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A Arqueologia da Arquitetura — disciplina que nasce na Itália em meados dos anos 70 no âmbito da grande tradição de restauro e do desenvolvimento da Arqueologia Medieval (T. Mannoni, G. P. Brigiolo e R. Perenti) — aglutina diversos conhecimentos, não só de materiais e técnicas construtivos datados, mas de tudo que se relacione à memória de uma edificação e seu contexto físico e sociocultural.
A Chácara Bem-Bom ou “Casa do Facióla”, como era tradicionalmente conhecida no bairro do Marco, em Belém do Pará, guarda certa semelhança com a Casa de Dona Yayá, no bairro do Bixiga, em São Paulo.
Ambas são chácaras do final do século XIX com edificações em estilo eclético.
A Casa de Dona Yayá “…foi transferida para a USP, como herança jacente, em 1961, após o falecimento da proprietária, Sebastiana de Mello Freire…”, segundo Dossiê do Centro de Preservação Cultural da USP.
Já a Chácara Bem-Bom (imóvel e áreas laterais) foi desapropriada pela Prefeitura Municipal de Belém em 1999 após seu desabamento.
O mesmo Dossiê explica que: “Os estudos documentais e prospectivos empreendidos pelo CPC-USP entre 1989 e 1991 demonstraram que a velha casa, para além das suas características arquitetônicas formais, encerrava múltiplos valores e significações ao testemunhar em sua evolução modos de construir e morar.
Em seu núcleo resistem intactas as paredes de um dos mais antigos chalés de tijolos construídos no final do século XIX no bairro do Bexiga; o jardim é resquício da grande chácara que o rodeava; as pinturas murais testemunham técnicas e práticas artesanais do período; o anexo (parte construído nos anos 20 e outra nos anos 50) indica a maneira de realizar o tratamento da doença mental em meados do século XX. Desse modo, unem-se os valores históricos da casa aos da memória social, os interessantes aspectos técnicos e artísticos ao de testemunho de costumes.”.
A Chácara Bem-Bom, ao contrário da Casa de Dona Yayá, não teve a sorte de ficar sob os auspícios de uma instituição capaz de recuperá-la nos moldes científicos necessários.
Apesar de um jornal local noticiar, em junho de 1999, que a empresa Paulo Brígido Engenharia LTDA, “…ficou responsável por coletar todas as peças que compõem o acervo do solar…” e ter, do mesmo engenheiro, a garantia de que “a estrutura do prédio está perfeita, dando condições para a restauração completa. ‘Nada é impossível para a engenharia. A fachada está na íntegra, e as esquadrias dá para aproveitar’…”; coisa alguma dessa natureza foi vista pelos munícipes de Belém.
No local desapropriado pela Prefeitura Municipal de Belém erigiu-se um hospital que inicialmente serviria à saúde mental e hoje, em boa parte equipado, pretender-se-á como apoio pós-operatório ao Pronto Socorro Municipal com 40 leitos; uma presunção de caráter político, pois há 12 anos tal obra se arrasta, sem conclusão ou satisfação à população.
O audiovisual aqui produzido reúne fotografias de época e ilustrações que compõem dois trabalhos acadêmicos desenvolvidos no curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará, além de notícias de jornais e outros documentos pertinentes ao assunto.
Esse levantamento, que necessita de continuidade investigativa, poderá subsidiar uma reconstituição virtual do Bem-Bom — há meios digitais atuais capazes de resolver muitos desses dilemas e outros aplicativos surgirão.
No vídeo observa-se que a “restauração” do imóvel não obedeceu a nenhum conceito nem a metodologia empregada na Arqueologia da Arquitetura, resultando em distante recomposição que quase nada guarda dos tempos idos; sobrou-lhe apenas a fachada e uma parede lateral, todo o restante foi demolido deliberadamente em prol da nova construção.
Há sim dois chafarizes que ornamentam as laterais do “solar” desde o século XIX, confecionados na mesma pedra que parte do muro da travessa Barão do Triunfo; um está intacto e guarda sua originalidade, o outro, recuperado, teve a fonte descaracterizada.
Um registro feito em 2008, que empresta imagens à coletânea, mostra que três conjuntos de ladrilhos hidráulicos remanescentes de uma das soleiras do pavimento térreo foram retirados nesse interim; a reprodução do padrão obtido com a junção dos módulos, ampliada, serviu como modelo à decoração dos dois pisos que nos primórdios eram em tábua corrida macheada com desenhos que combinavam acapú e pau amarelo.
Na realidade a Chácara Bem-Bom também foi retalhada em sua essência espacial e três prédios surgem no local: um público (PMB) e dois privados.
As escavações feitas para suas fundações, além de eliminarem a vegetação característica da paisagem, apagaram os vestígios que porventura o solo guardava.
Por ora os recursos tecnológicos virtuais são o único alento à recuperação de um lugar de retiro de um homem abastado e público (senador estadual e intendente municipal) que alimentou a imaginação popular com “causos” curiosos propalados pela redondeza; essa “tradição oral” ficará para outra oportunidade.
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Belíssimo trabalho mermao
Soh serve pra dah + raiva
Só axei q o texto ta passando mto rapido.
trilha um arraso
posso reproduzir no sitio forum landi?
Claro Flávio, reproduza; pode ser que uma farta divulgação cause um efeito positivo nas gerações futuras.
Este é um piloto; espero que algo melhor surja com tecnologias mais adequadas.
Mas…como diria o Gileno Müller Chaver: “A origem de tudo é a miséria.”.
Concordo com o professor Flávio Nassar é um belíssimo trabalho que dá ódio nas pessoas e vontade de matar o Edmilson e o Duciomar com um único tiro.
O engraçado é que mesmo depois que ele caiu, haviam 3 estátuas em cima. Iniciada a restauração, uma desapareceu…
Usando as palavras do Fábio Castro:
“Se for possível, para o Observador, narrar essa cidade,
a sua função principal estará em polir as pedras e colecioná-las:
poli-las até mineralizá-las, para que reflitam o havido com certo esplendor,
e colecioná-las para que os fragmentos sejam salvos”.
[FABIO CASTRO, na tese “A Cidade Sebastiana”]
HB, faz desse texto uma dissertação!
Jorge Eiró