Domingo, 04 de junho de 2017, esquina da rua Aristides Lobo com a travessa Piedade: o pequeno jardim é vestígio do que fora, no século XIX, o Largo dos Poços; logradouro público que continha o Chafariz/Poço/Tanque do Bispo — integrante do maior manancial da Cidade, o Paul D’água, um dos lugares onde os habitantes de Belém abasteciam-se de água.
Em A localização do Chafariz do Bispo concluiu-se, com base no mapa de Belém publicado no Atlas do Império do Brazil de 1868, que tal praça ficaria em área próxima à quebradura da atual rua Aristides Lobo quando esta transpõe a travessa da Piedade sem confrontar-se com sua continuidade, que surgirá depois da Osvaldo Cruz, regressando a ser Aristides Logo.
No passado a Aristides Lobo fora Rua do Rosário até a Piedade, no Largo dos Poços; a sequência do rumo à Doca de Souza Franco: Chafariz… nunca Rosário.
O mobiliário Chafariz, Poço ou Tanque (talvez todos em um) do Bispo ocupava justamente essa área desconexa, dai a rua de seu canto ser popularmente conhecida como Chafariz do Bispo, do Chafariz, do Poço do Bispo, do Tanque do Bispo… já que era ela um dos caminhos ao manancial do Paul D’água.
Ratificar-se-á o dito com informações que permitem uma visão mais aproximada do desenho desse entroncamento alagadiço:
Um nova imagem da planta reproduzida em 1868 — certamente anterior ao ano do Atlas — obtida na seção de obras raras da Biblioteca Central da UFPA nos deu detalhe de uma construção de configuração quadrada conectada por vala, galeria ou duto à drenagem existente (ou planejada) que iniciava no primeiro quarteirão da Estrada de Nazareth até o desague na Doca do Reducto.
Outra fonte, superposta ao mapa atual de Belém pela professora Roseane da Conceição Norat, foi o Mapa da Cidade de Belém do Gram-Pará levantada por Edmund Compton em 1881; tal carta topográfica reforça, por curvas de nível, que o Largo dos Poços era um baixio com cotas entre 0,96 e 1,00 metro acima do mar.
A partir do trabalho de Rose foi possível dar forma ao Largo dos Poços acessado por vias que traziam pessoas dos quatro cantos da Cidade que o tinham na memória, ou ao seu objeto, como a Travessa do Chafariz do Bispo (Doutor Moraes), a Travessa dos Poços (Henrique Gurjão da Assis de Vasconcelos até a Piedade), a Rua do Chafariz/Poço/Tanque do Bispo (Aristides Lobo da Piedade à Doca de Souza Franco) e a Travessa do Largo dos Poços (Piedade).
A transposição da análise de Rose Norat à imagem de satélite do Google revela que o Largo dos Poços foi ocupado por residências restando uma nesga da superfície original numa das margens da Piedade — o que seria o equipamento Chafariz/Poço/Tanque do Bispo (representado pelo quadrado) estaria sob uma das casas do lado oposto.
O círculo branco destaca, em fotografias do Google View (2012), duas garagens erigidas em pleno logradouro público com placa referendando tais ocupações: Rampa de Acesso das Garagens; sem considerar o alinhamento das casas, muito além do estabelecido no antigo largo em relação às bordas da Piedade.
Um bom trabalho de investigação Haroldo Baleixe. E outras frentes…
Tenho uma dúvida. Em sua obra “A água de Belém”, Ernesto Cruz faz mensão a manuscritos antigos da Câmara Municipal encontrados no Arquivo da Prefeitura de Belém que a “Travessa do Póço do Bispo” seria a atual travessa Dr. Moraes, entre as avenidas Conselheiro Furtado e Gentil Bittencourt. Isso me levanta duas hipóteses: ou a confusão entre os logradouros que hoje são a Aristides Lobo e a Dr. Moraes; e/ou a existência de dois equipamentos distintos (poço e chafariz) pertencentes ao clero, com denominações que causam certa confusão histórica em definir qual é qual.