Certamente, algo nada épico como o grito do Ipiranga pintado por Pedro Américo aconteceu no dia 3 de fevereiro de 1940, em Belém. No entanto, naquele dia, uma ação individual, como a de dom Pedro, no quadro do pintor, pareceu mover a História: a ação discreta e singela de matrícula de uma aluna numa escola. Olhada, agora, com o distanciamento de 69 anos, aquela ação mostra, claramente, sua força na derrubada de uma barreira que desde a fundação de Belém, em 1616, afastara as mulheres da História dos Construtores da Amazônia por 324 anos.
Havia, sem dúvida, uma atitude de ousadia, na decisão daquela jovem de 18 anos de idade, chamada Helena Chermont Roffé de, naquele dia, se matricular na Escola de Engenharia do Pará-EEP, mesmo que ela não pudesse dimensionar o alcance do seu ato. Nenhuma mulher havia entrado na já, então, longa História do Ensino de Engenharia na Amazônia. Nos anos de 1600 e 1700, apenas rapazes estudaram Engenharia nas chamadas Aulas Militares. Quando jovens paraenses foram enviados pelo Governo do estado para cursar faculdade de Engenharia Civil, na Europa, nos anos de 1800, não havia uma única estudante entre eles. Tampouco havia quando, ainda naquele século, jovens ricos do Pará conseguiram vagas no Instituto Politécnico do Rio de Janeiro.
Se não podia ter uma visão histórica, Helena, de qualquer forma, tinha consciência de que todas as turmas da EEP permaneciam exclusivamente masculinas, desde a criação da escola, nove anos antes, porque os jornais divulgavam as aprovações de candidatos às suas vagas.
Mesmo consciente disto, Helena nem de longe chegou à EEP com a aparência dura das caricaturas das feministas militantes dos anos de 1970. Seus olhos e cabelos eram castanhos, como mostra sua foto na carteira de identidade entregue por ela à secretaria da escola. Ela era, sem dúvida, uma jovem bonita, cuja letra na assinatura daquele documento é redonda, pequena, feminina. Em outro documento igualmente entregue à EEP, seu histórico escolar emitido pelo Ginásio Parense, podem ser notadas outras características suas. Nele, há uma única nota mediana: 64, em Matemática. Em compensação, Helena obteve, naquele ginásio, 82 em História Natural, 86 em Geofísica, 90 em Física, 92 em Química, 99 em Psicologia e Lógica, e, 100 em Sociologia e em Desenho. Era, portanto, inteligente e dedicada aos estudos.
Estas duas características, Helena iria manter ao longo dos cinco anos nos quais permaneceu como a primeira aluna a se matricular numa Escola de Engenharia do Pará. Quando já estava formada engenheira – a primeira no Pará -, ela podia exibir no seu currículo acadêmico – em meio a uma única nota 6 (em Resistência de Materiais), e a duas notas 7 (em Hidráulica e Estabilidade das Construções) -, oito notas 8, dez notas 9, e, quatro notas 10 (em Cálculo Infinitesimal, Geometria Analítica, Física, e, Portos de Mar, Rios e Canais).
Entre os estudantes da EEP, Helena foi a única mulher, durante dois anos. Só passou a ter cumplicidade feminina em 1942, quando uma outra jovem teve uma ousadia semelhante a dela. Chamava-se Angelita Ferreira da Silva. Hoje, a irmã de Angelita, Maria Sylvia Nunes, a descreve assim: uma pessoa dotada de personalidade forte, sempre atraída pela Matemática. “Angelita não encontrou nenhuma dificuldade dentro de nossa família para cursar Engenharia Civil”, revela Maria Sylvia. Além de engenheira, Angelita tornou-se uma personalidade conhecida do movimento teatral paraense, como a própria Maria Sylvia, cujo nome foi dado ao teatro da Estação das Docas.
Faltava apenas um ano para Helena se formar (e três, para Angelita), quando surgiu a terceira aluna da EEP: Maria Nilza e Silva. Ex-aluna brilhante do Colégio Moderno, na EEP, Maria Nilza se tornou uma eficiente monitora das aulas de Física, ministradas pelo professor Djalma Montenegro. Chegou a dar aulas de reforço para seus colegas em dificuldades naquela disciplina.
Helena, Angelita e Maria Nilza já faleceram. Em 1957, a EEP foi incorporada à UFPA e se desdobrou em 11 cursos de Engenharia. Mas o efeito da coragem delas aparece, atualmente, nos dados de matrículas da UFPA. Em todos os cursos de Engenharia da instituição, a presença feminina passou a ser constante e crescente. Em 2008, por exemplo, havia 44 alunas na faculdade de Engenharia Elétrica, 28 na de Engenharia Mecânica, 37 na de Engenharia Sanitária e Ambiental, e, 111 na de Engenharia Química. Na faculdade que se manteve mais próxima daquela cursada pelas três primeiras engenheiras do estado, a de Engenharia Civil, havia 154 alunas, naquele ano.
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Prazeiroso este site e felicíssima a ideia de dar relevância aos feitos femininos durante todo o mês de março e não somente no DIA 08, como se mulher fosse um evento e não a mãe ou filha de algum homem – esposa é escolha, não conta, essa que receba suas flores e um anel na próxima quinta.
Gostaria de dar parabéns ao trabalho do professor Oswaldo Coimbra que se preocupa minuciosamente com os feitos femininos no ITEC (antiga EEP), além de resgatar as origens da engenharia com a Saga dos Construtores no Pará publicada aos domingos no Diário.
Precisamos da História para nos valorizar.
O HOMEM (sentido amplo) que rechaça o seu passado é apenas um idiota incapaz de mover uma roda de isopor.
Angelita Silva, uma das primeiras Engenheiras do Pará,mas tinha a visão estética de uma grande Arquiteta,estudante de Arquitetura em 1968 a conheci,privei por aprximadamente 40 anos de sua amizade,a casa que morou projeto de sua autoria possue estas referencias e soluçoēs do seu conhecimento,como Gaudí, Corbursier,Oscar, Lucio Costa ,enfim o seu conhecimento da nova Arquitetura que se iniciava na época,Viva minha amiga DADÁ, para os íntimos.
Olá, estou realizando uma pesquisa e gostaria de saber mais sobre a professora Angelita.
Como posso entrar em contato com o professor Edilberto? Obrigada