A moçada de Representação e Expressão II já está no clima do Círio 2011: o Abílio e o Rafael, da turma da tarde, encontraram uma “santinha” perto do Chalé de Ferro; à semelhança do caçador Plácido José de Souza.
Mas…muita calma nessas horas: a imagem que ficará em destaque no Blog da FAU durante a Quadra Nazarena não está definida; isto só ocorrerá na próxima terça-feira, com a participação de todos.
Se tudo der certo, e a Nazica assim o permitir, poderemos até arriscar uma tela serigráfica em oficina demonstrativa do professor Ronaldo Moraes Rêgo, que mais uma vez nos honra com sua presença no Laboratório de Modelos da FAU.
Veja a marca vencedora do ano passado.
A natureza sempre nos proporcionando boas ideias.
Isso é bom sinal! a santinha está proxima de nossa FAU.
Dar as asas dos anjos à nossa imaginação, afinal, a MÃE NATUREZA nos deu uma grande.
Com essa folhinha que sintetiza a nossa Santinha com seu manto, encontrada ao lado do Chalé, anuncia bons tempos, repletos de prosperidade e amor.
Poderíamos trabalhar tendo como ponto de partida a FOLHINHA ABENÇOADA.
A natureza é uma caixinha de surpresa!!!
A minha natureza me fez pensar imediatamente num falo. Mas já que estamos na época do Círio, a imagem da santa socorre minha imaginação e espanta o sacrilégio.
Um bom Círio para nós todos!
Muito interessante a origem e muito interessantes os resultados, ainda mais se considerarmos que são alunos de uma faculdade de arquitetura e não profissionais das artes gráficas e design.
Mas a Marga, aí em cima, está coberta de razão, é um falo, e medonho.
E não há sacrilégio algum na santa ter o formato de um pênis, isso prova que ela é poderosa e resolve os problemas dos paraenses.
Parabéns ao Abílo e ao Rafael pela “sacada”, nota 10.
E VIVA NOSSA SENHORA DE NAZARÉ!
COMPLEMENTANDO MEU COMENTÁRIO PASSADO
“O culto do pénis
Os antigos, através de simulacros da masculinidade, veneravam o sol e a natureza. Esses simulacros eram denominados falos pelos gregos. Na sociedade moderna, cada vez mais globalizada, qualquer falo parece obsceno e indecente. Antes não o era. Pelo contrário, era considerado uma imagem sagrada, venerada como objecto de culto. Era considerada um símbolo místico e religioso, representava a força da primavera e a fecundidade da terra, protegia a vida contra as forças malignas que pudessem ameaçá-la (Brenot, 1994).
O culto do simulacro da masculinidade estendeu-se por todo o globo, com maior ou menor expressão nalguns locais. Vigorou no Egipto, na Pérsia, na Síria, na Grécia, em Roma. Floresceu na Índia e no Japão. Estabeleceu-se em África. Quando os europeus chegaram às Américas, descobriram-no na cultura maia e azteca. Um culto tão antigo e tão espalhado universalmente não pode deixar de nos espantar e questionar.
Foi no período pré-histórico que surgiram as primeiras representações fálicas. A imagem do homem deitado com o pénis erecto, ao lado de um bisonte estripado e de um pássaro empoleirado, pintada nas paredes da gruta de Lascaux), é uma das mais antigas representações fálicas conhecidas. Também os menires, monumentos telúricos de evidente simbolismo místico e religioso, ligados ao sol e à primavera, são velhas representações de masculinidade.
Dulaure (1998) defende que a origem do culto do falo está não só ligado ao equinócio da primavera como também aos signos zodíacos do Touro e do Carneiro. Na verdade esses animais, pintados ou esculpidos, com os genitais bem evidenciados, foram sempre identificado com o sol e com a primavera, adorados como deuses em muitas civilizações. O touro foi particularmente venerado, sob nomes diversos. No Egipto existiu como boi Ápis, touro Mnevis, touro Onufis. Os hebreus receberam dos egípcios o bezerro de ouro, destruído por Moisés. Nos gregos existia o touro de Cádmio e o touro de Maratona. Os Romanos veneravam o touro expiatório e os escandinavos adoravam Thor (touro), no templo do sol de Upsala.
Com a expansão da idolatria e do culto dos mortos, a imagem do falo passou a estar integrado na representação da figura humana, deixando de estar associado aos animais. Passou a apresentar-se desproporcionadamente grande, quase tão grande como o resto do corpo, mostrando como o falo era o verdadeiro objecto da veneração.
Algumas vezes a metamorfose animal-homem não foi completa e surgiram figuras mistas. A representação de chifres em figuras humanas é um dos mais marcantes vestígios dessa fase, mas também há touros ou bodes com expressão humana. Na mitologia grega, as imagens mais representativas desta metamorfose incompleta foram a do Minotauro, touro com cabeça humana, e a do deus Príapo. A história deste último é particularmente significativa.
Príapo era filho de Afrodite e de Dionísio. Hera, esposa de Zeus, preocupada com a beleza que poderia ter o filho de tais deuses, tocou o ventre de Afrodite para que o ser concebido nascesse feio e disforme. A criança nasceu com cornos, orelhas, cauda e pés de bode, para além de um pénis tremendo, desmedido. A mãe, receosa dos comentários jocosos dos outros deuses, abandonou-o num monte, onde foi encontrado e protegido por pastores. Príapo passou a ser venerado como o deus fecundante, camponês, protector do gado, das hortas e dos jardins. A sua representação habitual exibe-o completamente nu, ou apenas com uma curta túnica que deixa à mostra o descomunal falo.
A alegoria que relacionava alguns animais com o falo foi também evidente na lenda de “Leda e o Cisne”. Leda era uma mulher casada e séria, que repudiava todas as tentativas de aproximação de Zeus. Este, em desespero, disfarçou-se de cisne, cuja longo pescoço passou a ser o objecto de sedução, prazer e perdição de Leda.
Na verdade, na cultura grega o culto do falo existiu pujante. A representação monumental de pénis erectos, à entrada de edifícios públicos, nomeadamente templos e teatros, é bem reveladora da importância simbólica que era atribuída ao pénis e à masculinidade. O altar fálico de Dionísio, na ilha de Delfos, é um dos exemplos mais marcantes dessa representação monumental. Nas procissões religiosas era também frequente as mulheres levarem imagens masculinas, com cordéis que ao serem puxados expunham um desproporcional pénis, quase tão grande como as próprias imagens.
Também a civilização romana foi rica em obras com um conteúdo fortemente erótico. Por exemplo, na cidade de Pompeia, preservada sob a lava que destruiu a cidade, encontra-se a casa de Vetti, um dos mais luxuosos prostíbulos da cidade. As suas paredes estão pintadas com dezenas de frescos que mostram diversas práticas sexuais. À entrada da casa surge o imponente retrato, produzido entre 100 a 63 anos AC, de um homem que avalia em ouro o peso do seu gigantesco pénis.
Também eram frequentes as imagens de Príapo ou de Mercúrio, muitas vezes em bronze, em diferentes posições e atitudes, mas sempre exibindo os seus grandes falos.
Uma representação diferente é a dos ex-votos, objectos destinados a serem oferecidos aos deuses em reconhecimento de doenças curadas ou melhoradas, representando as partes do corpo em sofrimento. No caso dos ex-votos fálicos, o reconhecimento podia dever-se não só por doenças curadas, como também em reconhecimento de façanhas amorosas ou sexuais.
Outro tipo de representação de culto eram os falos-amuletos, usados suspensos nos pescoços e nos ombros de homens, mulheres ou crianças, destinados a desviar efeitos de olhares invejosos, força essa mais poderosa quando os amuletos haviam sido abençoados por um sacerdote. Ou eram dependurados em imagens idolatradas, nas portas das casas ou no rebordo dos carros.
Tudo isso mostra como, na cultura romana, o erotismo chegou a ser verdadeiramente sacralizado e o pénis a ser adorado como símbolo de força e fertilidade.
Após a queda do Império Romano, com a crescente influência do cristianismo, o culto do falo foi diminuindo. A partir do século IV, os “pais da Igreja”, particularmente Santo Agostinho, reinventaram o pudor e o pecado. A doutrina bíblica ensinava que Adão e Eva, quando expulsos do Paraíso, haviam sentido vergonha da sua nudez e coberto a região púbica com folhas de árvore. A representação do pénis foi pois remetida para uma acção proibida. Até ao final da idade média o nu quase só apareceu na imagem de Cristo na cruz e no tema de Adão e Eva. Mas os genitais masculinos eram sempre pudicamente encobertos por roupa ou por folhas de árvores.
Com o Renascimento, a representação do pénis reapareceu na pintura e na escultura. O falo, antes associado ao divino, passou a estar associado ao masculino. Os primeiros estudos e desenhos anatómicos foram desenvolvidos por André Vesálio e Leonardo da Vinci, entre outros. As pinturas e esculturas religiosas de Miguel Angelo e outros artistas assumem o nu e a exposição do pénis. Mas a Igreja em muitos casos mandou tapar a representação do pénis, à revelia dos desejos ou da memória dos seus autores.
No século XVIII, ressurgiu a arte erótica, acompanhando uma igual tendência na literatura. O pénis passou a ser mostrado como a masculinidade dominadora, adorado pelas mulheres e venerado pelos homens. Ou seja, o culto do falo reacendeu-se.
Mas só no século XX, com o desenvolvimento de novas formas de expressão artística, como a fotografia, o cinema e a banda desenhada, o nú masculino foi assumido plenamente. As provocações transgressoras das vanguardas artísticas consumaram a rotura. O pénis passou a ser representado com uma fortíssima carga erótica, por vezes agressiva, chocante, raiando o pornográfico.
As fotografias de Mapplethorpe, por exemplo, reflectem um realismo e uma realidade muitas vezes voluntariamente ignorada. Invocam sobretudo conceitos de raça, de homossexualidade, de masculinidade.
Nesse contexto de mudança, dentre as representações artísticas mais perturbadoras, estão os desenhos de Tom de Finland, cujas figuras masculinas, em permanentes atitudes de provocação homossexual, sobressaem de virilidade e masculinidade, com corpos musculosos e genitais exuberantes.
Cada civilização, cada época, cada artista representou-o segundo os seus conceitos. No princípio de um novo milénio, na era da informação e da globalização, o culto do pénis persiste. Mau-grado variadas contracorrentes, o pénis continua, talvez até mais do que nunca, a simbolizar a condição masculina e a masculinidade.”
Autor: Nuno Monteiro Pereira
© 2005, Clínica do Homem e da Mulher