Um pequeno equipamento urbano em estilo Art Decó circundou a Praça do Relógio por décadas: era um posto de combustível chamado PARÁ, localizado no canteiro central da travessa Marquês de Pombal, defronte ao casario antigo.
Três novas fotografias enviadas ao BF, sem autoria ou datação credenciadas, fazem-nos crer, por análises, que tal edificação é anterior à gestão Alberto Engelhar e compunha um outro cenário, entre os quiosques de alvenaria de Bolonha, o Clipper n°1 em sua forma original não duplicada e o ponto de carros de praça das garages Jaboti e Popular.
Certeza 01:
No detalhe do registro fotográfico feito por Robert Platt em 14 de outubro de 1935 o Posto Pará não aparece.
Certeza 02:
Imagem que mostra a construção do CLIPPER no canteiro central da Avenida Portugal, defronte à 13 de Maio, obra dada como concluída no relatório de Alberto Engelhard (1943/1945), publicado no jornal O Liberal de 02 de junho de 1947.
A datação dada pela Biblioteca Pública Arthur Vianna, de 1947, entra em absoluto conflito com o relatório de Engelhard.
Janelamento da fotografia anterior onde se percebe que há uma construção interferente na leitura das linhas de uma fachada do casario; ao lado esquerdo desse espectro, que revela o Posto Pará, há uma árvore, visível por cima dos ônibus; mais adiante, à direita, vê-se o quiosque.
Essa imagem, por mais que não possua datação e autoria, segundo a documentação publicada em O Liberal, está compreendida entre os anos de 1943 e 1945.
Certeza 03:
Folhinha de 1952 com fotografia colorizada de Ralf Kircher; se a imagem obedece à lógica de ser do ano anterior (1951), percebe-se o descampado, sem os quiosques e um barracão que sugere canteiro de obras.
Engelhard, em seu relatório (1943-1945), diz: “(…) poderemos citar as obras que serão iniciadas dentro de breves dias na praça do Relógio, com o fim de reduzi-la e transformá-la em local de estacionamento de automóveis públicos e particulares; a construção na mesma praça de dois grandes Abrigos para passageiros de ônibus, onde serão localizados dois postos de abastecimento de combustíveis (…)”.
O novo calçamento está registrado, entretanto, os dois grandes abrigos (CLIPPERS) não foram levados a cabo na gestão Engelhar.
Não há ângulo à visualização do Posto Pará, mas sabe-se que ele lá estava no tempo dos quiosques de alvenaria.
Conjecturas:
Imagem ampliável para plena visualização e franca interpretação
Panorâmica composta por duas cenas entre a Praça do Relógio e a Praça D. Pedro II onde se enxerga a ponta da cobertura de um quiosque, a duplicação feita no CLIPPER defronte à Praça do Relógio, as garages Jaboti e Popular, o CLIPPER da 13 de Maio concluído, a redução da Praça do Relógio com estacionamento em 45° e a finalização das obras no prédio da Importadora de Ferragens − Armazém Âncora.
As duas fotos, sem datação precisa, são do setor de obras raras da Biblioteca Arthur Vianna e, pelas certezas: posteriores a 1945 e anteriores a 1951; vide início do skyline, indício seguro do ano.
Alguém na biblioteca arriscou datá-las de 1948, o que é possível.
A fotografia acima, também pertencente ao acervo de obras raras da Biblioteca Pública Arthur Vianna, mostra um reparo na Praça do Relógio onde o Posto Pará é protagonista.
Pelo desenho do calçamento em pedra a praça já estaria reduzida e com os dentes de 45°, o que nos faz crer que é uma reforma interna do logradouro.
A anotação na foto, arriscando o ano de 1947, tem bastante sentido, principalmente pela vegetação.
Fotografia digitalizada pelo BF pertencente ao acervo de Inah Faciola (falecida em 1982) possivelmente do ano de 1949, nela se vê a conclusão e funcionamento do prédio da Importadora de Ferragens − Armazém Âncora.
O pai de Inah, Antonio Faciola, quando intendente de Belém, encomendou e, dizem: pagou do próprio bolso o relógio que teima em dar nome à praça Siqueira Campos.
Fotografia que circula na Internet atribuída ao acervo do IBGE que, pela semelhança dos coletivos e vegetação circundante, também registra os anos finais da década de 1940, nela o Posto Pará aparece de modo frontal com leitura ao letreiro em ferro.
Cartão postal do blog Antigos Verde Amarelo que exibe a Praça do Relógio no início dos anos 1970, nela o Posto Pará aparece reformado e sutilmente ampliado, mantendo coerência com o Art Decó original.
Ao lado esquerdo da imagem se vê um dos dois grandes Abrigos prometidos por Engelhard que só apareceriam depois de 1951, em outra, ou outras gestões.
Curiosamente os CLIPPERS imaginados por Engelhard se alinharam ao Posto Pará, na Marquês de Pombal, formando um corredor de abastecimento para automóveis e ônibus, como no postal acima, que mostra fuscas estacionados na Praça do Relógio convivendo com automóveis de modelos mais antigo, tal qual a arquitetura dos abrigos.
Acreditamos, pelas evidências, que o Posto Pará surgiu durante a administração Abelardo Condurú (1936/1943), como o Clipper nº1 e o ponto dos carros de praça das garages Jaboti e Popular.
Abelardo Condurú, prefeito eleito pela Câmara Municipal, teve todo o seu mandato sob a interventoria federal de José Carneiro da Gama Malcher, entre 1936/43 − Malcher assumiu em 1935.
Nas imagens da postagem A polícia ART DECÓ de Belém (mas…e os CLIPPERS?) se percebe a valorização do estilo em construções desse período, bem mais coerentes no conjunto estético que as consecutivas, pelo menos na Cidade.
Postscriptvm (o1/11/2014):
Acompanhe a evolução da pesquisa pelo SUMÁRIO que dá acesso às postagens sobre CLIPPERS até 24/10/2014.
Algumas informação contidas nesta postagem podem ter caído por terra em consequência da aparição de novos registros documentais.
Não fazemos nenhuma reparação nos textos originais, apenas colocamos esta nota ao final das publicações cobertas pelo período do resumo.
Aprendamos com os nossos erros.
Maravilhosa a condução investigativa, parabéns.
Este site tem informações preciosas sobre a cidade de Belém.
Quem bom,
Há mais uma questão que enolve a Praça do Relógio e entorno, as fotos do acervo do IBGE e o postal do Blog Antigos Verde e Amarelo permitem observar a demolição de edificação na esquina da Pe. Champagnat para facilitar a passagem da procissão do Círio. Apesar de ter alcançado o objetivo, ficou o malogrado prédio da loja na esquina e a quebra do ritmo das fachadas ao longo da sede do Instituto Histórico e Geogràfico.
Zé Júlio:
Mutações da paisagem urbana de Belém e 1965: a MARRETA da Ditadura Militar são postagens do BF (2012) que alisam a superfície do assunto e devem ser revisadas por conterem datações equivocadas.
Se quiseres escrever sobre, é uma boa chamada de atenção tanto ao tema, quanto às correções.
Prezado amigo Baleixe
Você realmente é um apaixonado pela nossa querida Belém.
Parabéns por mais essa pesquisa.
Abraço do
Bassalo
Amigo Baleixe, adorei essas fotos da nossa verdadeira Belém.
Parabéns pela valiosa pesquisa.
Abs, Celia Bassalo.
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Obrigado Professora, principalmente por tê-la aqui, a nos prestigiar.
Respondo ao Paulo Sergio Fontes Nascimento que me enviou as fotos.
A saudade vem mergulhada na mesma.
Eu que cheguei por aqui no final dos 50 para estudar no Carmo tenho essas paragens da Pça. do Relógio viva no meu portal de (boas) lembranças.
Cidade desenvolvida eramos… hoje não sei o que somos.
Uma bela recordação. Em agosto de 1953, aos 14 anos, comecei a trabalhar no Armazém ÂNCORA, como Office Boy. Conheci o Posto Pará e os Clippers, onde ia comprar Garapa (caldo-de-cana e pão-doce ou sanduiche) para merenda dos colegas.
Site de preciosa sensibilidade e grande seriedade de pesquisa sobre nossa amada Belém. Gratidão