A Nossa Senhora do Ó de Mosqueiro foi de José do Ó

 

Nossa Senhora do Ó de Mosqueiro

Em 25 de setembro de 1858, a contragosto do padre Castillo, foi sancionada a Lei Provincial nº321 que transferiu a sede da freguesia de Nossa Senhora da Conceição (Concepção) de Benfica para a Ponta do Mosqueiro — não se sabe exatamente desta localização.
Apesar dos esforços do vigário e dos habitantes de Benfica, que reedificaram a velha igreja de lá, a Assembleia Provincial ordenou a Antonio José Bentes à construção da nova igreja matriz de Benfica na ilha do Mosqueiro ao cumprimento da Lei; a ermida foi erigida, mas seu frontispício desabou antes da conclusão da obra e os jornais silenciaram diante dos desígnios de Deus.
Novas discussões reaparecem ardentes na Assembleia Provincial uma década depois, desta vez trata-se da elevação da povoação do Mosqueiro à categoria de freguesia e, para tal, a necessidade de uma igreja e cemitério — estes lá já haviam e eram de propriedade da Irmandade de Nossa Senhora do Ó, uma agremiação privada de interesses próprios que conquistara a simpatia do Bispo Diocesano Dom Antonio de Macedo Costa.
José do Ó de Almeida, deputado provincial do Partido Conservador, foi o autor do projeto de lei e da indenização, pela Província do Gram-Pará, da igreja e cemitério em funcionamento, mas inacabados; desse modo, além do ressarcimento à Irmandade do Ó, houve concorrência à arrematação da obra da Igreja de Nossa Senhora do Ó conforme o Jornal do Pará (30SET1869) que dá ao conhecimento público o orçamento feito pelo engenheiro da Câmara Municipal a partir de seu plano.
A imagem da Santa Padroeira do Mosqueiro viera da Ilha das Onças onde José do Ó possuía, no interior de sua Colônia Agrícola Nossa Senhora do Ó, uma capella:

GO14JAN1860

A nota acima é do período da construção, na Ponta do Mosqueiro, da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Benfica; a imagem de Nossa Senhora do Ó deve ter sido transportada ao Mosqueiro em meados de 1860 com a falência da Colônia da Ilha das Onças e a fixação de José do Ó de Almeida na ainda povoação de Mosqueiro onde se tornou absoluto suserano, ou pachá, como o chamou o periódico Santo Officio.

José do Ó (de Almeida), hoje homenageado como rua na Vila do Mosqueiro, paralela a de Nossa Senhora do Ó, foi o agrimensor responsável pelo desenho daquele núcleo populacional e, quiça, pela construção da igreja que Dom Antonio de Macedo Costa frequentou e ministrou missa; aliás, Macedo Costa foi presenteado pela povoação do Mosqueiro com uma chácara para sua residência naquele remoto lugarejo:

DB16OUT1868José do Ó de Almeida também foi o criador do primeiro jornal da ilha: O Mosqueiro; assunto a ser tratado em publicação futura, ora em investigação.

Acompanhe, sem a intermediação ideológica dos jornais, as discussões sobre Mosqueiro (e o conheça como na época) nas transcrições taquigráficas de algumas sessões da Assembleia Provincial em 1868 — observamos que as datas dos periódicos não correspondem às das reuniões pelo tempo necessário às decodificações.
Nas últimas delas peleja-se sobre o desapropriamento da casa de Bras Antonio Duarte que ficava dentro do traçado da Praça da Matriz e: a insalubridade urbana da Ilha:

Diário de Belém — outubro e novembro de 1868 (pdf).

As fontes da pesquisa estão nos hiperlinks.


Postscriptvm (19OUT2017):

O leitor Jorge Ricardo Vilhena da Cruz nos chamou atenção, por comentários, ao fato de a Nossa Senhora do Ó do coronel José do Ó de Almeida —  foto acima por ele enviada  — ter sido substituída em 2008 por outra imagem confeccionada pelo artesão paraense Afonso Falcão; o que é confirmado pelo jornal Folha da Ilha de Mosqueiro publicado em janeiro de 2009:

Fonte do recorte: Blog Mosqueirense.

Sobre o Projeto Laboratório Virtual - FAU ITEC UFPA

Ações integradas de ensino, pesquisa e extensão da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará - em atividade desde maio de 2010. Prêmio Prática Inovadora em Gestão Universitária da UFPA em 2012. Corpo editorial responsável pelas publicações: Aristoteles Guilliod, Fernando Marques, Haroldo Baleixe, Igor Pacheco, Jô Bassalo e Márcio Barata. Coordenação do projeto e redação: Haroldo Baleixe. Membros da extensão do ITEC vinculada à divulgação da produção de Representação e Expressão: Dina Oliveira e Jorge Eiró.
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16 respostas para A Nossa Senhora do Ó de Mosqueiro foi de José do Ó

  1. Estão vocês a reescrever a História de Belém do Pará de modo sóbrio.
    Que bela imagem do século XIX.
    Meus sinceros parabéns.

  2. Paula Santos disse:

    Ninguém conta isso nos colégios.
    Será que os mosqueirenses sabem desses fatos e desse do Ó e da santa dele?
    Muito legal.

  3. Dom Macedo Costa, esteve presente na “ereção do primeiro esteio da ponte …” em 1889 . Um ato digno de registro: ” com a presença de muitas pessoas o Sr Cônego Macedo Costa, desceu até a praia, lançou a bênção da igreja sobre a iniciação dos trabalhos, recebeu aplausos e ao fundo ainda havia a execução de musica pela excelente Banda do Instituto Providencia, pouco tempo depois faleceria na Bahia. Sem dúvida um ato de grande valia para a historia de nossa ilha.

  4. Jorge Ricardo Vilhena disse:

    A imagem de Nossa Senhora do Ó veio da ilhas das onças, foi confeccionada por quem, aonde e se tem registro?

  5. sóstenes disse:

    Olá, Bom dia, Ótimo Artigo, só gostaria de saber ser já tens outro artigo sobre: “primeiro jornal da ilha: O Mosqueiro; assunto a ser tratado em publicação futura, ora em investigação.” que você relatou no final?
    obrigado

  6. marcelo do ó santos disse:

    linda historia queria conseguir uma imagem de nossa senhora do ó 50cm a 60cm

  7. Jorge Ricardo Vilhena disse:

    Corrigindo*

    A imagem em destaque foi entronizada na Igreja Matriz de Mosqueiro em 2008 em comemoração aos 140 anos da paróquia. Elaborada por Pe. José Maria Ribeiro.

    A imagem de José do Ó, que nós chamamos de original tem coroa, não tem uma barriga avantajada e fica no glória. Atualmente só desce no dia 18 de dezembro para a procissão luminosa que acontece nos bairros da Vila e a Maracajá.

  8. Jorge Ricardo Vilhena disse:

    Gostei das postagens sobre José do Ó e a minha ilha querida!

    Tinha muitas dúvidas sobre a imagem original de Nossa Senhora do Ó de onde veio, quem a confeccionou, seu significado.
    A imagem que chamamos carinhosamente original deixou de participar da procissão do Círio em 2007, por tanto, dez anos sem essa linda imagem na festa do Círio de Mosqueiro.

  9. Amaury Piedade disse:

    Achei muito bom o conteúdo histórico. Parabéns. Agora onde acho a partitura do hino oficial de n.sra. do O ?????

  10. Walkir Rodrigues Gomes disse:

    Alguém pode me informar se o Conego Antonio José Bentes III era filho de Ana Raimunda R. Duarte e Antonio José Bentes II e qual a origem dos mesmos?

  11. Walkir Rodrigues Gomes disse:

    Alguém para responder?

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