Ruínas do complexo de isolamento do Tucunduba

O vídeo acima, feito por um celular, foi enviado ao jornalista Salomão Mendes, editor da página do Facebook Belém Antiga; seu autor intencionava descobrir o que seria aquela parede antiga divisora de alguns terrenos entre a rua Barão de Igarapé Miri e a passagem Jiparaná no bairro do Guamá às proximidades do Igarapé Tucunduba.
Salomão combinou uma expedição ao local levando consigo a Confraria da Memória* para juntos fazerem medições e fotografias na terça-feira passada, dia 13 de junho.
In loco detectou-se que as superfícies que se projetam à Barão de Igarapé Miri foram bastante aterradas; ao contrário das que dão à Jiparaná, essas, aparentemente em nível primitivo, por ora, sem acesso franqueado:

Verificou-se que a muralha mede 61,5 cm de espessura e pela régua do Google: 25, 78 metros de extensão:

Os vãos de passagem, ventilação e iluminação — em arcos abatidos — foram fechados por tijolos mais recentes e distintos em obras realizadas pela vizinhança da Jiparaná e encontram-se apenas soterrados do lado visitado:

Desde o dia 13 especulou-se, por troca de diversos documentos em grupo do WhatsApp, sobre o que fora ali visto: se resquícios da Olaria/Engenho dos Religiosos Mercenarios (entenda-se, sempre, Mercedários) ou se uma das paredes construídas entre 1814 e 1816 que vedaram um telheiro em desuso — na antiga área dos Mercenarios que passara às mãos da Santa Casa de Misericórdia — para abrigar os primeiros lázaros como Hospital do Tucunduba.
Somente hoje descobriu-se uma imagem, à semelhança do que resta no Guamá, ilustrativa do livro História da Lepra no Brazil, Volume II, escrito pelo médico Heraclides Cesar de Souza Araújo, publicado em 1948:

A fotografia, orientada no sentido S.O.N.E. a partir da Barão de Igarapé Miri, mostra um chalé de alvenaria com pavimento inferior mais baixo — porão — já abandonado em 1945; dessa construção ainda não sabemos a história, só que a tubulação de esgotamento sanitário, em cerâmica, era direcionada perpendicularmente à Barão, segundo um dos gentis anfitriões, que a encontrou no passado, antes do entulhamento à sua residência.
Todavia, matéria publicada no jornal Estado do Pará de 31AGO1921, que descreve uma visita desse periódico ao Tucunduba, menciona um chalezinho de regular aspecto, adquirido por compra pelo director da Prophylaxia, que installou nesse proprio federal, o gabinete medico, destinado ao serviço chimico prestado aos doentes; só não temos certeza absoluta de se tratar da mesma edificação, apenas que o director da Prophylaxia era o insuportavel Araújo, o retratista da ruína que sobrevive no bairro como divisória de propriedades.
Permanecemos empenhados na busca de informações sobre o casarão que muito destoa do cenário registrado em 1921 na Lazaropolis  do Tucunduba; bem como na real configuração espacial daquela colônia, extinta em 1938 por incêndio dos 70 casebres e arrasamento dos melhores edifícios pela interventoria federal de José da Gama Malcher.

*Confraria da Memória: Aristóteles Guilliod de Miranda, Haroldo Baleixe, José Maria de Castro Abreu Júnior e Salomão Mendes — em ordem alfabética.


Postscriptvm:

Explicação didático-imagética das ruínas do complexo de isolamento do Tucunduba (ampliável por clique)


Postscriptvm (14JUN2017):

O professor Márcio Couto Henrique nos enviou uma fotografia das ruínas tratadas nesta publicação; tal imagem foi difundida em 2002 à página 22 do livro Entre dois tempos um estudo sobre o bairro do Guamá/Escola Frei Daniel/Patrono de José Messiano Trindade Ramos sobre o Leprosário do Tucunduba e mostra um quintal limpo em lado oposto ao aqui registrado.
Com a informação, que desconhecíamos, foi possível comparar a proporcionalidade entre os vãos das ruínas registradas por Souza Araújo em 1945 e as de Hélio dos Santos em 2002:

Apesar da imagem reproduzida em História da Lepra no Brazil, Volume II encontrar-se em baixa resolução no aquivo pdf — ainda não acessamos o livro físico — e os pontos de vista serem ligeiramente distintos a possibilidade de estarmos diante da mesma edificação permanece válida.

Outras fotografias incluídas no mesmo livro de Souza Araújo, datadas de 11FEV1933, mostram a construção do leprosário da Ponta do Bonfim em São Luís do Maranhão; edificação robusta em alvenaria de pedras (fundação) e tijolos (vedação), aquém das obras modernas insurgentes na época, que pode sinalizar a datação dos restos do Chalé do Tucunduba e sua função no complexo de isolamento.


Postscriptvm (26JUN2017):

Questão solucionada sem apagar o rastro e inteligência da investigação:

As ruínas do Tucunduba são do Pavilhão Antonio Lemos

Sobre o Projeto Laboratório Virtual - FAU ITEC UFPA

Ações integradas de ensino, pesquisa e extensão da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará - em atividade desde maio de 2010. Prêmio Prática Inovadora em Gestão Universitária da UFPA em 2012. Corpo editorial responsável pelas publicações: Aristoteles Guilliod, Fernando Marques, Haroldo Baleixe, Igor Pacheco, Jô Bassalo e Márcio Barata. Coordenação do projeto e redação: Haroldo Baleixe. Membros da extensão do ITEC vinculada à divulgação da produção de Representação e Expressão: Dina Oliveira e Jorge Eiró.
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9 respostas para Ruínas do complexo de isolamento do Tucunduba

  1. Guamaense disse:

    Égua eu moro dentro do leprosário.
    Será que a gente pode contrair lepra ou achar aquelas moedas que circulavam por essas bandas da colônia?
    Passei a vida querendo saber o que era isso no fundo do meu quintal e agora vejo um grande edifício.
    Chorei de emoção e agora vou cuidar do muro com todo carinho do mundo.
    Obrigado a vocês e a Jesus.

    • DOENTIN DO TUCUNDUBA disse:

      AI MANO TU TA MTO FERRADO. OS CARA DEXARAM LEPRA NA PAREDE SE TU RESPIRAR LÁ TU VAI PEGAR E VIRAR DOETIN Q NEM NÓIS AKI

    • tapuia disse:

      tenta capinar ou chamar um arqueologo, tem esse curso na ufpa e podes achar um por lá

  2. Ricardo Conduru disse:

    Acho que se deve fazer uma melhor avaliação entre o que se vê na foto do chalé e o muro existente. Ao se ampliar a foto, principalmente na parte assinalada que corresponderia ao muro, notei algumas diferenças. Como se sabe, as aberturas são em arco e a largura difere da altura. Já o que se nota na foto são aberturas maiores e algumas parecem quadradas. Não sei se isso se deve a alguma distorção da foto. Daí a necessidade de uma melhor avaliação.

    • fauitec disse:

      Caro Ricardo:
      A fotografia de Souza Araújo está em baixa resolução e há vegetação cobrindo os vãos.
      A publicação, como todas do site, pode ser revista em qualquer momento.
      Talvez uma fotografia do local, tirada à distância, ajude a minorar essa dúvida na proporção entre as aberturas no paredão dos quintais da Barão/Juparaná e as do chalé; ou: derrubar definitivamente tal possibilidade.
      Contamos com a sua colaboração à revelação da verdade.

  3. simeibacelar disse:

    Trabalho muito bem feito. Parabéns!

  4. Ricardo Conduru disse:

    Se a foto mostra o lado oposto, então não deveria ser um quintal, mas o interior do prédio, certo?

  5. Clicia disse:

    Olá, em relação a fotografia área do guamá de 1955, poderiam me dizer a fonte dessa fotografia “mapa”

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