O conjunto de fotografias acima — todas de autoria do estagiário voluntário Mateus Nunes — mostra parte de uma sentença de partilha proferida pelo juiz Geraldo de Souza Paes de Andrade no ano de 1892; tal manuscrito foi gentilmente cedido à reprodução pela senhora Dulce Rosa Rocque e transcrito pela colaboradora Regina Vitória Alves:
A partir das informações dessa rara fonte primária arriscou-se uma figuração, em mapa atual do Google, à suposta área da Fazenda Olaria Sant’Anna da Pedreira, que englobava os terrenos do Mata-te Bem, com fundos até a sala que serve de hospital dos lázaros:
Obviamente o desenho da Fazenda Olaria Sant’Anna da Pedreira, em seus limites Norte e Oeste, não eram ortogonais como o riscado à percepção do ledor; sua conformação deveria ser orgânica tal qual os acidentes geográficos referenciados no texto.
Às páginas 12 e 13 do livro A Prophylaxia da Lepra e das Doenças Venereas do Pará, Volume II – 1922, quando seu autor, o médico Heraclides Cesar de Souza Araújo, historia a Leprosaria do Tucunduba, provoca também uma cisma à propriedade da Santa Casa de Misericórdia, ao reproduzir, ipsis verbis, o officio do provedor Fructuoso Guimarães datado de 11 de fevereiro de 1861, do qual se recorta o último trecho:
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De fato — como dá a saber o mesmo officio — as 632 braças (1.390,4 metros) margeando o Tucunduba teriam fundos de apenas 47 1/2 braças (104,5 metros); ou seja: a Fazenda do Tucunduba não passava de uma nesga que compreenderia hoje, ao Sul, o prédio do Vadião da UFPA e, replicada essa distância ao Norte, a cento e sessenta e poucos metros acima da passagem Jiparaná, alcançaria a Passagem Nova II sem sequer alinhar-se a ela.
Ao que se percebe — e certamente também o notou in situ Heraclides — as edificações do complexo de isolamento do Tucunduba, pelo menos as significativas que conhecemos por clichês, estavam em terras que não pertenciam, na origem, nem aos Mercedários nem à Santa Casa de Misericórdia que as recebeu por esmola daqueles religiosos, mas à Fazenda Olaria Sant’Anna da Pedreira; a isto desatentaram os técnicos que auxiliaram o juiz Paes de Andrade.
O professor José Maria Coelho Bassalo procedeu cálculo da área das duas fazendas, Olaria Sant’Anna da Pedreira e Tucunduba, que ocupavam juntas aproximadamente 4.165 km²; ou seja: significativa superfície dos atuais bairros do Guamá e Condor.
O jornal Paraense “A República”, de 1º de abril de 1890 (Edição nº 37, folha 2), traz a seguinte informação: “Ofício da provedoria da Santa Casa de Misericórdia em resposta a um outro deste Conselho de 22 do mez findo, sobre um terreno com 632 braças de frente correndo da boca do igarapé do Tucunduba á margem esquerda com 47 e meia de fundos, ao qual a mesma Santa Casa se julga com direito.
Falla a respeito o sr. dr. Mágno de Araújo, resolvendo o Conselho que a comissão arrumadora procede com urgência aos necessários estudos, de modo a verificar se o terreno de que trata aquele ofício pertence de fato a Santa Casa ou é patrimônio municipal, devendo a mesma comissão habilitar a este Conselho com dados precisos a ultimar contra provedoria dessa instituição a questão da posse do referido terreno”.
Perfeito Ricardo.
Notícia mais antiga sobre a fazenda encontramos no ‘Jornal do Pará, de 7 de agosto de 1877, página 3, que diz:
“Tendo a comissão arrumadora da câmara municipal desta capital de dar alinhamento e arrumação aos terrenos pertencentes a fazenda Pedreira, ma margem esquerda do rio Guajará, da propriedade do bacharel Carlos Alberto Quadros, no dia 16 do corrente, ás 7 horas da manhã, convida aos hereos, exm. sr. visconde de d`Arari, santa casa de misericórdia, e herdeiros de João Florenço Henrique da Silva Pombo e major Bernardino de Senna Lameira, e a todos os posseiros que se julgarem hereos das referidas terras á comparecerem na dita fazenda, no dia horas acima mencionados a fim de assistirem a dita arrumação sob pena de revelia. Procuradoria a câmara de Belém do Pará, 4 de agosto de 1877. – O Procurador Manoal da Ponte Souza”