A Corespondencia dum Maire (Cartas á Cuné); Anônimo, 1906
Livro em pdf do Laboratório Virtual (antigo Blog da FAU).
Material digitalizado e enviado pela professora Ana Margarida Leal.
Postscriptvm (05/04/2015):
Aluizio Leal fala sobre o livro digitalizado por sua irmã Ana Margarida ― tal escrito fazia parte da biblioteca de dona Maria de Nazaré Leal, mãe de ambos, entretanto, possui dedicatória a Joaquim Antunes, datada de 20 de janeiro de 1906, mesmo ano da publicação, assinada por alguém de sobrenome Marques.
O livro demanda pesquisas em documentos históricos que chequem a veracidade e datação dos fatos e dos nomes nele citados, essência das galhofas; mais ainda: dos termos empregados à época, cifrados na cultura e na ignorância, em um só tempo.
Nas cartas de Polycarpo e a Polycarpo, “coronel de barranco” como diz Aluizio, sabe-se dos acontecimentos pelos bastidores (em intimidades) dos poderosos, já que o Capitão era um maire (de um interior fictício do Pará), prefeito na língua francesa ― o que a ele pareceria chique.
O ex-furturo major e seus interlocutores (Cuné é uma dentre eles) dão à imaginação as touradas, os banquetes no Bosque, o Carnaval na Batista Campos, o lança-perfume (produto francês que apareceu no Carnaval de 1904 no Rio de Janeiro), a viagem de Lemos ao Rio de Janeiro, um voo de balão mal sucedido, as animosidades políticas entre Lemistas e Lauristas, mais outras coisas que melhor se alcançaria pelo entendimento da linguagem.
Botá-lo [o livro (por suas expressões)] “ao dia”, como diz Leal, estaria aberto a uma bela tese.
O áudio publicado acima é uma resposta do meu irmão Aluizio a mim, quando consultado sobre a procedência do livro na família; e também um breve esclarecimento sobre expressões de dialeto contidas no texto.
O “Cartas à Cuné” era um livro lido pela minha mãe em momentos de distração/descontração [talvez com a mesma função que, hoje, nos regozijamos com os áudios do Epaminondas enviados por whatsapp]. Os personagens Nhá Cuné e Polycarpo eram frequentemente evocados nos nossos diálogos familiares, de forma jocosa e compartilhada. No livro, Cuné serve de “deixa” para a sátira do “major” Polycarpo, que lhe escrevia cartas diárias relatando sua propria interpretação das novidades, pessoas e costumes da capital (hilário!). Ao mesmo tempo que descreve suas impressões, o major também recomenda à Cuné que tome algumas providências (por ele) no lugar onde ela ficou (um interior qualquer). Refere-se à roça de mandioca, aos xerimbabos, ao pagamento com base na troca, à cobrança de dívidas, faz referencias comparativas a figuras dessa comunidade etc. Dessa forma, deixa também transparecer hábitos interioranos, sistemas e relações. Eu, pessoalmente – sétima filha de oito irmãos – não faço a menor ideia de como este livro veio parar na família. Quando o digitalizei recentemente, precisei redobrar os cuidados com o manuseio, pois o papel está se quebrando. “Cartas a Cuné” foi editado em Portugal, na cidade do Porto e o autor é desconhecido. Sem dúvida, uma literatura (popular) que dá muitas pistas dos traços culturais da Belém da primeira década do século XX.
Fantástico, uma grande (re)descoberta. Muito obrigado por disponibilizarem.