Considero da maior importância o trabalho que vem sendo feito pela FAU e, em especial deve ser destacado o empenho pessoal do professor Haroldo Baleixe para que se recupere a memória dos anos da implantação da Universidade. Os documentos que existem no Museu da UFPA, que já foi sede da Reitoria, se resumem a uma escritura de propriedade que foi usada, até o momento, como o documento mais antigo de posse da UFPA. Sabíamos a quem a casa tinha pertencido pois consta da escritura e da anexação dos terrenos (e casas) da generalíssimo para conformar o jardim dos Chamiê. O fato da desapropriação era totalmente desconhecido. O prédio do Museu, conforme as novas informações, tem então dois momentos de influencia direta do poder militar. A desapropriação para ser Reitoria e posteriormente, a criação do museu universitário, medida tomada pelo governo militar em varias capitais do pais sem muita idéia do que isso significava. O Museu da UFPA foi implantado em 1985 num prédio que já perdera muito de seu conteúdo histórico e arquitetônico/decorativo. Nenhum móvel original fora preservado, tinham desaparecido os mármores de banheiros, azulejos de cozinhas, e até alguns pisos. Pintado totalmente de branco e com novos banheiros, revestidos de lajotas São Caetano, com azulejos e louça sanitária brancos, assumira a austeridade “castrense” pregada pelo novo regime para os prédios públicos. Não tinha acervo e nem reserva técnica, nunca teve funcionários especialmente contratados para funções museológicas. Desde o fim do século XX, porém, vive novo momento tendo sido restaurado e requalificado, assim como conta hoje com pessoal treinado e capacitado que atua num prédio tombado, e assim protegido, pelo governo do estado do Pará .
Sabendo-se que este foi , na verdade, o segundo prédio da Reitoria temos outra questão a elucidar. As razoes pelas quais o Prof. José Silveira Neto optou por adquirir, alugar, e provavelmente indicar para desapropriação governamental, pelo menos três prédios de autoria de um mesmo arquiteto. A primeira sede da reitoria, na avenida Nazaré, faz parte do conjunto de três palacetes projetados por Filinto Santoro para políticos paraenses. O primeiro a ser erguido, em 1903, é o palacete Montenegro, de propriedade do Governador do período, Museu da UFPA desde 1985, o segundo foi a casa do senador Virgílio Sampaio , ao lado deste e que serviria à administração da UFPA por muitos anos (hoje pertencendo a uma universidade particular). O terceiro, que foi o da primeira Reitoria pertenceu ao senador Marques Braga. Deles dizem as biografias de Santoro: “O palacete do Senador Sampaio é mais ou menos do mesmo estilo do palacete Montenegro, o outro, do Senador Braga, construído em um péssimo terreno, muito estreito, apenas 11 metros de frente, recorda o estilo lombardo.” (Segrè, R. Il Cav. Ufficiale Filinto Santoro, p.45).
O apelo ao “estilo lombardo” parece ter caído no gosto da elite local pois, ainda hoje, se encontram vários prédios na avenida Governador José Malcher e adjacências que copiam as aberturas e os ornamentos do elegante palacete. Abandonado há muitos anos desconhece-se o estado atual do prédio que, na década de 90 chegou a ser restaurado e serviu como galeria de arte.
Na ultima década os dois quarteirões iniciais da avenida Nazaré tem enfrentado o que se poderia chamar de “morte anunciada”, varias casas de azulejos estão reduzidas a fachadas decrépitas, o palacete Faciola, de autoria do arquiteto paraense José de Castro Figueiredo, apenas mereceu obras que o impediram de cair mas permanece abandonado. A sede da primeira Reitoria é apenas uma ruína a mais, se somando ao quadro de destruição.
*Jussara Denenji é arquiteta e professora aposentada desta FAU;
ocupa a função de Diretora do Museu da Universidade Federal do Pará.
Vale recordar que depois de servir como reitoria ele ainda continuou prestando serviços a UFPA, pois foi a sede da Faculdade de Ciências Econômicas, Contabéis e Atuárias.
Parabéns pelo resgate das nossas instituições.
Prof. Jussara Derenji gosto de contar histórias aliadas a fotografia, descobri e tô lendo todos os seus artigos sobre o arquiteto italiano Filinto Santoro. Apesar de médico adoro arquitetura meus finais de semana passo fotografando o que ainda resta de bonito pela cidade. Muito obrigado e parabéns!!.