A Avenida Perimetral de 1970 e sua Variante de 1973

O reitor da Universidade Federal do Pará, José Rodrigues da Silveira Netto, apresenta, em novembro de 1967, um painel com o projeto do Conjunto Pioneiro – que seria inaugurado em 13 de agosto de 1968 com cobertura do magazine nacional O Cruzeiro.
Observemos que o Conjunto Pioneiro (o Básico) era um agrupamento de edificações em ilha, nenhum acesso à outra margem do igarapé Tucunduba, donde surgiria o Profissional e o Setor de Esportes.
Para resolver tal isolamento o Conselho Universitário, em 07 de março de 1969, autorizou Silveira a celebrar convênio com a Prefeitura Municipal de Belém objetivando a construção da Avenida Perimetral: “parte integrante do Plano Oficial de Urbanização da Capital” na gestão do prefeito Stélio Maroja.
A Rodovia Perimetral, especificada como BL-15, seria uma das integradoras de bairros: completa ligaria o Marco da Légua ao Guamá (Estrada Nova) como a mais extensa avenida da capital paraense à época.

Autorização dada ao Reitor, pelo CONSUN, à celebração do contrato com a PMB que permitiu a passagem da Avenida Perimetral nas “terras pertencentes à Universidade”.

O convênio com a PMB foi assinado em 28 de março de 1969 e nele consta a ajuda financeira da UFPA à construção da ponte (de concreto armado) sobre o igarapé Tucunduba – comunicada como concluída pela PMB à UFPA em 17 de fevereiro de 1970.

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O fato é que a Avenida (ou Rodovia) Perimetral, a BL-15 do Plano Oficial de Urbanização da Capital, possuía outra rota e conformação, já apagadas da memória e dos mapas; passava ela pela orla do rio Guamá dentro das terras doadas pelo Instituto Agronômico do Norte à UFPA; não era a Perimetral que hoje conhecemos no trecho entre o Terminal de Ônibus (do Profissional) e a rua do INPE (do PCT Guamá), esta só surgiria em 1973 e como VARIANTE da via original.
A Perimetral entregue à população em 1970 estabeleceu a primeira conexão ao trânsito regular entre o Marco e a Augusto Corrêa (no bairro do Guamá); contudo, precisou vencer, na direção Marco/Guamá, duas embocaduras de igarapés: o Santo Antônio e o Sapucajuba e para tal a Prefeitura Municipal de Belém utilizou tubos Armco proporcionais às suas vazões: o Santo Antonio com mais ou menos 1,5m e o Sapucajuba com 2,6m de diâmetro deixando, por fim, tal caminho pavimentado com asfalto e alinhado à já concluída Ponte do Tucunduba.
Mas a PMB de Stélio Maroja inovou: mostrou-se a precursora de uma Janela para o rio em 1970 – o que certamente influenciou o arquiteto Paulo Roberto Chaves Fernandes (e equipe) em suas proposições na década de 1980 como a Estação das Docas, o Mangal das Garças e o não executado Sítio do Professor, previsto em 1987 para ocupar 400 metros da beira do Guamá, no mesmo rincão que abrigou a miniatura do Rodrigues Alves e depois passou a se chamar Bosquinho da UFPA (um abstrato lugar).
A novidade de um ponto turístico na orla do Guamá, nas cercanias do Santo Antonio, com equipamentos idênticos aos consagrados no Bosque Rodrigues Alves como pontes, malocas e parque infantil faziam da Perimetral um lugar legal pra ir.
Ainda não se tem a noção exata da disposição dos equipamentos na miniatura de Bosque, apenas dois exemplares em clichês, que comparamos com a fonte de inspiração (o Rodrigues Alves):

Obras públicas na orla do Guamá: entre as bocas do Santo Antônio e Sapucajuba: 1,1km de extensão: generosa Janela para o rio.
A partir do igarapé Sapucajuba a Perimetral singrava a mata; ou: o que viria a ser o Profissional até atingir a ponte do Tucunduba – a implementação do futuro Profissional dependeu, por óbvio, da ponte e da pista que interligava as superfícies da Universidade Federal do Pará.
A tentativa de criar um ponto turístico mimético ao Bosque Rodrigues Alves evocou a alcunha de Bosque da Perimetral que, no tempo, transmutou-se em Bosquinho da UFPA pela porção de mata compreendida entre as duas vias: a Perimetral e sua Variante, arrematada pela divisa natural do igarapé Sapucajuba que fechava o desenho do Profissional.
Mas o que se depura, na contramão da notícia publicada no Diário do Pará de 15SET1985, é que a ingerência da PMB se limitava às vias públicas que implementou nos domínios da UFPA, não era ela (a Prefeitura) proprietária de nenhum bosque ou área na Perimetral que não a demarcada no mapa Homma/Watrin; portanto, a dita doação é falsa e a única realidade foi o abandono de uma estrada dentro da Universidade em 1973.


Em 15 de julho de 1972 a UFPA firma convênio com o Departamento Municipal de Estrada e Rodagem – DMER objetivando execução de um Projeto implantação de uma variante na Rodovia Perimetral BL-15, ligando o quilômetro 3,5 ao quilômetro 6,0 da mesma Rodovia.
O prefeito: Nélio Lobato; o reitor: Aluizio Chaves.

A interpretação do texto em medidas do Google Mapas mostra que a Variante é exatamente a parte da Perimetral que trafegamos há muito – desde 1973 quando pronta.

Os dois gifs dão o entendimento das conformações que a Rodovia Perimetral (BL-15) assumiu entre 1970 e 1973 – o mapeamento feito pelo IBGE a partir de aerofotogramas de 1973 mostra ambos os traçados que ainda eram latentes em 1978:

A panorâmica aérea de 1978 mostra a bifurcação real: Variante e Perimetral diante da Ponte do Tucunduba: ambas pistas construídas na parceria PMB/UFPA.
Na implementação do Parque de Ciência e Tecnologia Guamá a “velha” Perimetral teve protagonismo: foi por parte dela, vinda de um porto improvisado na beira do Guamá, que a Caixa d’Água do complexo chegou desmontada:

Registros de 2010 feitos pelo professor José Maria Coelho Bassalo
Outros registros do lugar renomeado como rua do INPE


Fontes da pesquisa:
A Província do Pará 24FEV1970
Arquivo Central UFPA – Catálogo de acordos, ajustes e convênios
Manchete 11NOV1967
Manchete 24JAN1970
Evolução do uso da terra do Engenho Murutucu: história, geografia e ecologia (2007)
Fotografias da UFPA – 1978

Há outras referências já linkadas no texto.

Sobre o Projeto Laboratório Virtual - FAU ITEC UFPA

Ações integradas de ensino, pesquisa e extensão da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará - em atividade desde maio de 2010. Prêmio Prática Inovadora em Gestão Universitária da UFPA em 2012. Corpo editorial responsável pelas publicações: Aristoteles Guilliod, Fernando Marques, Haroldo Baleixe, Igor Pacheco, Jô Bassalo e Márcio Barata. Coordenação do projeto e redação: Haroldo Baleixe. Membros da extensão do ITEC vinculada à divulgação da produção de Representação e Expressão: Dina Oliveira e Jorge Eiró.
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2 respostas para A Avenida Perimetral de 1970 e sua Variante de 1973

  1. João Veloso disse:

    Fantástico!!! Jamais imaginei isto e nunca entendi essa rua da Naval que não dá em lugar algum.

  2. Amélia Costa disse:

    Meu pai me disse que conheceu esse lugar chamado Bosquinho na Perimetral que passava pela beira do rio Guamá.
    Disse que era muito legal e que as pessoas levavam crianças.
    Depois ficou um lugar com má fama, abandonado e dito como perigoso.

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