Queluz — que desenho e dimensão teria essa “quinta”?

Em Especulações sobre a origem do Chalé de Ferro da FAU (2) aventou-se a possibilidade do chalé da Imprensa Oficial ter sido montado em terreno pertencente ou sob responsabilidade do construtor português Antonio Coelho Moreira; essa hipótese estabeleceria uma correlação entre os três edifícios belgas pré-fabricados em metal montados entre o final dos anos 1880 e o início dos anos 1890 em Belém do Pará.
Antonio Coelho possuía o domínio sobre a fazenda/sítio Queluz, uma área de forma por ora indefinida, que tentaremos compreender com os poucos dados disponíveis:

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Ampliável à leitura

Um mapa do início do século XIX mostra a marcação de Queluz, além da encruzilhada de sua própria picada com as estradas ao Forte da Barra e ao Maranhão, na direção oriental de uma Belém quase desabitada em sua primeira légua patrimonial; como disse Augusto Meira Filho em Evolução Histórica de Belém do Grão-Pará: “Uma população mínima, mesclada de militares, colonos e selvagens.”.
Por mais que não haja confiabilidade na superposição das cartas é curioso o Bosque Rodrigues Alves estar hoje localizado na área de floresta margeada pelas estradas supraditas — note-se que não há, no início dos anos 1800, o traçado da Estrada de Bragança que cortaria a mata virgem representada.
O jornal O Paraense de  10 de julho de 1822 refere-se ao lugar como Quinta de Queluz, onde havia um “Portão” que levava ao Hospital; na realidade ao Lasareto dos Bexigosos de Queluz.
Pelo que se pode interpretar nos textos do periódico de 1822 o hospital de isolamento de Queluz era destinado aos acometidos da epidemia de varíola e possuía administração militar com subordinação ao Hospital Nacional e Real das onze janelas — nenhuma relação com a caridade franqueada à Santa Casa da Misericórdia que mantinha o Leprosário do Tucunduba com subsídios governamentais (tanto monárquicos quanto posteriormente republicanos).
O Paraense, em sua posição ideológica, ressalta a desumanidade no Lasareto de Queluz sem amainar a miséria e desgraça do Tucunduba.

02 Ampliável à leitura

Outra comparação, desta vez a atualidade confrontada a uma planta dos anos 1820 enviada pelo arqueólogo Fernando Luiz Tavares Marques, pesquisador do Museu Goeldi, indica um ponto semelhante de localização no Google Maps compreendido entre as atuais transversais de Canudos: Primeira e Segunda de Queluz — separadas por 677,97 metros sobre a avenida Ceará:

abn

Ampliável à leitura

O Paraense de 10 de julho de 1822 figura o Portão (ou porteira?) de entrada à Quinta de Queluz, como se o incógnito denunciante dos fatos ali ocorridos chegasse aos arrabaldes da Cidade vindo da continuação da Estrada de Nazaré (Estrada do Utinga ou antigo Caminho de Maranhão, já que não fora designada a Estrada de Bragança).
A partir de uma sequência de notas de jornais mais recentes, intervaladas entre 1878 e 1890, ou seja: mais de 50 anos após a Independência do Brasil (e a adesão do Pará a ela), arriscamos um esboço hipotético de outro sítio de isolamento, desta vez o Hospital/enfermaria da estrada de José Bonifácio, adquirido pela Santa Casa de Misericórdia do sr. tenente coronel João Diogo Clemente Malcher para fazer frente a outro surto de varíola:

Enfermaria ou Hospital da José BonifácioAmpliável à leitura

A nota de A República (acima à direita), de 04 de setembro de 1890, dá como baliza de um terreno posto a alinhamento e arrumação a Linha de Queluz à suspeita que tal referência fosse a própria José Bonifácio; daí a razão do segmento de reta tracejado em todas as ilustrações como marco imaginário (ou mesmo real) do limite de entrada e posicionamento da porteira da QUINTA/fazenda/sítio/terreno/região/etc pela que viria a ser a Estrada da Independência (hoje Magalhães Barata).
Queluz também esteve conformada no Vale do Tucunduba como igapó de queluz em anúncio antigo, já avizinhada à construção do complexo hospitalar de isolamento onde hoje existe o Barros Barreto, contudo, sem nunca fornecer sua aparência poligonal exata:

AR-13AOO1891 (2)

Este “enunciado” diz que são 165 metros seguidos ao este, a partir da mesma linha (Barão de Mamoré) onde estabelecer-se-ia o portal do recuado Domingos Freire; entretanto, pela lógica, mais à banda da baixa da Gentil Bitencourt (antiga Estrada da Constituição) onde finda hoje a Segunda de Queluz.
Há de se observar que seguimos trabalhando com conjecturas, longe de documentos incontestes; risco de erro inerente a toda investigação.

Consultar O Paraense.


Postscriptvm (05 de maio de 2016):

Acompanhe os desdobramentos desta investigação em Queluz — que desenho e dimensão teria essa “quinta”? (2)

Sobre o Projeto Laboratório Virtual - FAU ITEC UFPA

Ações integradas de ensino, pesquisa e extensão da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará - em atividade desde maio de 2010. Prêmio Prática Inovadora em Gestão Universitária da UFPA em 2012. Corpo editorial responsável pelas publicações: Aristoteles Guilliod, Fernando Marques, Haroldo Baleixe, Igor Pacheco, Jô Bassalo e Márcio Barata. Coordenação do projeto e redação: Haroldo Baleixe.
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1 respostas para Queluz — que desenho e dimensão teria essa “quinta”?

  1. Bassalo disse:

    Haroldo, é a primeira vez que vejo pesquisa produzida e publicada em tempo real. Para o conhecimento, é importante contribuição em conteúdo e forma. És figura única. Parabéns!!!!

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