“Waiting For ‘Superman’” revela decadência do sistema educacional norte-americano
Premiado no Festival de Sundance, documentário acompanha o drama de cinco crianças em escolas norte-americanas
“Vocês estão animados com o que vamos fazer hoje?”, pergunta um professor à sua classe de alunos primários. “Sim”, respondem os alunos em uníssono. O assunto de “Waiting For ‘Superman’” (ainda sem título no Brasil), o novo filme de Davis Guggenheim – que venceu o Oscar de melhor documentário por “Uma verdade inconveniente” –, é essencialmente essas crianças, e quanto tempo levará para que o sistema educacional norte-americano leve seu interesse pelo aprendizado à extinção.
As estatísticas são assombrosas: os gastos com educação nos Estados Unidos aumentaram para US$ 9 mil por estudante nos dias atuais, contra US$ 4.300, em 1971. Entretanto, os resultados em matemática e alfabetização mantiveram-se estáticos. Os Estados Unidos ocupam o 25º lugar em matemática e o 21º em ciências no ranking dos 30 países mais desenvolvidos do mundo, e a média de proficiência escolar na maioria dos estados está entre 20% e 30%.
Para compensar (e apresentar) os escabrosos efeitos desses fatos, “Waiting For Superman” se concentra em cinco crianças de diferentes idades e circunstâncias de vida. O que os jovens têm em comum é um interesse pelo aprendizado que é prejudicado por escolas superlotadas, péssimos professores, e falta de atenção dos administradores. O filme contextualiza suas histórias, entrevistando uma série de carismáticos proponentes de reformas educacionais, incluindo Michelle Rhee, uma polêmica defensora do sistema público em Washington, e Geoffrey Canada, um visionário, cuja organização, a Harlem Children’s Zone, conseguiu um impressionante sucesso em convencer os jovens a lutar por uma educação universitária.
Canada e Rhee apontam os maus professores como o principal problema que assola o sistema educacional. Enquanto um bom professor consegue dar conta de 150% do currículo obrigatório, o filme mostra que os maus professores podem lecionar somente cerca de 50%. Como o atual sistema de permanência – apoiado pelos sindicatos – não faz distinções entre profissionais bons e ruins, mesmo os piores professores conseguem um cargo vitalício. Jonathan Alter, editor da revista “Newsweek”, entrevistado no filme, coloca de maneira bem clara: “os sindicatos são uma ameaça e um empecilho para as reformas”.
Mas deixando a política de lado, é só observar as decadentes escolas do país para perceber que a reforma é extremamente necessária. Uma escola superlotada no Bronx se assemelha a um centro de detenção. Quando pedida para descrever a sala de aula em que seu filho estuda, uma mãe diz que ela evoca sentimentos de impotência, do tipo “por que se importar?”. “Para as crianças nessas escolas”, diz Canada, “o mundo é um lugar frio e sem coração, pois elas são negligenciadas e não fazem ideia do porquê”.
Embora deprimente em muitos momentos, “Waiting For Superman” é um filme estimulante. Oferece soluções – não que sejam as ideais, mas pelo menos são soluções – e apresenta exemplos de ensino excelente em escolas públicas independentes que os reformadores desejam emular. Também se mantém ao lado dessas cinco crianças – que merecem, por seus próprios esforços, ser bem sucedidas na escola.
No entanto, os obstáculos estão por toda parte. Rhee, uma das reformadoras mais ativas do filme, recentemente perdeu seu emprego, com a derrota do prefeito de Washington, Adrian Fenty, nas eleições primárias do Partido Democrata. O vencedor da disputa, Vincent Gray, tem como um de seus principais aliados o sindicato dos professores (que doou US$ 1 milhão para sua campanha).
“Waiting for Superman” venceu o prêmio de melhor documentário no Festival de Sundance de 2010. O documentário teve seus direitos de distribuição comprados pela Paramount, e estreia nesta sexta-feira, 8 (de outubro de 2010), nos Estados Unidos. (Fonte: Opinião e Notícia)
Acesse AVALIAÇÃO EDUCACIONAL (Blog do Luiz Carlos de Freitas, professor titular da Faculdade de Educação da UNICAMP).