Palacete Silva Santos/Faciola – a dinâmica da investigação

As duas únicas fotos fiáveis em datação dão certeza visual à propriedade de Bento (1895-1916) e de Antonio (1916-desapropriação) – os registros foram feitos em períodos distintos do domínio do Palacete; assim, conjugadas, são parâmetro à percepção de outras estampas que porventura apareçam (jpg ampliável)
A fotografia de 1899 – a de 1930 tem o ponto de interesse escondido – comparada a um cartão postal publicado no Belém da Saudade sem datação (jpg ampliável)

A descoberta de Bento José da Silva Santos como primeiro proprietário e construtor do palacete da equina da Avenida Nazaré com a Doutor Moraes tirou de Antonio d’Almeida Faciola a responsabilidade por tudo que tenha ocorrido desde o projeto do prédio em 1895 – aqui publicado – até sua posse como proprietário em 1916.
Esses dois períodos, já demarcados, de ocupação residencial por duas famílias abastadas, de gerações distintas, trazem questionamentos inexistentes quando se acreditava que Antonio Faciola fora o único dono – história oficial anotada na popular Wikipédia.
Saber que Bento contratou José de Castro Figueiredo foi novidade, mas endossou a presunção de Jussara Derenji como guardiã do projeto que agora revela as iniciais BJSS (de Bento José da Silva Santos) antes, sem sentido, imperceptível no meio das flores de ferro designadas.
O Laboratório Virtual, baseado em evidências sutis, dá como hipótese uma reforma significativa ocorrida com a chegada de Faciola ao casarão, em 1916; tal obra, certamente estendida ao ano de 1917, seria um marco da ocupação da família Faciola – ou seja: Antonio fez o que está na fotografia datada de 1930.
Trabalhamos com essa possibilidade; contudo, não intencionamos fabricar verdades, apenas estabelecer parâmetros que nos facilitem analisar e compreender diferenças em imagens que porventura surjam como no caso do cartão postal acima, publicado no álbum Belém da Saudade, que não possuí datação.
Independentemente das interpretações possíveis do entorno: prédios vizinhos, árvores, bonde… comparamos o postal com a estampa publicada em 1899 – como o prédio foi entregue a Bento:

Anos das imagens: 1899 – sem datação – 2008 (jpg ampliável)

O que se percebe no detalhe do cartão postal, donde se enxerga o Palacete em escorço, é uma pequena reforma para assentamento de ladrilhos no embasamento da fachada projetada à Avenida Nazareth; mas o sobrado, tal qual foi entregue a Bento, permanece pintado – sem os azulejos que revestiriam as duas fachadas num porvir ainda dessabido -; bem como: as soleiras das janelas continuam individualizadas, sem o friso contínuo, interrompido pelo vão da porta, que as camuflaria; permanecem, também, as molduras nas gateiras (ou óculos) do porão.
Observamos que o assentamento de azulejos, a confecção do friso e a retirada das molduras já são vistos na fotografia de 1930 – dentre outras mudanças até mais significativas.
Por pequena que tenha sido a intervenção vista no postal, antes de uma especulativa “grande reforma”, ela chegou aos dias de hoje, talvez como marca indelével da família Silva Santos na construção de Castro Figueiredo.


Postscriptvm:
O bonde elétrico presente no postal afirma que a imagem é de 1907 para mais – Bento José da Silva Santos faleceu em 1908, deixando o palacete como herança ao filho Bento Júnior que morreria em 1915.
Diante da imagem analisada a hipótese da grande reforma entre 1916-17 não foi refutada.

Sobre o Projeto Laboratório Virtual - FAU ITEC UFPA

Ações integradas de ensino, pesquisa e extensão da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará - em atividade desde maio de 2010. Prêmio Prática Inovadora em Gestão Universitária da UFPA em 2012. Corpo editorial responsável pelas publicações: Aristoteles Guilliod, Fernando Marques, Haroldo Baleixe, Igor Pacheco, Jô Bassalo e Márcio Barata. Coordenação do projeto e redação: Haroldo Baleixe.
Esta entrada foi publicada em História da Arquitetura, Restauração e marcada com a tag , , , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.

Deixe uma resposta