Monumento Lauro Sodré – o plano original de Bolonha e Giorgi

A maquete que convenceu Barata

Plano original tridimensional de Bolonha e Giorgi destinado à praça defronte ao Cinema Olímpia

Em janeiro de 1957 o governador do Pará, Magalhães Barata, incumbiu o historiador Ernesto Cruz de montar uma comissão competente à organização das festividades oficiais ao centenário de nascimento de Lauro Sodré – ícone da política local, de natalício em 17 de outubro de 1858, reverenciado por Barata.
Dentre esses certames figurava a inauguração de um monumento a Lauro Sodré, de endereço pré-estabelecido antes mesmo da composição da referida equipe técnica: “… em praça pública, localizada nas proximidades da casa onde nasceu Lauro Sodré, na antiga rua Cruz das Almas, hoje Arcipreste Manoel Teodoro.”.
Em 15 de janeiro de 1957 é dado ao conhecimento público pelo jornal Estado do Pará a lista dos primeiros componentes convidados por Ernesto Cruz: “… drs. Rui Bastos Meira, Augusto Meira Filho, Josué Freire e acadêmicos Bruno de Menezes e João Viana.” que reunidos deliberam pela viagem do engenheiro Rui Meira ao Rio de Janeiro a fim de entrar em contato com o arquiteto Francisco Bolonha e obter desse profissional a colaboração necessária; a nota do periódico reforça o terreno disponível: “O monumento ao dr. Lauro Sodré vai ser ereto na praça fronteira ao Cinema Olímpia…”.
No dia 15 de maio de 1957, passados exatos três meses, os irmãos Meira, ambos engenheiros civis, defenderam, diante de Barata, o projeto do arquiteto paraense Francisco de Paula Lemos Bolonha (erroneamente chamado em algumas reportagens de Francisco Bolonha Sobrinho) em parceria com o escultor paulista Bruno Giorgi.
Bolonha e Giorgi, para melhor entendimento popular de suas concepções, enviaram do Rio de Janeiro um modelo volumétrico, uma maquete, dada à escala por representações humanas – os custos de tal objeto não foram repassado aos cofres do Estado, teriam sido arcados pela dupla modernista.
A Comissão montada por Ernesto Cruz aprovou, em 19 de agosto de 1957, o parecer do Clube de Engenharia que mudava a localização do monumento para o Boulevard Castilhos França e Av. Presidente Vargas, na praça onde se encontra o obelisco dos Pescadores, em vista da situação local ser bastante favorável, isto é à entrada da cidade – curiosamente nessa reunião da Comissão com os engenheiros o projeto foi aprovado em nova locação sem o conhecimento (ou consentimento) dos autores (Bolonha e Giorgi); apesar dos dois largos, neste caso, apresentarem conformação triangular.
Em 17 de dezembro de 1957 chegam em Belém pelo Constellation da Panair o arquiteto Francisco de Paula Lemos Bolonha e o escultor Bruno Giorgi; no dia seguinte o Estado do Pará noticia que o plano deles será implementado (novamente) na Praça da República, nas imediações do Cinema Olimpia.
Em 22 de dezembro de 1957 o Estado do Pará publica a matéria Ainda não escolhido o local para o monumento, nela é dito, acerca de nova reunião da Comissão de Ernesto Cruz: “O ponto central dos debates foi relativo à localização do monumento, indicando-se vários locais, entre os quais o Largo da Memória, Praça do Operário, Praça de São Braz, sem que tenha ficado resolvido, entretanto, em definitivo, a localização do imponente monumento.”.
Noticiando o regresso de Bruno Giorgi e Francisco Bolonha à (então) capital federal, o Estado do Pará, de 27 de dezembro de 1957, dá como definitiva a localização: que será na área situada em frente ao mercado de São Braz, com 53 metros de comprimento por 25 de largura.
Em 25 de maio de 1958 o Estado do Pará revela: “Concluída a concorrência pública pela comissão do Centenário de Lauro Sodré, sob a presidência de Ernento Cruz, foi assinado contrato com o sargento Nicholas Chase, vencedor dessa concorência para o início das obras da construção do monumento a Lauro Sodré, nesta capital.”; complementando: “O monumento será localizado na Praça Floriano Peixoto, frente ao mercado de São Brás, na confluência das avenidas Independência e José Bonifácio.”.
Uma fotografia da mesma (e única) maquete é veiculada pelo jornal carioca Correio da Manhã de 09 de outubro de 1958, dando visibilidade nacional à obra já concretada, que só aguardava revestimentos e esculturas do Rio de Janeiro; ou seja: o volume, mesmo desatualizado em sua base triangular proposta para defronte do Olímpia, mantinha-se significante do Monumento já retangularizado para a frente de São Braz.


O relato acima é extenso, como também o foi a hesitação para se achar um local que acolhesse as ideias dos afamados modernistas; talvez a Comissão de Ernesto Cruz se tenha ampliado de tal modo à incapacidade de deliberar com sensatez na ausência dos autores, só se chegando a termo com a contratação de Nicholas Chase, o responsável pela estrutura construtiva que receberia mármores, bronzes e demais elementos de acabamento da capital do país – assim se fez necessária a comunicação efetiva entre o engenheiro Chase, o arquiteto Bolonha e o escultor Giorgi à remodelação da superfície e outras soluções de pertinência à troca de sítio.

Simulação, pelo SketchUp, da planta originada da maquete e sua superposição ao recorte de mapa da cidade de Belém levantado pela CODEM em 1978; o Monumento Lauro Sodré se encaixaria fronteiriço ao Chafariz das Sereias, um equipamento público art noveau e cartão postal de Belém.


A construção que ligou Nicholas Chase a Bolonha-Giorgi

Foto antiga do local onde foi erigido o Monumento Lauro Sodré – superfície retangular regular

O monumento-jardim de Bolonha-Giorgi começou a ser construído em junho de 1958 e seria inaugurado em 10 de junho de 1959; não ficou pronto para o centenário de nascimento de Lauro Sodré; nem Barata o viu acabado, morreria dias antes da conclusão das obras.

Plano original (triangular irregular) apresentado em maquete para o largo defronte ao Cinema Olímpia em 1957 e projeto executivo (retangular regular), sob a mão do construtor Nicholas Chase, da adaptação feita à praça do Mercado de São Braz.
Não sabemos se essas pranchas foram desenhas no Rio de Janeiro, pelos projetista; ou: em Belém, pela equipe de construção – certamentte em comum acordo.

Fotografia feita no dia da inauguração do monumento: 10JUN1959

Em matéria publicada no Diário do Pará de 06MAR2010 o professor Oswaldo Coimbra escreve: Dois autores dizem que o espelho d’água estendia-se até o painel onde foram concentradas as três das cinco esculturas de Bruno Giorgi… …E foi aterrado porque nele frequentemente caíam boêmios que se embebedavam nas redondezas do Mercado de São Braz.
Tando a concepção primeva Bolonha-Giorgi, quanto a fotografia acima, do IMS, confirmam o que disseram Carlos Rocque e José Valente no texto de Coimbra; mais: há o clichê da construção desse lago-espelho d’água:


Mais sobre Nicholas Ellis Chase e Francisco de Paula Lemos Bolonha:
Ingleses pretos, barbadianos negros, basileiros morenos? Identidade e memórias (Belém, séculos XX e XXI)
Diário do Pará 06MAR2010 – Oswaldo Coimbra
Diário do Pará 13MAR2010 – Oswaldo Coimbra
Diário do Pará 21MAR2010 – Oswaldo Coimbra
Diário do Pará 27MAR2010 – Oswaldo Coimbra


Fontes: jornais Estado do Pará e A Província do Pará.

Sobre o Projeto Laboratório Virtual - FAU ITEC UFPA

Ações integradas de ensino, pesquisa e extensão da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará - em atividade desde maio de 2010. Prêmio Prática Inovadora em Gestão Universitária da UFPA em 2012. Corpo editorial responsável pelas publicações: Aristoteles Guilliod, Fernando Marques, Haroldo Baleixe, Igor Pacheco, Jô Bassalo e Márcio Barata. Coordenação do projeto e redação: Haroldo Baleixe.
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1 respostas para Monumento Lauro Sodré – o plano original de Bolonha e Giorgi

  1. Carlos Armando Soares disse:

    Que história muito da pai d’égua!
    OBRIGADO!

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