Fatos contraditórios são percebidos no filme Belém 350 anos: há um letreiro que se refere ao “CORAL DA UNIVERSIDADE DO PARÁ Sob a Regência do Maestro NIVALDO SANTIAGO”; Cid Moreira, assim narra um trecho do audiovisual: “Na Faculdade de Medicina é solenemente iniciado o primeiro ano letivo da Universidade do Pará…” e; ao final da película, Líbero Luxardo Prod. Cinematográfias, faz os “Agradecimentos: Ao Exmo. Sr. Senador Antônio Martins, ao Magnífico Reitor da Universidade do Pará, Dr. José da Silveira Neto, ao Dr. José Borges Leal e Snr. Francisco de Paula Pinheiro cuja cooperação tornaram possível a realização dêste filme. “ (SIC).
Belém completou 350 anos em 1966 e na Medicina, à mesa oficial, mesmo não citado por Cid Moreira (talvez por protocolo, já que era uma reunião do Conselho Universitário), encontra-se o Governador do Estado do Pará, tenente-coronel Alacid da Silva Nunes — Alacid assumiu naquele ano.
Supondo que a cerimônia ocorrera às proximidades do aniversário da Cidade, é estranho notar que Silveira Netto tem ao peito o atual distintivo do cargo de Reitor onde se lê UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (desde o início de 1966); mesmo com a instituição sendo tratada em público de modo distinto: “Universidade do Pará” — visual e auditivamente.
A Resolução Nº17/69, de 12 de junho de 1969, redigida em papel timbrado com Universidade Federal do Pará, reforça que os dizeres do escudo são “UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ”.
Ou o medalhão do colar reitoral (o segundo, pois o primeiro fora idealizado e fundido por Maÿr Sampaio Fortuna) já estava em acordo com alguma normativa do Governo Federal editada antes de 1966; ou tal insígnia fora retificada na Indústria de Distintivos Randal Ltda em data ulterior.
Acreditamos na primeira hipótese porque parece que a UNIVERSIDADE não carecia de um sobrenome, nem antes nem depois da publicação do redundante Anexo II à Resolução Nº17, já que os alunos da Escola Primária ora a chamavam “da Universidade”, ora “da Universidade do Pará”; nunca “da Universidade Federal do Pará”.
Isto soa esquisito em tempos que um cabeçalho de escola deveria estar sempre grafado de modo impecável, passível de correção por parte dos professores.
Fica claro, pelas folhas de dois cadernos de 1969, que nem os discentes, nem os docentes da Escola Primária (da UFPA), tinham conhecimento da nomenclatura completa da Universidade e a Resolução de junho de 1969, fora a eles inócua por mais de três meses (o máximo alcance da nossa comprovação):
Blog da FAU.
Pelo visto tradição oral não é automaticamente corrigida por determinação superior; então: continuaremos sem saber quando, exatamente, a Universidade do Pará passou a ser nominada, pela fala das pessoas, de Universidade Federal do Pará, por mais que se descubra o número e o teor do decreto obedecido por Alcyr Boris de Souza Meira no escudo esmaltado — lembremos que Alcyr, no desenho publicado nos Anais Científicos de 1965, escreveu Universidade do Pará:
Curioso é que a Universidade Federal do Pará pode, até hoje, ser chamada só de Universidade; tal qual está no caderno da Maria Adelina; não há risco de confusão; diferem-na da UNAMA, da UEPA ou da UFRA; por antiguidade, quem complementa é sempre o interlocutor.
Adelina, com 10 anos em 1969, nem imaginaria outra Universidade que não a dela; simplesmente porque não existiria.
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Postscriptvm:
Coincidentemente, compondo a mesa diretora do Conselho Universitário, está o médico e professor catedrático Hermínio Pessôa (sob a seta) — pai das duas meninas (10 e 09 anos) que escrevem nos cadernos.
É um decreto de 1964 que chama as Univeridades de “Federais”, mas a tradição oral era forte. Minha mãe até hoje chama o Campus do Guamá (cidade universitária) de Núcleo (Pioneiro).
Toda a imprensa referia ainda por muito tempo como “Universidade” ou “Universidade do Pará” ou “UP”.