O Palacete Faciola, que só passou a ter essa nomenclatura a partir de 1916, ficou originalmente conhecido como Palacete Silva Santos, de propriedade de Bento José da Silva Santos, morador (dono) da emblemática Rocinha do Museu Paraense Emílio Goeldi até 1895 quando encomendou o projeto da construção à avenida Nazaré n°28 (numeração de época) que seria inaugurada e habitada em 1898 – mesmo que parcialmente construída.
A equipe do Laboratório Virtual possui apenas duas fotografias datadas donde se vê o Palacete pela esquina (fachadas de Nazaré e Doutor Moraes): uma de 1898-99 (Bento) e outra de 1929-30 (Faciola).
Na publicação Palacete Silva Santos/Faciola – a dinâmica da investigação se analisou um cartão postal sem datação – posterior ao ano de 1907 pela presença de bondes elétricos na cena -; tal estudo, focado em um detalhe dessa imagem, revelou que houve aplicação de ladrilhos no embasamento da edificação e… nos fez perceber um inusitado portão de ferro precedendo a porta principal de duas folhas almofadadas em madeira.
Tal portão, inexistente no plano de fachada de José de Castro Figueiredo e na primeira foto do sobrado, perdeu relevância pela falta de justificativa à sua presença; algo inusual, ou mesmo disfuncional: um portão diante de uma porta? Não deve ter durado, acreditou-se.
Todavia…:
Surge esta fotografia de 1895 tirada de dentro da Rocinha do Goeldi com mirada à Estrada da Independência; tal estampa, integrante do acervo da família Huber, na Suíça, foi-nos fornecida pelo pesquisador Nelson Sanjad, do Goeldi; nela se acha a justificativa, ou o sentido de um portão em gradil confronte em poucos centímetros a um portal: uma cancela.
Daí o portão-cancela, de grande utilidade na Rocinha do Goeldi, rodeada de vegetação com bichos (que não podem entrar) e crianças (que não devem sair); mas… e em Nazaré? Donde o portão se desalinha à via pública (fora do imóvel) pelo degrau da soleira: estranho não?
Muitas das coisas vistas na Rocinha do Goeldi parecem se replicar na nova casa de Bento em Nazaré: o portão-cancela é uma; a bandeira, também em ferro com as iniciais BJSS, outra:
As pinturas decorativas presentes nas duas casas: Rocinha e Palacete; rodapés, frisos, assoalhos…:

Mas, voltemos ao portão-cancela no Palacete de Nazaré, visto no post card que já mostra os bondes elétricos, perigo iminente às crianças que fossem à rua; no caso, Bento dava moradia ao seu filho Bento José da Silva Santos Júnior, à sua nora Rosa Monard (da Silva Santos) e aos seus seis netos filhos deste casal, donde o mais velho tinha 13 anos em 1907.
Portão-cancela em Nazaré: segurança, circulação, iluminação e paisagem com bondes elétricos – na Rocinha: quatis, cotias, antas, tatus, veados, cobras… e um sino para interromper o sossego da intimidade protetiva.
Bento pai morreu em 1908, aos 67 anos; Bento filho, herdeiro do Palacete Silva Santos, sucumbe aos 49 anos em 1915.
Detalhe de fotografia feita pelo geógrafo estadunidense Robert Larimore Pendleton em 1949 tratado pelo Laboratório Virtual; na imagem se vê, à direita totalmente aberto atrás do banco e encostado na parede da Rocinha do Goeldi, o portão-cancela (à esquerda seu batedor central); ou seja: há certeza que o portão não foi reaproveitado no Palacete de Nazaré.