A última postagem do parceiro Fragmentos de Belém traz uma daquelas fotografias da LIFE que chamamos de “avulsas” — as que não possuem identificações para referenciar; não há data, autoria ou circunstância.
O curioso dessa imagem que por comparação a outras seria da década de 1950, é a edificação de um posto de FISCALIZAÇÃO DE PEIXE com uma alusão escultórica ao Mercado de Ferro em detalhe no seu frontão.
Nela já se vê, ao fundo, o posto de combustível e o CLIPPER, inexistentes em 1951 — confira isso na postagem CLIPPERS do Ver-o-peso em folhinha de 1952.
Uma fotografia pertencente à Inah Facióla, filha do Intendente Antonio Facióla (02-1929/10-1930), guardada em envelope com a inscrição “Para a Bibita 17-5-935” (que na realidade deve ser do final dos anos 1940) nos mostra um outro cenário:
O que se enxerga tem relação de proximidade com o tempo de três fotografias, inclusive com outra “avulsa” da revista LIFE, também obtida por Igor Pacheco, editor do Fragmentos de Belém; nelas ainda há a presença de um dos quiosques construídos por Francisco Bolonha (também com uma alusão escultórica ao Mercado de Ferro em detalhe no seu frontão), o que hospedava o CAFÉ ESPERANÇA:
Nota-se, na primeira fotografia da sequência acima, a presença do CLIPPER que, por hipótese, acreditamos ser o primeiro construído em Belém; originário da nomenclatura sui generis dada às nossas antigas e desaparecidas PARADAS de ônibus, pela associação às asas dos hibroaviões que cruzavam o espaço aéreo desse ponto nevrálgico de Belém desde 1929.
Já dissemos em outras postagens que essa PARADA (CLIPPER) é a mais inteligente formalmente, com princípios de design (encadeamento das colunas à cobertura) que lembram a escola BAUHAUS.
(Essa relação pode ter um caráter visual ilusório, apenas estético, escondendo a verdadeira e “pesada” sustentação da laje; isto só foi pensado depois de um comentário do Bassalo, que pôs por terra um “desenho de artista”, de cálculo improvável à execução.)
Não nos surpreenderia se, em consulta aos relatórios dos primeiros prefeitos pós Revolução de 1930 (que não estão disponíveis virtualmente no site da Biblioteca Pública Arthur Vianna do CENTUR), aparecesse o nome do arquiteto e construtor licenciado A. O. Massler (Albert Oswald Massler), alemão que manteve escritório nesta Cidade.
Essas conjecturas são baseadas na análise das fotografias que dispomos; por ora, sem nenhuma comprovação documental que dê a elas alguma credibilidade científica.
Como diria Millôr: “Livre pensar é só pensar pensar!”.
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Para perturbar um pouco mais a cabeça do leitor, vejamos:
Acima há um “janelamento” de fotografia também fornecida pelo site Fragmentos de Belém; se comparado ao postal da coleção Allen Morrison veremos que o calçamento da Praça do Relógio é o primitivo, sem os “dentes” que posteriormente serviriam para o estacionamento dos ônibus.
Ao fundo, na esquerda da imagem, se lê na placa/coluna de concreto a palavra PARADA escrita no sentido vertical, em letras comuns ao estilo Art Decó, entre inscrições (frases) ilegíveis que terminam com destaque à palavra CLIPPER, esta de fácil visualização — tal detalhe deixa dúvidas entre “apelido”, dado pela população, ou, “título da obra”, instituído pelo construtor ou Prefeitura.
Acima há mais um componente do pacote “Para a Bibita 17-5-935” (que na realidade deve ser do final dos anos 1940) por nós digitalizado; se a data está realmente correta (final do anos 1940), a pavimentação que circunda a Praça do Relógio já fora modificada em seu desenho e feitas aberturas de espaços ao encaixe dos ônibus; a parada está ao fundo, parcialmente exposta, com suas colunas da direita encobertas pelo poste de ferro (percebe-se pouquíssimo delas).
Em suma: a parada foi testemunha da mudança na configuração de uma praça que transmutou-se em terminal para o transporte coletivo; ou seja, a Praça do Relógio estava em função da PARADA dos ônibus e não o inverso, que só ocorreu com a proliferação desses abrigos até o final da década de 1950, com os dois últimos ao fundo (foto da década de 1960) com pilares em “V”, contornando a doca do Ver-o-peso:
FAU
Os ônibus não mais estacionam na Praça do Relógio, apenas transitam pelo circuito, deixando suas largas vagas à ocupação dos automóveis particulares.
Os carros parados perpendicularmente à D. Pedro II parecem “de praça” (táxi).
O início da década de 1970 mostra a permanência de alguns serviços no entorno do Ver-o-peso; contudo, não alcançamos a dimensão do que fora demolido ao longo desse decênio.
Postagem em parceria com o site Fragmentos de Belém.
Postscriptvm (o1/11/2014):
Acompanhe a evolução da pesquisa pelo SUMÁRIO que dá acesso às postagens sobre CLIPPERS até 24/10/2014.
Algumas informação contidas nesta postagem podem ter caído por terra em consequência da aparição de novos registros documentais.
Não fazemos nenhuma reparação nos textos originais, apenas colocamos esta nota ao final das publicações cobertas pelo período do resumo.
Aprendamos com os nossos erros.