A atrapalhada memória de Heliodoro de Brito em 1930 – ficção?

estrada-de-sao-joseLitografia de Joseph León Righini publicada em 1867: Estrada de São José

Feira do Som, da Rádio Cultura, contradiz o Blog da FAU causou polêmica por “derrubar” a pesquisa contida em Onde ficava o Jardim Mythologico de Belém do Pará?.
A resposta correta à pergunta do programa Feira do Som da Rádio Cultura do Pará não poderia ser outra que Estrada da Independência;  todavia, uma transcrição de matéria do jornal Folha do Norte datado de 01JAN1930 assinada por Heliodoro de Almeida Brito (irmão do amazonense Paulino de Almeida Brito)  fez com que o local real fosse substituído por outro vindo da complexa memória de seu autor: Estrada de São José, onde hoje se localiza o Hotel de Trânsito de Oficiais do Exército Brasileiro e já foi a Estação do Jardim Público da Estrada de Ferro de Bragança – o texto veio à baila pelo professor Fabiano Homobono.
Heliodoro parece ter trocado, sem cerimônia, o nome dos Campos Elyseos por Jardim Mythologico; os Campos Elyseos (apodo que não se popularizou),  ao que tudo indica, constituíam a área do Jardim Público explorada por Antonio do Ó de Almeida de 1880 até 1888 com a implementação da estação ferroviária na Estrada de São José – do Ó pediu indenização em 1889 pelas benfeitorias que lá fez.
O verdadeiro Jardim Mythologico, inaugurado como Circo Olympico em 1870, funcionou até 1874 na Estrada da Independência; ou seja: seis anos antes do arrendamento feito, salvo improvável homônimo, pelo sogro de Lauro Sodré na Estrada de São José.
Vejamos a análise do documento de Heliodoro em confronto com periódicos da época em que atos e fatos se deram:

fn-materia-de-heliodoro-de-almeida-brito
Ampliável à leitura

Análise do artigo de Heliodoro de Almeida Brito em PDF.


Postscriptvm:

Na realidade o Jardim Público fora explorado pela família Ó de Almeida desde 1878 quando Leopoldo do Ó de Almeida firmou contrato com a Província; com seu falecimento em 1880 Antonio do Ó de Almeida – seu pai – passou a ser o arrendatário do terreno:

recortes-leopoldo-do-oEssa novidade pretérita pode habilitar mais um filho no quadro de descendentes de Antonio do Ó de Almeida mostrado no final de José do Ó de Almeida — precursor da fotografia em Belém.


Postscriptvm 2:

diario-de-belem-16fev1888
Paulino de Brito estava com 29 anos; Heliodoro, se mais moço, tem sua primeira memória na decadência que provocou o arrendamento do Jardim Publico em 1873; depois salta para os bailes públicos, possivelmente como frequentador, para compará-los ao “nosso horto” da “imaginação de cre(a)nça” que tinha “o tosco portão que se abria para a então estrada de São José” – um escrito a serviço da Literatura não da História.


Postscriptvm 3 (07JUN2017):

Heliodoro Brito, na foto com gravata borboleta, era secretário do intendente de Belém, Antonio Facióla, no ano de 1930.

Antonio Facióla com netos e Heliodoro nos jardins da Chácara Bem-bom.

Sobre o Projeto Laboratório Virtual - FAU ITEC UFPA

Ações integradas de ensino, pesquisa e extensão da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará - em atividade desde maio de 2010. Prêmio Prática Inovadora em Gestão Universitária da UFPA em 2012. Corpo editorial responsável pelas publicações: Aristoteles Guilliod, Fernando Marques, Haroldo Baleixe, Igor Pacheco, Jô Bassalo e Márcio Barata. Coordenação do projeto e redação: Haroldo Baleixe. Membros da extensão do ITEC vinculada à divulgação da produção de Representação e Expressão: Dina Oliveira e Jorge Eiró.
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4 respostas para A atrapalhada memória de Heliodoro de Brito em 1930 – ficção?

  1. Paulo ANDRADE disse:

    Ora, já me manifestei pela irretocável versão do Blog da FAU, que vive dessas pesquisas no nível da paixão. Lamento que o valoroso programa de Edgar Augusto se tenha deixado levar por uma pesquisa de algibeira, sem desmerecimento do conhecido Grisalho Couto que, a bem da verdade, tem encontrado muita coisa importante sobre a História de Belém. Mas aqui, no Blog, se trata de compromisso com a verdade histórica, ainda mais quando um assunto relevante e corretamente pesquisado é posto em dúvida. Então Homem Bom, professor doutor Homobono, faça como no samba, “reconheça a queda e não desanime, levante sacuda a poeira e dê a volta por cima”.

  2. Rachel Miranda disse:

    Que passa? Uma guerra ou apenas vaidades de títulos?

  3. Alessandra Caleja disse:

    Olá. Em nome do Programa Feira do Som, venho dizer que vamos voltar a abordar o assunto agora no mês de janeiro de 2017.

  4. Acompanho este site faz tempo e só agora vi uma contestação que se pode chamar de bombardeio amigo.
    O termo Jardim Mitológico, Jardim do Éden, Jardim das Delícias, Jardim das Ninfas, Jardim de Fauno, Jardim de Apolo, Jardim de Zeus, Jardim de Era, etc, eram bastante comuns nos séculos XVIII e XIX.
    O que vejo no caso de Belém é que o Jardim Mitológico da Estrada de Independência tem farto registro de propaganda em jornais.
    Alguém aí já imaginou que esse outro da Estrada de São José pode ter sido de um abastado senhor que resolveu encher seu jardim particular com aparatos que chamavam a atenção da população e virou marco e referência do lugar?
    Chafarizes, estatuetas, labirintos, cascatas, grutas… o mercado estava repleto dessas coisinhas carnavalescas para ser vendidas aos ricos e os jardins eram sinônimo de status.

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