Na postagem anterior, Cenário que sugere a colaboração de Paul Albuquerque na sede campestre da AP inaugurada em 1957, revelamos, em cochicho: “(Eis a nossa incapacidade interpretativa: Celso Malcher seria o início do Grupo Renovador, ou: o fim do ‘jôgo de azar’ a que se referiria Oswaldo Mendes em 1956?)”.
Por ora não temos uma resposta, mas uma série de recortes tomados do jornal O Liberal, porta-voz do Partido Social Democrático (PSD), do ano de 1951, que pode (a série) alumiar o assunto:
Lembremos o fato das eleições ao Governo do Estado do Pará, realizadas em 1950, terem como antagonistas Magalhães Barata (PSD) e Zacarias de Assumpção (CDP*); vencendo pela diferença de 200 mil votos o General Assumpção, que assumiria em 1951 ― ano do conjunto de recortes que se referem ao clube Assembléia Paraense.
O primeiro, mera nota pitoresca de difusão, diz respeito ao comportamento da juventude: de como se trajar à Festa Juvenil e não cheirar lança-perfume no clube, pois “… receberá a repressão legal!”.
Da segunda em diante surgem e seguem os ataques: às eleições à presidência e vice-presidência da AP de 1951, da qual saem vitoriosos, da “autêntica ‘jaca'”, Alexandre Zacarias de Assumpção (governador do Estado) e Lopo Alvarez de Castro (prefeito de Belém indicado por Assumpção), “ficando assim entregue a políticos situacionistas, o grêmio líder da sociedade belemense”; à imunidade do “clube do governador”, com privilégio de não ser importunado por promover o carteado “de salão”; dentre outras pérolas, típicas da promiscuidade entre o público e o privado, que bem comprometiam Barata em suas pregressas atitudes, senão vejamos a discussão travada no Senado Federal com o senador Prisco dos Santos, médico, que sofreu sanções quando presidente da Assembléia Paraense Sociedade Recreativa por causa de cassino, suavizadas como “… coisas do Estado Novo!” pelo ex-interventor de Vargas no Pará entre 1942-1945 (segunda temporada de absoluto poder):
O que se percebe nas fontes primárias, em associação à síntese de Oswaldo Mendes no final de 1956, é que a AP estaria, desde a época da Segunda Guerra Mundial (pelo menos), envolvida com o jogo de azar e: “por causa dêste, a Assembléia não mais possuía vida social”, prosseguindo desse mesmo modo na gestão Zacarias/Lopo ― dupla que colaborou com a Festa das Flores de 1953, na condição de governador e prefeito respectivamente, quando Celso Cunha da Gama Malcher ocupava a presidência da AP.
Resta-nos saber o período real desses mandatos administrativos na agremiação e identificar se o médico Celso Malcher chegara ou saira; se chegara, à mimese de seus antecessores que ocuparam os mais altos cargos do executivo estadual e municipal concomitantes à presidência e vice-presidência da sociedade, seria um continuísta; se saíra, daria no mesmo, porque quem assumiria, (estava certo), era o Grupo Renovador, segundo A NOITE ILUSTRADA de 26-06-1953; mas… quem seria, então, esse xamã descontaminado que colocaria a Assembléia Paraense nos trilhos que a levariam à primeira sede campestre?
A favor de Malcher pesa sua eleição direta para prefeito de Belém em setembro de 1953, assumindo em dezembro; o que pode significar nada, uma vez que Assumpção chegou a governador do Estado pelo voto popular, em circunstâncias parecidas, sem abrir mão do comando de uma organização elitista.
De novo no cochicho: (Eis a nossa incapacidade interpretativa: Celso Malcher seria o início do Grupo Renovador, ou: o fim do ‘jôgo de azar’ a que se referiria Oswaldo Mendes em 1956?).
Patinar não significa não sair do lugar.
Material em PDF para consulta: O LIBERAL 1951 – recortes 01 e O LIBERAL 1951 – recortes 02.
*Coligação Democrática Paraense.
Colaboração: Regina Vitória da Fonseca.
Postscriptvm (27-out-2015):
O site parceiro Fragmentos de Belém, editado por Igor Pacheco, joga luz no assunto com a publicação de uma fotografia da 15 de Agosto (hoje Presidente Vargas) que mostra o “Casino Marajó” instalado na sede do clube Assembléia Paraense.
Da hemeroteca digital da Biblioteca Nacional Igor postou o jornal Diário Carioca de 30 de março de 1945 que traz a matéria O PARÁ TRANSFORMADO NUMA GRANDE CASA DE TAVOLAGEM.
Postscriptvm (13/12/2015):
O livro de Clóvis Silva de Moraes Rêgo permanece imprescindível ao entendimento da cronologia histórica do clube Assembléia Parasense; aqui em recortes pertinentes ao assunto:
Início e entrega das obras da sede campestre da AP ― um parêntesis.
Grupo Renovador: da eclosão à vitória em 1953.
Os questionamentos desta publicação do BF são minuciosamente respondidos em:
RÊGO, Clóvis Moraes. Subsídios para a história da Assembléia Paraense: excerto do relatório do biênio 1965/1967 ; 2ª parte. Belém: (S.n); 1969. 365 p.
Acima fragmentado ao entendimento dos fatos.
Colaboração: bibliotecária Elisangela Silva da Costa do Projeto Memorial do Livro Moronguetá – PROINTER/UFPA.
Muito legal esse raciocínio que bota a Assembléia Paraense no nível da Maçonaria com tramas ardilosas de artífices para chegar ao poder no estado constituído.
Mais um pouco chega-se em novo Código Da Vinci que desvendado mostra que o DNA de Magalhães Barata pode ser encontrado nas nádegas da Paola Oliveira.
É só teimosia tentar separar o privado do público.
Sabemos todos que eles dois, sozinhos no escuro, se excitam e nos carcam.
“Eis a nossa incapacidade interpretativa: Celso Malcher seria o início do Grupo Renovador, ou: o fim do ‘jôgo de azar’ a que se referiria Oswaldo Mendes em 1956?”.
Ora pois, são duas afirmativas: é integrante do grupo renovador e acabou com o jogo ostensivo na AP para impor a moral necessária ao grupo iniciante que ele encabeçava – ele saiu quando foi para a PMB como prefeito eleito, ficando outro médico, o Cláudio Dias, como presidente da AP, em exercício.
As notícias de jornal mostram que Zacarias de Assupção era tão adepto da jogatina quando Magalhães Barata e o resto da população de poucos endinheirados sobre uma extensa base de miseráveis analfabetos isolados do Brasil no meio da selva amazônica.
Mas o jogo na AP permanece por vocação, sem nunca ter sido interrompido, até os dias de hoje.