Fotógrafo radicado no Pará recebe Ordem do Mérito Cultural, em Brasília.
Prêmio é reconhecimento da contribuição de Chikaoka á cultura nacional.
Miguel Chikaoka recebe prêmio das mãos de Marta Suplicy, ministra da cultura. Presidente Dilma Roussef também participou da cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília. (Foto: Natan Chikaoka/Arquivo pessoal)
O fotógrafo Miguel Chikaoka, radicado no Pará, recebeu nesta segunda-feira (5) a Ordem do Mérito Cultural, condecoração por suas contribuições à cultura brasileira – o maior prêmio na área cultural concedido pelo governo federal.
A presidente da República Dilma Rousseff e a ministra da cultura, Marta Suplicy participaram da cerimônia, promovida anualmente em Brasília pelo Ministério da Cultura (MinC) em parceria com o das Relações Exteriores (MRE), da Educação (MEC) e da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
O nome de Chikaoka foi selecionado por uma comissão técnica, que este ano apreciou o mérito de 496 propostas, mas contemplou apenas 41.
Miguel é um dos nomes de maior destaque nacional na arte-educação, trabalho reconhecido também em 2012 no prêmio Brasil Fotografia, no qual foi o artista homenageado.
Nascido no interior de São Paulo, Chikaoka veio para Belém ainda na década de 1980, depois de abandonar a carreira de engenheiro, e atuou no fotojornalismo de esquerda, com o registro das mazelas sociais e em defesa dos direitos humanos. Ao lado de outros fotógrafos, fundou, em 1983, a Associação Fotoativa, movimento artístico que fez escola na fotografia paraense, e alcançou reconhecimento no país e no exterior.
Menos interessado na técnica no que na sensibilidade criativa ao fotografar, Miguel sedimentou um modelo distinto de ensino-aprendizagem, centrado na reflexão crítica sobre a cultura e a sociedade ocidental.
“Sempre estive me questionando nesse sentido: nós evoluímos, o mundo evoluiu, a ciência evolui, traz benefícios, mas que benefícios são esses e quem usufrui deles? E, lá pelas tantas, do ponto de vista mais prático, eu percebi que estava sendo absorvido pelo projeto de desenvolvimento de uma sociedade com o qual eu não compactuava”, revela.
O foto-varal e a técnica artesanal de fotografia pinhole são exemplos do experimentalismo de Chikaoka na arte-educação. “Aquilo que eu construo como base é a visão crítica sobre o fazer fotográfico – e não sobre o quê a fotografia expressará, porque acho isso muito pouco diante do potencial de um invento que completou mais de 170 anos”, diz Miguel, que frisa a importância da relação do fotógrafo com o processo da produção e do entendimento da imagem, e não apenas com o resultado final.
“Nas minhas oficinas de iniciação eu não apresento fotografias de autor nenhum, nem as minhas, porque não é uma questão central mostrar o que seria o certo ou errado, se a fotografia está boa. Inclusive porque eu aprendi com as crianças e as pessoas leigas que cada um já traz o seu repertório de ideias e imagens que articularão o que se quer falar e mostrar, de acordo com as próprias possibilidades. Apenas é preciso respeitar o tempo necessário para o amadurecimento disso”, explica.
Fotógrafos paraenses comemoram reconhecimento do trabalho de Chikaoka
A Associação Fotoativa, tendo a frente Chikaoka, influenciou gerações de artistas paraenses. Entre eles Paula Sampaio, editora de fotografia do jornal O Liberal, começou seus estudos sobre a imagem sob a batuta de Miguel. “Entrei na Fotoativa já trabalhando como fotógrafa, mas foi ali que participei de dicussões sobre o que é a linguagem da fotografia e do fotojornalismo, o que foi fundamental para que eu seguisse adiante com ideias particulares sobre o que era possível ser feito na área”, lembra a artista.
Paula destaca o importante legado de Chikaoka para a cena das artes visuais. “Ele é um agente dessas discussões. Essa é a grande importância: pensar fotografia. Miguel é referência ímpar na fotografia paraense. Ele é um mestre para todos nós, não só pelo trabalho mas pelo acompanhamento, pelo auxílio àqueles que estavam ao lado dele”, diz.
Na imagem, o debate da Mostra Paraense de Fotografia em 1984. (Foto: Fotoativa/ Arquivo)
Flavya Mutran, outro nome de destaque da fotografia, também tem em sua trajetória as sementes da Fotoativa e do trabalho de Chikaoka. “Comecei via Fotoativa, em 88, 89. Eu era estudante de arquitetura, mas fui envolvida pelo espírito do que era aquele grupo. A fotografia era um pretexto. Tinha ali um canal de expressão para conhecer gente nova, gente com ideias, gente de todas as idades. Esse diferencial da fotografia ficava evidente na associação: a fotografia como um grande guarda-chuva, que abarca muita gente”, lembra Mutran.
Hoje residente em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Flavya diz que a fazer fotográfica desenvolvido da Fotoativa promovia a interação entre os artistas. “O espírito mais livre e de comunidade. Por exemplo, para revelar foto, a gente fazia mutirão. E cada um comentava o trabalho do outro, havia muito essa troca. A fotografia no Pará tem esse
diferencial que eu acho que é efeito Fotoativa: é essa camaradagem”. conta.
Anita Lima, que fez caminho parecido com o de Miguel, e veio de São Paulo para Belém há quase dez anos, atraía pelo trabalho de arte-educação desenvolvido na associação. “Em São Paulo eu já conhecia o trabalho da Fotoativa, o foto-varal, ainda quando estudava na faculdade de comunicação. Quando vim para Belém para pesquisar sobre o imaginário amazônico, naturalmente fui à associação e nunca mais sai de lá”, relembra Anita, fotógrafa paulista radicada em Belém e arte-educadora na Fotoativa.
Fonte: G1 Pará Rede Liberal.