A universidade no Brasil está distante dos problemas cotidianos mais relevantes das cidades. Não importa de quem é a culpa; melhor resolver o problema.
Duas iniciativas surgem nessa direção. Nos dias 23, 24 e 25 de agosto, será realizada a 1ª Feira de Inovação e Empreendedorismo, a USPiTec. Vai divulgar pesquisas nas áreas de química, física, ciência e tecnologia aplicadas aos benefícios para a sociedade. E o projeto USPocupa, composto por sete faculdades, realizará um concurso virtual para eleger as 12 melhores ideias uspianas para transformar a cidade.
A USPiTec não tem foco nos problemas da cidade. Destaca em sua divulgação exemplos de pesquisas como tratamento inovador para micoses, o “nariz eletrônico”, capaz de determinar qualidades de madeira, impedindo que se transporte espécie proibida de exploração, como o mogno, que muitas vezes passa por cedro diante de uma fiscalização leiga.
Nada a opor. Contudo, eles mostram que as pesquisas que serão exibidas têm mais a ver com questões específicas levantadas pelos pesquisadores do que a preocupação em criar um eixo com a cidade.
É um passo a unir saber acadêmico e sociedade. Cabe dar outro na direção da identidade com São Paulo. Vale para cada universidade e sua cidade de origem.
O USPocupa ainda está enfrentando problemas técnicos com o site. Porém, é “direto na veia” do que precisamos. Como ideia. Restaria transformar em projetos reais.
Creio que só projetos objetivos, vinculados ao dia a dia, como o problema com as calçadas, que vitimam cerca de 100 mil pessoas/ano, enchentes como as do Jardim Pantanal, questões ligadas à mobilidade, em especial ao trânsito, criariam uma ligação direta e imediata. Porque a população sentiria mais rapidamente que a universidade pode produzir saber concreto para resolver as dificuldades que enfrenta na pele todo dia.
Um centro de pesquisas e inovações ao lado da USP, composto por alunos que estejam nos dois últimos anos de seus cursos e de recém-formados com vocação para a pesquisa seria o ideal. Consolidaria o vínculo universidade-cidade.
Esse centro teria participação de empresas que produzem ou se utilizam de tecnologia nessas áreas. E também do poder público, sem que este seja o controlador. O centro deve ter independência gerencial.
Há projetos práticos que aparecem nas universidades por iniciativa de alunos e professores que não chegam ao poder público ou são por ele desprezados, exatamente por falta dessa tradição e da inexistência de um órgão não governamental que concretize essa ponte.
É um desperdício de inteligência. E de gente que se formou em faculdades públicas e deseja retribuir com ideias e projetos. Tudo isso se esvai, por conta da desconexão.
Universidade, empresas, poder público e organizações sociais precisam ter projeto conjunto, permanente e organizado para transformarem a cidade. Já passou da hora.
Temos competências, ilhas de excelência em todos esses setores, mas não há um sistema para resolver problemas que nos afetam. Alguns mais simples do que pensamos.
Ficar esperando que o poder público resolva tudo ou tome todas as iniciativas é abraçar a frustração.
A melhor coisa que os estudantes fariam nessas eleições seria induzir um processo de ligação entre a universidade e a cidade. O poder público iria respeitá-lo imediatamente.
*José Luiz Portella Pereira, 58, é engenheiro civil especializado em gerenciamento de projetos, orçamento público, transportes e tráfego. Foi secretário-executivo dos Ministérios do Esporte e dos Transportes, secretário estadual dos Transportes Metropolitanos e de Serviços e Obras da Prefeitura de São Paulo e presidente da Fundação de Assistência ao Estudante. Formulou e implantou o Programa Alfabetização Solidária e implantou o 1º Programa Universidade Solidária. Escreve às quintas-feiras. Faz comentários no “RedeTVNews” e na rádio CBN.