A Província do Pará de 18OUT1964 anuncia, pelo escritório imobiliário Oeiras Freire, a venda de títulos para o Hospital das Acácias: seriam 10 prestações de 5.000 Cruzeiros perfazendo um total de 50 mil – não há referência à taxa de manutenção.
O nosocômio, que trazia na marca a imagem de sua construção modernista, (já em fase de acabamento) lhe garante: assistência médica e dentária grátis e ainda mais hospitalização, exames de laboratório, serviço de raio X, pronto socorro, maternidade, cirurgia, farmácia e banco de sangue para você e seus ascendentes e descendentes.
O Hospital das Acácias fora construído no bairro do Marco, na travessa do Chaco, entre as avenidas 25 de Setembro e Almirante Barroso, em terreno de aproximadamente 4.600m² doado pelo governo estadual por lei aprovada unanimemente pela Assembleia Legislativa e sancionada pelo governador Moura Carvalho.
A pedra fundamental da obra teve seu lançamento em 20 de agosto de 1961, não por coincidêcia, o Dia do Maçom; do mesmo modo que Acácia (árvore) é, também, simbologia maçônica – na cerimônia compareceu Aurélio do Carmo, governador eleito em 1960 já no exercício do cargo.
A ideia de tal casa de saúde surgiu de um grupo de maçons filiados à Grande Loja do Pará no ano de 1956 com a criação da Associação Hospitalar Maçônica que desde então angariava fundos à edificação.
O projeto do Hospital das Acácias foi elaborado por uma deferência toda especial da Fundação do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), sendo a perspectiva de autoria do arquiteto português Arlindo da Costa Guimarães:
Em visita feita à Grande Loja Maçônica do Pará, que hoje ocupa e reforma o prédio de sua propriedade, conversamos com o Grão Mestre Edílson Araújo (eleito por dois mandatos: 2018-21 e 2021-24), que nos disse possuir pouco material sobre a história do Hospital das Acácias, mas que em abril poderá disponibilizá-lo no formato digital ao Laboratário Virtual da FAU – não há fotos.
Edílson recordou que havia parceria com uma instituição estrangeira responsável por equipar a casa de saúde; contudo, tais materiais enviados do exterior foram retidos pela Aduana brasileira e só liberados 10 anos depois quando obsoletos e defeituosos pelo desuso.
No Google Street View é possível verificar que o Colégio Ipiranga lá estava em 2012 e a SESMA (Secretaria Municipal de Saúde) em 2017; de 2018 a 2019 aparece supostamente desocupado e, em 2022, já com o letreiro indicativo da Grande Loja…
Atualmente o edifício foi transformado num grande templo maçônico de múltiplos espaços para distintos rituais e está prestes à inauguração; segundo Edílson: “a adaptação presa pelas simbologias interna e externamente e sua fachada dá reconhecimento público de que o lugar é uma loja maçônica.”:

A rampa original do projeto hospitalar permace preservada; mas, os Bombeiros exigiram a construção de uma escada de acesso ao segundo pavimento,
Fontes: A Província do Pará de 1961 e 1964.
Sobre o prédio primitivo e sua aparência atual solicitamos a análise da professor Celma Chaves Pont Vidal, coordenadora do Laboratório de Historiografia da Arquitetura e Cultura Arquitetônica -LAHCA:
A construção foi projetada e executada nos anos 1960 pelo arquiteto português Arlindo Guimarães como edifício hospitalar, o Hospital das Acácias, que agora se sabe nunca ter funcionado como tal.
O prédio passou por diversos usos ao longo dos anos, mas nos últimos tempos estava desocupado, o que de certa forma permitiu que suas linhas arquitetônicas permanecessem íntegras, e em estado de conservação relativamente satisfatório.
Porém, neste momento está sendo concluída reforma para abrigar a sede da grande loja maçônica do Pará.
A partir da observação dos elementos que estão sendo incorporados nesta “reforma”, nota-se uma mudança radical na linguagem moderna do edifício, que apresentava uma fachada inclinada, modulada por uma marcante linha de janelas em esquadrias de ferro guardando o desenho original do arquiteto – os apoios que emolduram as aberturas revelando, por encadeamento, a inclinação da vedação e imprimiam um interessante ritmo moderno, agora estão encobertos por colunas de gesso pseudoclássicas, que se integram a uma balaustrada no piso superior.
Perdeu-se também o arco, que demarcava o acesso ao edifício e sustentava a laje de cobertura frontal – elementos que aparecem em diversas obras modernas no Brasil e em Belém -, substituído por um proeminente frontão e suas colunas de sustentação.
O interior, segundo os registros fotográficos realizados pelo Laboratório Virtual da FAU, também parece estar sendo irremediavelmente alterado.
Um “pós pós-moderno”, próprio de muitos edifícios de instituições de tradição religiosas, e especialmente das sedes das lojas maçônicas no Brasil contemporâneo.
Uma mudança de estilo representativa, visto que este edifício, de caráter moderno, fora imaginado por equipe do SESP com a aquiescência da mesma agremiação.
Registros do prédio feitos pela professora Celma em 2018 por perceber o modernismo do edifício.
O mais lamentável porém, é que o terreno, patrimônio público, foi doado pelo Estado para construção de um hospital, não pra ser a sede de uma instituição retrógrada.