Os anéis do Comendador Faciola

… O Comendador (Facióla), relampejando de anéis em quase todos os dedos.

Sim, na estrada de Nazaré, entre a Benjamim Constant e quase quase a esquina da dr. Morais, já para desembocar no Largo da Pólvora; meu Deus, pertinho do Olímpia, do terraço do Grande Hotel, da melhor farmácia, dos passeios em torno da estátua da República, da Assembléia e do Teatro da Paz. Cruzando a dr. Morais, estava-se num quarteirão de “olhe lá”: o palacete Faciola, com seus claros azulejos, apreciando-se o Comendador, relampejando de anéis em quase todos os dedos, embarcar no seu alto carro; a casa do dr. Bezerra, onde as moças, educadazinhas na Inglaterra, eram vistas de finas almofadas nas janelas, passando e repassando entre os luxos da sala de lustros tão brilhando que pareciam sempre acesos. E quanto a espelho? E os autos parando na porta? E uma porção-porção de empregadas, umas de avental, outras saindo entonadas no entardecer de domingo para fazer também a sua volta de bonde até o Bosque? Enfim, tal semelhante quarteirão, acolá o outro onde gente fina morava e ostentava.

(Dalcídio Jurandir em Belém do Gão-Pará – edição de 1960.)


Dalcídio Jurandir talvez não aprovasse um parágrafo de seu romance ilustrado pela fotografia acima: na imaginação, põem-se quantos anéis se queira – quatro solitários de brilhante limitam o fantástico ao personagem histórico.
Mas assim eram a fisionomia, a indumentária e os anéis do Comendador que, na primeira metade dos anos 1920, Belém (do Grão-Pará) conhecia como comerciante (Livraria Maranhense), capitalista (Banco do Pará) e industrial (Fábrica de Cerveja Paraense); só mais tarde seria Senador do Estado, Intendente Municipal e morreria como Deputado Estadual em 1936.
Dalcídio, que nasceu em 1909, conheceu o Palacete Facióla já revestido com seus claros azulejos, não como projetado (1895) e entregue (1898) ao seu primeiro proprietário, Bento José da Silva Santos, pintado.
O fato é que o Palacete Facióla fora, em sua origem, Palacete Silva Santos – Antonio d’Almeida Facióla, que residia ao Marco da Légua, na Chácara Bem-Bom, compraria os números 26 e 28 (esquina da Doutor Moraes) de Nazaré em 1916.
No livro Primeira Manhã (1967) Jurandir cita por nove vezes a Penitenciária: … a Penitenciária Modelo do Norte do Brasil agasalhando flagelados do sertão é um exemplo fidedigno comprovado por fotos e fatos relatados em jornais de época; portanto: uma memória fiável ao azulejamento do casarão no início dos anos 1920, anterior à fotografia de 1929-30:


Não alcançamos o porquê do termo Comendador: que comenda seria essa?

Sobre o Projeto Laboratório Virtual - FAU ITEC UFPA

Ações integradas de ensino, pesquisa e extensão da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará - em atividade desde maio de 2010. Prêmio Prática Inovadora em Gestão Universitária da UFPA em 2012. Corpo editorial responsável pelas publicações: Aristoteles Guilliod, Fernando Marques, Haroldo Baleixe, Igor Pacheco, Jô Bassalo e Márcio Barata. Coordenação do projeto e redação: Haroldo Baleixe.
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