Estrada de Nazareth — a imperial rua de pau

corel160O recorte acima é de um texto de Walter Benjamin: Paris, a capital do século XIX.

Projeto Estrada de Nazareth

As imagens atuais do Google Maps e do Google Street View tentam ilustrar a publicação do jornal Diário do Gram-Pará de 23 de fevereiro de 1886; tal matéria dá a dimensão de uma obra pública licitada à pavimentação de 1.117,7 metros por 13,25 metros; ou seja: uma área de 14.809,525m² a ser calçada por setecentos mil paralelepípedos de madeira pela presidência da Província do Pará com dinheiro da monarquia (Brasil Império).
Emoldurando esse assoalho a céu aberto teríamos 2.235 metros (lineares) de bordadura de pedra calcarea fronteiriços aos 8.941,6m² de passeios de cantaria (tudo nas duas margens das quatro vias: estrada de Nazareth e circundantes do arraial).
As investigações, por ora,  não apontaram notas que revelassem a conclusão (ou inauguração) da obra urbanística hoje remanescente entre o largo da Memória e a antiga sede da Celpa — Centrais Elétricas do Pará —, que originalmente hospedou a companhia Urbana Paraense, embrião da Pará Electric; contudo: o Diário de Notícias de 25 de novembro de 1886 diz que “A presidencia mandou ao director da secção de obras públicas que examine o calçamento em Nazareth, onde existem, segundo consta, depressões ocasionadas por falta de leito preparado, e, caso verifique este facto, deve intimar logo os empreiteiros para repararem taes defeitos, cuja fiscalização fica á cargo d’essa secção.” — sabe-se, portanto, que o trabalho esteve efetivamente em execução.

O arquivo em pdf mostra cronologicamente recortes de alguns jornais que falam da pavimentação pelo uso de blocos (paralelepípedos) de madeira; todavia: os periódicos acabam por apontar que tal prática, mais econômica pela floresta nativa ao longo da Ferrovia de Bragança (que chegara a Apeú), durou poucos anos, sendo o arruamento de pau em Belém substituído gradativamente por paralelepípedos de granito.
Dentre as notas colecionadas há uma que se contrapõe a Benjamin:

maçaranduba 02

Afinal: George Eugène de Haussmann foi prefeito de Paris entre 1853 e 1870; já Luís Filipe I, Rei da França, citado por WB como o introdutor do calçamento com madeira em Paris, governou antes: de 1830 a 1848.


Postscriptvm (10/12/2015):

Acima o pdf que reproduz a fala do presidente da Província do Pará, Tristão de Alencar Araripe, no dia 25 de março de 1886, à Assembleia Provincial.
O texto resume a licitação, dá orientações técnicas à obra e estabelece as bases contratuais da empreitada.
O documento oficial se refere ao uso de paralelepípedos de maçaranduba nas dimensões 9X6X3 polegadas.


Postscriptvm (11/12/2015):

O Liberal do Pará nº57, de 10 de março de 1889, dá como concluídas as obras de Nazareth, na presidência de Miguel Pernambuco na Província do Pará, que solicita, à Assembléia Provincial, “consignação de crédito” para saldar a diferença de 35:658$230.
Na sequência do texto se lê críticas às atitudes do presidente, à secção de engenheiros (pelo orçamento e contrato) e à repartição de obras públicas (por receber as obras em 1888):

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 Esta pesquisa foi realizada na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional e no Center for Research Libraries GLOBAL RESOURCES NETWORK.

Sobre o Projeto Laboratório Virtual - FAU ITEC UFPA

Ações integradas de ensino, pesquisa e extensão da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará - em atividade desde maio de 2010. Prêmio Prática Inovadora em Gestão Universitária da UFPA em 2012. Corpo editorial responsável pelas publicações: Aristoteles Guilliod, Fernando Marques, Haroldo Baleixe, Igor Pacheco, Jô Bassalo e Márcio Barata. Coordenação do projeto e redação: Haroldo Baleixe. Membros da extensão do ITEC vinculada à divulgação da produção de Representação e Expressão: Dina Oliveira e Jorge Eiró.
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2 respostas para Estrada de Nazareth — a imperial rua de pau

  1. flavionassar disse:

    Belíssimo trabalho, camarada Baleixe.

  2. Paulo Andrade disse:

    Importante e surpreendente, Baleixe. Mas pelo apanhado – com bastante material pesquisado – é quase certo que a “rua de pau” sofreu muitos reclamos e certamente, em algum momento, foi refeita com a base tradicional do nosso piso e assentamento dos conhecidos paralelepípedos de granito.
    Ficaria bem se fosse encontrado ou identificado esse tal momento de supressão do piso de pau, pois suponho que hoje, de qualquer maneira, a base da av. Nazaré não é mais de maçaranduba.
    Parabéns pelo trabalho.

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