O Farol de Salinópolis é o antigo Farol de Apehu

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Na base de concreto do Farol de Salinópolis, por dentro da mureta que o protege, existe uma placa de identificação datada de 1937, ano de sua montagem naquele local; aparafusada sobre ela está a original de 1893 que veio no equipamento de sinalização marítima encomendado à fábrica F. Barbier et Cie., situada no número 82 da rue Curial em Paris:

correcaoO farol que desde 1937 está em Salinópolis compôs um pedido de 10 faróis feito em 1891 pela Marinha Brasileira ao engenheiro francês Fréderic Barbier; desses, de acordo com a Revista Marítima Brasileira, três foram especificados à construção com colunnas tubulares sobre esteios de rosca, systema Mitchell: Belmonte (BA), Rio Doce (ES) e Salinas (PA) – discriminado à Ponta do Atalaia onde já existia um farol sobre torre de alvenaria ameaçada de solapar pela invasão do mar.
O sistema construtivo denominado Mitchell fora inventado pelo engenheiro irlandês Alexander Mitchell para erigir arcabouços metálicos em terrenos instáveis; a firma F. Barbier et Cie. o utilizava quando demandada a desenvolver faróis completos, inclusive com habitação de faroleiros na própria estrutura:

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Acima se vê dois faróis, anteriores à citada encomenda da Marinha em 1891, que já utilizavam o Sistema Mitchell; no período de confecção desses faróis pré-moldados ainda era sócio de Fréderic Barbier o senhor Stanislas Tranquille Fenestre, morto em 1887 – Fréderic e Stanislas desde 1860 mantinham uma parceria produtiva que gerou a Barbier et Fenestre em 1862.
Note-se na foto mais antiga, a do Farol de Aracaju, a existência de habitação aos faroleiros (o equipamento de São Tomé também possuiu a sua), à semelhança do que se via no de Salinópolis nos anos 1940 (pintura de E. Bastos cedida por Paulo Andrade) e 50 (fotografia que circula pela Internet):

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Descrição do farol original como contratado com a F. Barbier et Cie. para Salinas em 1891:

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Condições atuais dos três faróis encomendados à fábrica F. Barbier et Cie. (à época não era nominada Barbier & Bénard Constructeurs como diz a Revista Marítima Brasileira):

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O Farol do Rio Doce perdeu sua torre metálica sobrando apenas a cápsula faroleira depositada no solo.


E o Farol de Salinas foi à Ilha de Apehu:

Dissemos que o Farol de Salinas fora encomendado em 1891 para substituir um farol velho [localizado onde hoje está parte de sua muralha na praia do Farol Velho, na Ilha (ou Ponta) do Atalaia]; contudo, a torre de alvenaria desse farol velho, que ameaçava ruir pelo choque e varredura das marés altas em suas fundações, teve um reparo de baixo custo que deu solução aparentemente definitiva ao problema (o farol novo chegou em 1893 e só foi decidida sua montagem em 1901 noutro lugar); deste modo se vê a perda da serventia de um equipamento náutico que veio para ser instalado em Salinas em substituição ao velho (de 1852) que por oito anos de observação acurada diagnosticou-se firme.
O Diário Oficial da União, de 25AGO1909, revela o pagamento reclamado por Frederico Carlos Pusinelli, pela armazenagem de 412 volumes contendo as peças do pharol de Salinas, que estiveram no Trapiche S. João, naquele Estado (do Pará), desde janeiro de 1894 até setembro de 1901.
Estando a navegação em ritmo acelerado nesta parte do território brasileiro, armou-se, em setembro de 1902, o farol de fabricação francesa na Ilha de Apehu:

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Seguem as buscas sobre a permanência do Farol de Salinas na Ilha de Apehu que vai de 1902 à sua desmontagem (1936?) para ser reerguido em Salinópolis no ano de 1937; bem como a dinâmica desse exercício mecânico nas águas do Atlântico.
A localização atual do Farol de Salinas na Ilha de Apehu pontua sua imersão no oceano; o que é uma boa pista, se associada às profecias do Careta de 01OUT1932.


Curiosidades:

O construtor do Farol de Salinas, Fréderic Barbier, associou-se ao genro Joseph Bénard em 1894 e a firma passou a se chamar Barbier & Bénard Constructeurs:

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Em 1897 Paul Turenne ingressou na empresa casando-se em 1901 com outra filha de Barbier quando surge a Barbier, Bénard & Turenne (a BBT) que em 1918 transforma-se em Société Anonyme des Anciens Etablissements Barbier, Bénard et Turenne (uma S. A.):

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Propaganda de 1937, ano da inauguração da remontagem do Farol de Salinas em Salinópolis, vindo da Ilha de Apehu, superfície hoje circunscrita no município de Viseu; nela se vê a marca francesa BBT associada à Krauss que comprara da alemã Leica em 1934 para formar a subsidiária BBT Krauss especializada em microscópios e binóculos:

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Haveria necessidade de uma publicação independente para falar das múltiplas atividades fabris da BBT que como CIT ALCATEL foi incorporada à GISMAN (que permanece produzindo faróis, dentre outros equipamentos marítimos); sugerimos, apenas, uma busca no site ebay por BBT Krauss para ver o resultado.


Referências, além dos hiperlinks, e créditos:

A compra dos farois em 1891  –   recortes da Revista Marítima Brasileira do ano de 1902. 
Pharol das Salinas e do Gurupy – recortes da Revista Marítima Brasileira do ano de 1902. 
United States – Lighthouse Society  
Fotografias do topo da matéria: Farol de Salinópolis de Fernando Pinhati e Placa do Farol de Salinópolis de Antonio Alves.
As demais imagens foram retiradas da Internet, dos sites que divulgam turisticamente os faróis da costa brasileira, e, do ebay.

Sobre o Projeto Laboratório Virtual - FAU ITEC UFPA

Ações integradas de ensino, pesquisa e extensão da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará - em atividade desde maio de 2010. Prêmio Prática Inovadora em Gestão Universitária da UFPA em 2012. Corpo editorial responsável pelas publicações: Aristoteles Guilliod, Fernando Marques, Haroldo Baleixe, Igor Pacheco, Jô Bassalo e Márcio Barata. Coordenação do projeto e redação: Haroldo Baleixe. Membros da extensão do ITEC vinculada à divulgação da produção de Representação e Expressão: Dina Oliveira e Jorge Eiró.
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19 respostas para O Farol de Salinópolis é o antigo Farol de Apehu

  1. Bom dia, excelente sua pesquisa Haroldo, quanto ao Farol de Salinópolis pedi o tombamento dele a Secult e que resultou em tombamento então pelo Estado, isso impediu que o edifício construído em pequena rua atras do farol fosse construído com mais pavimentos que o previsto pelo seu proprietário. Abraço, Euler Santos Arruda.

    • Maria José Silva dos Santos disse:

      Por que que o farol de Apehu Salvador viseu pa não foi reativado? pois o mesmo caiu de ferrugem por falta de manutenção

  2. Raoni Santos disse:

    E eu que pensava que esse farol de Salinópolis fosse obra do Magalhães Barata. Pensei também que só tivesse um, mas vi agora que ele era feito em série.

  3. Augusto disse:

    Muito doido isso principalmente porque o fabricante ainda faz farol.

  4. Aristoteles disse:

    Fantástico, Baleixe. Parabéns pela pesquisa e pela matéria.

  5. Maria Amélia disse:

    Fabuloso!!! Nunca imaginei que esse farol tivesse uma história tão interessante e agora quero saber mais de Ilha de Apehu que nunca tinha ouvido falar. Muito bonitos todos o objetos fabricado pela tal BBT como a lanterna que foi publicada. Parabéns ao Blogue da FAU que sempre vem com novidades surpreendentes. Obrigada!

  6. Oxoce disse:

    Essa matéria acaba com a gente, deixa tudo muito aproximado e sem o elastano do tempo.

  7. Natalia Pereira disse:

    Maravilhosa a matéria, muito obrigada! Desde criança sempre tive muitas curiosidades em relação ao farol de Salinópolis.

  8. Maronilson Rocha disse:

    Parabéns pela excelente pesquisa!

    Sou Faroleiro e tive o prazer de cuidar desse Farol entre 2005 e 2008.

    Sabiam que o maquinário original (tal qual um relógio de carrilhão) ainda funciona perfeitamente?

    Li um livro que contava mais sobre a desmontagem em Apeú Salvador -PA, transporte e construção em Salinas desse 3° Farol. Acho que o nome era Sal, Salinas, Salinopólis!

    Hoje moro em Ladário – MS.

    • Geraldo Egberto disse:

      Maronilson que legal vc foi Faroleiro de Salinas, minha cidade natal. Subi varias vezes nesse farol, quando podia.

      Acho que deveria voltar essa época de visitação!!!

      • Maronilson Monteiro da Rocha disse:

        Desculpa a demora em responder…

        Na minha época a gente liberava a visitação. Tínhamos até um livro de assinaturas.

  9. Giovanni Sarquis disse:

    Ainda é possível subir no farol? Onde mora o atual faroleiro?

    • Maronilson Monteiro da Rocha disse:

      Perdão pela demora em responder…

      Na minha época, sim.

      A visitação era, geralmente, a tardinha quando subíamos para retirar as cortinas e ligar o Farol.

      São duas residências em frente a Praça, próxima ao Farol.

  10. Cris Nunes disse:

    Adorei saber, parabéns pela pesquisa e divulgação da nossa – tão rica e importante quanto menosprezada – História. Aqui no estado do RJ temos um bistrô (Maison Leffié, antigo cinema frequentado por Ruy Barbosa, cuja cúpula abria durante as sessões. E também Farol de São Tomé, em Campos dos Goytacazes.

  11. João Guilherme zViana Correa disse:

    Muito interessante e curioso as anotações sobre o Farol de Salinopolis .Parabenizo a equipe do ITEC responsável pelo trabalho

  12. Maria das Graças Cruz Athayde disse:

    Postagem rica em informações históricas e muito importantes. Adorei conhecer essa história do Farol Velho e assim entender melhor as denominações.

  13. Marcelo disse:

    Alguém sabe dizer quais outros equipamentos, se é que havia, funcionavam no farol? Por exemplo: de aferição geomagnética, de telegrafia, de rádio, etc.

    • Maronilson Monteiro da Rocha disse:

      Na minha época (entre fev2005 a ago2008), tinha lá em cima apenas um binóculos e um cronômetro, que usávamos para conferir a rotação do aparelho, ou seja, se a base giratória do Farol dava uma volta completa durante o tempo de 24s.

      Porém na Estação Rádio (que fica uns 300 m do Farol) tinha vários equipamentos de comunicação, uma estação meteorológica (fazíamos observação meteorológica a cada 3 horas) e um transmissor NDB para orientação de aeronaves e, um heliponto.

  14. Maxi Retamozo disse:

    hola! que hay de cierto que esta empresa Barbier, Bernard & Turenne Paris Constructeurs, participo en la construccion de la Torre Eiffel? gracias.

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