Arquitetura e Urbanismo da UFPA cai no ENADE (2014); por Juliano Ximenes

maxresdefaultFomos surpreendidos pela notícia da queda da nota do nosso curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo, no Exame Nacional de Cursos (ENADE). O curso havia subido da antiga nota 3 para a nota 4, no exame de 2011. Devemos lembrar que a escala do Ministério da Educação (MEC) vai de 1 a 5, e que a nota 3 é a mínima, considerada regular para efeito de avaliação.
Um curso com nota entre 3 e 5 pode abrir vestibular, novas vagas, anualmente. Quanto maior a nota do curso, publicamente, melhor ele será considerado, mais notória seria, em tese, sua “excelência”. Além disso, existem mecanismos institucionais objetivos que vinculam o número de vagas, o número de alunos que se formam, a existência de pós-graduação stricto sensu vinculada à graduação e a produção acadêmica (com seus vícios e virtudes) à liberação de receitas das unidades acadêmicas. Assim, há maiores orçamentos, tendencialmente, àquelas instituições melhor avaliadas pelo exame. Podemos discutir esse critério, que no fundo é uma maneira de reproduzir desigualdade, premiando os “melhores” (melhor e pior aqui não se livram de critérios discutíveis, não sendo portanto parâmetros absolutos, de modo algum) e mantendo os “piores” no estrato inferior.
Para os egressos, que se formam na escola de menor nota, o diploma não necessariamente vale menos, mas há uma indicação antiga do MEC de vincular, progressivamente, o ENADE a outros processos públicos, como o ingresso em Mestrado e Doutorado. O egresso de um curso nota 5 teria maior peso em uma seleção. Hoje, programas de pós-graduação inclusive recebem mais bolsas de estudo na medida da ascensão de seus conceitos (a CAPES-MEC avalia entre 1 e 7 os cursos de Mestrado/Doutorado).
No caso da FAU-UFPA, a notícia de queda da nota nos provocou, entre professores, tristeza. O diretor da FAU-UFPA, Fabiano Homobono, deve ter maiores elementos para explicar essa retração, mas penso que não seja o momento de procurar “culpados”. Devemos, ao contrário, nos unir em torno da elevação contínua da nota, mesmo que sejamos críticos à própria existência e função do exame – o que seria meu caso, pessoal, por exemplo.
Uma programação com palestra e oficina de resolução de uma prova anterior do ENADE pode ser um mecanismo útil de esclarecimento e treino, para as condições do exame. Prova, sabemos, é uma das piores estratégias de avaliação do Ensino Superior. Há horas, contudo, em que são aplicadas, seja para fazer seleção de funcionários públicos ou para supostamente aferir o conhecimento de nossos alunos, egressos.
É importante a adesão a um projeto mais unificado em torno da qualidade do ensino (e de sua relação com pesquisa e extensão) da nossa FAU-UFPA, incluindo professores, alunos e funcionários. Todos fazem seu papel, hoje, mas a redução do conceito nos coloca diante de uma situação de confronto com certa dimensão da realidade. Critérios de avaliação sempre são parciais, nunca absolutos. Mas eles podem nos fazer pensar.
Podemos tentar uma dinâmica mais reflexiva, de estudo, leitura e produção (visual, textual, etc.) com os alunos. Que ganhem maior densidade teórica, histórica, estética, técnica. Que estudem mais, continuamente.
Podemos tentar repensar algo de nossos métodos de ensino, incorporando recursos tecnológicos a mais e uma forma talvez mais dialógica, necessária, para essa melhoria pretendida.
Podemos raciocinar os procedimentos administrativos de modo a serem mais próximos dos alunos, comunicativos e funcionais para suas demandas, representando trunfos, e não entraves, a seus propósitos, com transparência e suporte aos funcionários da FAU, de quem somos devedores e a quem sempre seremos gratos.
Podemos tentar equipar mais a Faculdade e dar manutenção a recursos e instalações, depositando no novo ano os pedidos, e no novo orçamento, é claro. Com mais equipamentos teremos novas dinâmicas de ensino/pesquisa/extensão e isso nos beneficia, enriquece a experiência, torna mais denso o nosso trabalho.
O aluno tende a se beneficiar de um curso mais robusto, repensado a propósito do urgente novo PPC (Plano Pedagógico do Curso), plural, contemplando as diferentes áreas da formação do arquiteto e urbanista. Os alunos e alunas, centro das nossas atividades, devem ser também chamados a colaborar, a elevar a nota do curso, integrando-se no processo. É de nosso interesse, coletivo.
Isso não nos exime de criticar ou discordar do ENADE ou de qualquer outro ditame institucional. Chama, contudo, para nossa inteligência sobre como podemos nos movimentar nas diferentes temporalidades, no imediato e no temporalmente mais distante. De modo inteligente, e ainda crítico, podemos soerguer e elevar a nota, sem dúvida. O que será bom.


Acesso à planilha: Conceito Enade 2014.

Sobre o Projeto Laboratório Virtual - FAU ITEC UFPA

Ações integradas de ensino, pesquisa e extensão da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará - em atividade desde maio de 2010. Prêmio Prática Inovadora em Gestão Universitária da UFPA em 2012. Corpo editorial responsável pelas publicações: Aristoteles Guilliod, Fernando Marques, Haroldo Baleixe, Igor Pacheco, Jô Bassalo e Márcio Barata. Coordenação do projeto e redação: Haroldo Baleixe. Membros da extensão do ITEC vinculada à divulgação da produção de Representação e Expressão: Dina Oliveira e Jorge Eiró.
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1 respostas para Arquitetura e Urbanismo da UFPA cai no ENADE (2014); por Juliano Ximenes

  1. Jose Carlos Cardoso Filho disse:

    Observo que a matéria publicada no site da FAU (http://fauufpa.org/) de autoria do Prof. Juliano Ximenes aborda em vários aspectos a avaliação MEC de maneira equilibrada e distanciada do destempero. Eu gostaria de destacar um ponto referente especificamente ao exame ENADE, onde o atual Ministro da Educação aponta mudanças em 2016 para aprimorar a avaliação das IES’s (www.inep.gov.br). Lembro ainda que a modificação do exame está presente desde a sua criação no governo FHC e capitaneado pelo então Ministro Paulo Renato, quando surgiu o Provão, que na época foi literalmente execrado por parte de professores da UFPA, posteriormente dando origem ao atual ENADE. Contudo, desconheço processo avaliativo isento de críticas e aqui eu posso citar o exame da OAB ou mesmo o ENEM.

    Escuto clichês disparados para todos os lados: “O ENADE não mede competência” ou “ O curso sério não teme o ENADE” e aqui eu fico com o equilíbrio do meu caro Prof. Juliano. Como você, eu também acredito que a universidade não gera cabeças pensantes por adestramento e a formação de um profissional em uma IES não deve tomar como base o conceito máximo de um exame avaliativo. Fiz a cópia do seu artigo e prometo endereçá-lo aos próximos alunos da FEQ que farão o ENADE 2017, tomando-o como um ótimo ponto de partida.
    Prof. Jose Carlos Cardoso Filho
    FEQ/ITEC

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