A fotografia acima, publicada no jornal Estado do Pará de 10AGO1916 por ocasião da inauguração do novo farol da Ponta do Atalaia em Salinas-PA, revela a convivência dos dois equipamentos náuticos de sinalização costeira; o primeiro, inaugurado em 1852, montado sobre torre troncônica de alvenaria com tijolos vidrados tinha a altura de 12,2 metros a partir do solo, já o segundo, encimado em torre de ferro do Sistema Mitchell com 50 metros (a partir do solo), fora fabricado pela firma francesa BBT – Barbier, Bénard & Turenne – ou seja: depois de 1901, mais moderno que o da ilha do Apheu, datado de 1893, de lá desmontado n’água para ser reerguido em Salinópolis no ano de 1937 pelo engenheiro francês Désiré Potár.
O mais antigo farol da Ponta (ou Ilha) do Atalaia (hoje praia do Farol Velho), o da torre de alvenaria, deveria ter sido substituído no ano de 1894 pelo que seria montado em Apehu no ano de 1902 (ficou guardado por 7 anos no trapiche alfandegário São João em Belém), não o foi devido a uma reforma de baixo custo que o manteve firme; entretanto, sua inoperância exigiu que o Ministério da Marinha erigisse, às suas proximidades, talvez a maior Torre Mitchell do Brasil, para desativá-lo em 1916.
Comparação das Torres Mitchell: Ponta do Atalaia (1916) e Salinópolis (1939)
A fotografia foi tirada da praia no sentido aproximado do oeste para o este; sabe-se das localizações dos faróis por suas coordenadas transcritas em documentos de época.
O que intriga na análise acima é a distância entre os pontos vermelhos na foto do Google Maps de quase 5 kilômetros.
Se a câmara conseguiu eliminar os efeitos da perspectiva, uma outra fotografia tirada de um avião em 1931 mostra a direção invertida do ponto de vista da imagem de 1916: do este ao oeste:
Há bastante coincidências para se afirmar que é o farol inaugurado em 1916 na Ponta do Atalaia em substituição ao dito Farol Velho que começou a funcionar no tempo do Império até a montagem deste em torre metálica no Sistema Mitchell com 50 metros do solo ao foco luminoso.
A panorâmica mostra o distanciamento do farol Mitchell do que estaria por vir em 5 Km ao sudeste: o Farol Velho que não chegaria ao alcance da câmara pelas coordenadas – caso erradas admitisse a hipótese de maior proximidade entre os equipamentos como diz a Gazeta de Noticias do Rio de Janeiro (10AGO1916):
A nota, com coordenadas distintas e incongruentes, fala nas immediações; o que significaria que as sobras do antigo farol compõem a imagem de 1931 e ficaram para trás, no detalhe.
Eis rara imagem do Farol Velho (que hoje dá nome à praia), o primeiro de Salinas, na Ponta do Atalaia:
A mesma Gazeta de Noticias em 31MAR1916 nos diz que o novo farol em Salinas não possui, em sua torre Mitchell, o compartimento destinado à moradia dos faroleiros:
Ler as seguintes matérias do BF sobre o farol de Apehu remontado em Salinópolis em 1937:
O Farol de Salinópolis é o antigo Farol de Apehu
Confirmado: o Farol de Salinas, em Apehu, imergiu no Atlântico
Fonte da foto de 1916: jornal Estado do Pará.
Fonte da foto de 1931: Purdue University Libraries.
Fonte da foto de 1939: Farol do Atlântico com reprodução da revista Terra Imatura.
Referência: Fundação Joaquim Nabuco.
Postscriptvm (09MAR2017):
A publicação A Muralha do Farol Velho de Salinas – 1916 e 1931 resolve a questão aqui levantada.
Postscriptvm (13MAR2017):
Correção do Ponto de Vista da fotografia de 1916 desconsiderando o afastamento falso das coordenadas inexatas:
Muito legal. Posso reproduzir a matéria?
Dando os créditos, claro.
Claro, esteja à vontade.
Meu pai, na primeira metade do século vinte, celebrou contrato com uma empresa para derrubar o farol velho, para tirar as placas de aço. Gostaria de conversar com o autor, para obter maiores dados sobre o farol. Pode contactar pelo meu e-mail?
Hello. I am a french historian and museum curator interested in LH history. I would like to know who built the 1916 LH (Barbier?) and what happened to this tower when the tower of Ilha de Apehu was relocated in Salinopolis in 1937. Thank you for your research, best. Vincent
Leia esta matéria: O Destino do Segundo Farol de Salinas; por Wanda Luczynski.
Obrigado!
Esse farol se parece com o de São Thomé