Estádio Municipal de Belém ― na cola do Pacaembu; por José Maria Coelho Bassalo

BassaA imagem daquilo que seria o Estádio Municipal de Belém nos permite deduzir uma possível referência utilizada por Davi Lopes e Augusto Meira Filho para a concepção do projeto: O Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho – o Pacaembu, em São Paulo.
Penso ser essa uma inferência verossímil por conta de questões como cronologia e semelhanças constatadas pela comparação dos dois projetos.
No texto orginalmente publicado em “A Província do Pará”, ao expressar que “sabe-se do tipo internacionalmente adotado de arquibancadas em forma de anfiteatro…”, Augusto Meira Filho denota familiaridade com estádios anteriormente construídos, dotados de partido arquitetônico semelhantes. O Pacaembu, projetado pelo renomado Escritório Ramos de Azevedo, foi inaugurado, com ampla divulgação na imprensa, em 1940, sete anos antes da apresentação do complexo esportivo belenense. Tal sequência temporal torna possível, portanto, que nossa dupla de projetistas tivesse conhecimento da configuração do modelo paulista, fazendo-se admissível a influência especulada.
Nossa tese, contudo, não se baseia apenas no provável conhecimento do exemplo precedente. Supomos que houve influência, sobretudo, pelas similitudes entre os dois estádios aqui tratados, ainda que percebidas somente pela análise das imagens que dispomos no momento.
O desenho publicado do Estádio Municipal de Belém nos permite identificar princípios, elementos e formas igualmente presentes no Pacaembu, dentre os quais, a nosso ver, afiguram-se como mais nítidos:
– Estádio como parte de um complexo esportivo maior, dotado de vários outros espaços (ginásio, piscina, escola, quadras externas, anfiteatro etc);
– Aproveitamento da topografia do local onde está implantado;
– Adoção de arquibancadas parcialmente cobertas, contínuas, em forma de ferradura ou anfiteatro;
– Lançamento da entrada principal sob a parte curva das arquibancadas;
– Presença de praça em frente à entrada principal;
– Existência de pista de atletismo;
– Presença de pequena colunata no topo das arquibancadas;
– Localização dos vomitórios apenas na parte curva das arquibancadas;
– Posicionamento central das tribunas, acessadas diretamente pela parte de cota mais alta do terreno;
– Erguimento de edificação adjacente ao acesso das tribunas;
– Uso de três torres laterais de iluminação;
– Evidenciação da estrutura na fachada principal curva (pilares à mostra).
Conforme se observa, é factual a verificação de similaridades entre os dois estádios, sobretudo se considerarmos que, em 1947, ainda não estava construído o “tobogã” (como é conhecido) do lado oposto à parte curva das arquibancadas do Pacaembu. Assim sendo, mesmo que com capacidade menor, como demonstra a contagem dos degraus das arquibancadas (31 no Pacaembu e 22 no Municipal de Belém), não nos parece absurdo depreender que a Cidade de Belém ganharia um estádio, se construído fosse, inspirado no precedente paulista.

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A perspectiva do projeto do Estádio Municipal de Belém de 1947 e foto atual do Estádio Municipal de São Paulo (inaugurado em 1940); mesma orientação N/S.

Para melhor entender o assunto leia Estádio Municipal de Belém ― complexo desportivo inexecutado.

Sobre o Projeto Laboratório Virtual - FAU ITEC UFPA

Ações integradas de ensino, pesquisa e extensão da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará - em atividade desde maio de 2010. Prêmio Prática Inovadora em Gestão Universitária da UFPA em 2012. Corpo editorial responsável pelas publicações: Aristoteles Guilliod, Fernando Marques, Haroldo Baleixe, Igor Pacheco, Jô Bassalo e Márcio Barata. Coordenação do projeto e redação: Haroldo Baleixe. Membros da extensão do ITEC vinculada à divulgação da produção de Representação e Expressão: Dina Oliveira e Jorge Eiró.
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1 respostas para Estádio Municipal de Belém ― na cola do Pacaembu; por José Maria Coelho Bassalo

  1. Excelente e oportuna análise. Concordo em gênero, número e grau. Afinal, nessa época ainda não existia a FAU-UFPA.
    Um abraço.

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