simples prazer. Porém, quando capturado pela polícia, Alex é submetido a um tratamento inovador que busca eliminar o instinto violento de criminosos como ele.
Laranja Mecânica tem mais de 30 anos de existência e, mesmo assim, conta-se nos dedos os filmes que conseguem ser tão completos quanto ele. Mais do que um impecável exemplo de utilização da técnica cinematográfica, Laranja Mecânica consegue levantar uma série de questões de cunho social e filosófico, constantemente indagando o espectador sobre diversos assuntos.
O roteiro brilhantemente construído por Kubrick é de uma riqueza impressionante. Pontuado por uma incômoda ironia, o cineasta apresenta um mundo que, superficialmente, difere em muito do nosso, mas traz em sua essência os mesmos valores e problemas que enfrentamos, tanto hoje quanto na época de lançamento no filme. Desta forma, ao situar a trama em algum ponto indefinido do futuro, Kubrick realiza uma espécie de sátira, repleta de humor negro, para transmitir sua contundente mensagem.
Ao contrário do que muitos já disseram, Laranja Mecânica não é um libelo contra ou mesmo a favor da violência. A trama do filme não se posiciona a este respeito, preferindo apenas mostrar que a violência é algo intrínseco ao ser humano e, por fazer parte de seus instintos básicos, não adianta reprimi-la.
Mas a trama não versa unicamente sobre a violência. Ao longo das mais de duas horas de produção, Kubrick encontra espaço para tocar em temas como a liberdade de cada pessoa dentro de uma sociedade ou mesmo a influência que o meio provoca sobre o indivíduo. Na primeira questão, Kubrick envereda por um assunto semelhante ao levantado pelo recente Minority Report: até que ponto pode-se ceder a liberdade em prol de um bem maior? Qual seria o limite? Em certo momento, um dos personagens afirma: “Quando um homem não pode escolher, deixa de ser homem”.
Mas tão importante quanto o que Laranja Mecânica tem a dizer é a forma como Kubrick diz. Assim toda obra do diretor, a narrativa é irrepreensível, contando com um requinte visual e um domínio da técnica cinematográfica que talvez ainda não tenha sido igualado por outro cineasta. Sabe-se que Kubrick era perfeccionista ao extremo e tal dedicação é percebida em cada instante de Laranja Mecânica.
Desde a impecável cena inicial com Alex olhando fixamente para a câmera ao final aberto a interpretações, Laranja Mecânica parece ter sido concebido com muita calma e preciosismo. A impressão que fica é a de que cada plano – e, conseqüentemente, cada gesto dos atores e objetos colocados em cena – foi exaustivamente estudado, ponderando a participação dos mínimos detalhes que aparecem na tela. Kubrick tem a capacidade de tirar o máximo de cada tomada. É a forma completando o conteúdo.
Assim, Laranja Mecânica possui seqüências brilhantemente concebidas e executadas, trazendo imagens que já se tornaram icônicas. Imagens como a de Alex no tratamento Ludovico, com os olhos arregalados, ou o espancamento ao som de Singin’ in the Rain ou Beethoven se tornaram parte do imaginário da cultura ocidental.
A música, aliás, como é comum nas obras de Kubrick, é parte essencial de Laranja Mecânica. O cineasta é capaz de encontrar a sinergia perfeita entre imagem e som, como fica claro nas cenas comentadas no parágrafo acima. Mais do que isso, em Laranja Mecânica a música ainda faz parte da história, uma vez que o personagem é devotado a Beethoven e fica proibido de escutar o mestre após passar pelo tratamento.
Sendo Laranja Mecânica um filme mais de história e forma do que de personagens, há pouco espaço para os atores brilharem. O único que recebe devido tempo em tela para isso é Malcolm McDowell, no papel de Alex, e ele encarna a oportunidade com grande devoção. Seu Alex passa pelos mais diversos estados de espírito e o ator transita entre as diversas mudanças com talento. Reparem na diferença entre o Alex do início do filme, o Alex da prisão e o Alex perdido, após a cena em que ele é recusado por seus pais quando volta para casa.
Polêmico (há uma cena em que o protagonista se imagina flagelando Cristo na cruz), Laranja Mecânica é um filme obrigatório de ser assistido. Certamente, nem todos irão gostar e menos irão entender tudo aquilo que Kubrick quis dizer com a obra. Esta, porém, é uma das grandes qualidades de Laranja Mecânica: além da técnica e da narrativa irrepreensíveis, o filme levanta muitas questões e é passível de múltiplas interpretações. Resta ao espectador tirar as suas.” (Sílvio Pilau)
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Filme maravilhoso, sem dúvida. Atemporal porque coloca em foco a violência, ou melhor, o desvio do que seria considerado socialmente o bom comportamento humano. A violência em duas versões: na delinquência de Alex, por um lado; e na lavagem cerebral feita neste personagem pelo sistema de regulação social que parece nos dizer: Vamos igualar o comportamento pelo critério do exemplar com vistas ao bem social. Entre estas duas forças poderosas, a opressão sobre o cidadão comum no exercício do livre pensar, bem evidenciada pelo escritor e sua mulher, numa casa povoada de lindas obras de arte. A música usada como “senha assobiada” da memória, com “Singin’ in the Rain”. Com certeza, com tantas sutilezas, o destino deste filme era mesmo o de ser um clássico.