Foto copiada da Cinemateca Paraense, de Ramiro Quaresma.
Grande Hotel: apenas hóspedes da memória
Verdadeiro marco para a hotelaria paraense. Assim foi e é considerado o extinto Grande Hotel, tema do último postal da coleção Diário Documento, publicado neste domingo. A primeira parte do hotel foi inaugurada no início de 1913. O seu dono era Teixeira Martins, que era proprietário do também lendário Cinema Olympia. Construído pela firma Salvador Mesquita & Ca, uma das grandes construtoras do Pará na época, representou um grande momento para a rede hoteleira da capital paraense.
Antes da inauguração do Grande Hotel, a cidade contava com hotéis instalados em edifícios adaptados para uso hoteleiro. “No entanto, o Grande Hotel, foi idealizado e construído para funcionar como hotel, ocupando a área de um quarteirão, com banheiros e ventilação natural em todos os quartos, além de usufruir dos avanços tecnológicos disponíveis na época, características constantemente exaltadas nas propagandas encontradas nos jornais do período”, destacou a arquiteta especialista em preservação e restauro, Dulcilia Acatauassu.
Maior estabelecimento hoteleiro construído no norte do Brasil, o Grande Hotel era um exemplar da arquitetura eclética, com a fachada principal localizada na atual avenida Presidente Vargas, em frente ao Theatro da Paz. A escada de incêndio, instalada externamente em uma das laterais, fez com que o local se tornasse uma das primeiras edificações da cidade a apresentar este equipamento de segurança.
No hall de entrada do hotel, o piso era revestido de mosaicos, sendo as paredes e o teto de estuque ornamentado com lustres de bronze. Já no pavimento térreo, estava situada a sorveteria com máquinas elétricas, geladeiras, frigorífico, além da cozinha, com equipamentos de fabricação francesa. O acesso para os andares superiores era feito por meio de elevador movido à eletricidade, com lotação para quatro pessoas.
O primeiro pavimento tinha uma sala de recepção bem decorada. Os quartos , localizados no segundo andar, apresentavam mobiliários luxuosos construídos nas oficinas de J. S. de Freitas & Cia, em Belém, utilizando madeiras das florestas paraenses. O terceiro pavimento servia de mansarda.
No final do ano de 1913 foi inaugurado no espaço do Grande Hotel o Palace Theatre, lugar importante de artes cênicas, que recebeu companhias e artistas do sul do país e do exterior, como Ítala Fausta, Eva Stacchino, Vicente Celestino e outros.
“Aos domingos, o Palace Theatre promovia sessões cinematográficas. Nos filmes mudos, a música era executada no ‘poço’ por orquestra com músicos como Izaura e Isaias Oliveira da Paz, Jayme Nobre, José Travassos e tantos outros. Recebeu também hóspedes ilustres, como Arturo Toscanini, Bidu Sayão, Guiomar Novaes, João Goulart, Martha Rocha, General Eisenhower, Olívia Guedes Penteado, Mario de Andrade, entre outros”, conta a especialista.
A primeira construção de hotelaria de Belém
Quando concluído, o Grande Hotel possuía 100 quartos, restaurante, bar – onde sempre havia músicos tocando piano, sax e violino -, a Terrasse, um dos locais mais agradáveis e marcantes do estabelecimento onde se tornou costume da época saborear o charlotine, sorvete tradicional do hotel, após a sessão de cinema do Olympia.
Em 1948 o Grande Hotel, foi vendido para a rede Inter Continental Hotels Corporation, transformando Belém na primeira cidade do mundo a receber o hotel pioneiro dessa rede. Imediatamente, a nova direção do Grande Hotel imprimiu mudanças para adequá-lo aos padrões americanos de conforto, praticidade e eficiência. Nos anos 70, o hotel foi novamente vendido e, mais tarde, demolido para a construção de um novo empreendimento, também hoteleiro – Hotel Hilton Belém. As obras foram iniciadas em 1979.
Durante os sessenta anos de sua existência, o Grande Hotel, sempre foi sinônimo de sofisticação e cultura especialmente pela proximidade com o Theatro da Paz e o Cinema Olympia. “Juntos formavam o eixo artístico-cultural mais importante de Belém. Hoje, essa perda significativa tem sido frequentemente lembrada e a sua história e memória têm representado um importante aliado na luta para a salvaguarda do patrimônio cultural paraense”, ressaltou Dulcilia Acatauassu. (Diário do Pará, domingo, 30/01/2011.)