As duas últimas postagens suscitaram uma questão pertinente: o termo inglês CLIPPER era utilizado somente aos abrigos destinados aos passageiros de ônibus, as grafadas PARADAS, ou se fazia comum às edificações de tipologia parecida que circundavam a Doca do Ver-o-peso?
À época não havia a Lei Federal 6766/79, nem a Norma Brasileira 9284 que hoje facilita a compreensão do conceito de Equipamento Urbano; contudo, esse conjunto de serviços que surgiu com o transporte por bondes e se estendeu ao dos ônibus, assim poderia ser considerado, a partir dos telheiros e quiosques.
Se a sociedade reconhecia como CLIPPERS somente as PARADAS, algumas das postagens anteriores merecem ser revistas e ordenadas por essa ótica; em caso contrário, essas formas conquistaram características suficientes à identificação coletiva.
A foto acima é do acervo do IBGE — Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística — e nela se pode verificar que a construção da década de 1950, que por vezes chamamos de clipper, é um posto de combustível com bandeira ATLANTIC, o mesmo que aparece em fotografia de Dmitri Kessel para a revista LIFE, em 1957:
Nesse contexto, alinhados à frente do casario português da Marquês de Pombal, teríamos mais dois postos de combustível; apesar de não ser possível, no material fotográfico que possuímos, identificar pistas que levem às empresas privadas que tinham concessão para explorar o espaço público.
Sobre o já identificado Atlantic há um comentário no Blog dos Carros Antigos que merece checagem: “…a foto é de fato um clipper onde também funcionava um posto de combustíveis. Ainda na década de 60 e 70 trabalhei na aferição das bombas desse posto que se não me engano era explorado pela empresária Maria de Lourdes Holanda que depois transferiu-se para 16 de Novembro esquina da Praça Amazonas.”.
O depoimento anônimo vai além da informação sobre a pessoa a quem se permitiu desenvolver atividade privada no local e ratifica a percepção tipológica do equipamento público por uma singular aparência.
Colaboração: Fragmentos de Belém.
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As dificuldades da pesquisa sobre CLIPPERS e ET CAETERA
A investigação que o Blog da FAU tem feito sobre essa sui generis nomenclatura surgiu de um comentário do professor José Júlio Ferreira Lima na postagem CLIPPER da Castilhos Fraça em 1965; de lá para cá, e com a ajuda de leitores e colaboradores, muito se tem especulado a partir de fotografias vindas da Internet, única documentação que nos dá respaldo, apesar de datações por vezes incoerentes.
Ontem fomos à Biblioteca Pública Arthur Vianna, no setor de Obras Raras, na tentativa de encontrar os RELATÓRIOS administrativos dos primeiros prefeitos pós Revolução de 1930, período que acreditamos estar a origem do que buscamos; não conseguimos localizar essas narrativas que deveriam nos contar pormenores das ações urbanísticas na Cidade; se existem, há primeiro que se descobrir como foram catalogadas.
Por coincidência lá nos deparamos com uma joia: o “Relatório Apresentado ao Conselho Municipal de Belém” que cobre de fevereiro de 1929 a outubro de 1930, do Intendente Antonio de Almeida Facióla, justamente o último da República Velha.
Esse documento — uma bem cuidada impressão tipográfica (ou litográfica) ilustrada por fotografias de S. Oliva — indica a existência de outros exemplares que podem estar em bibliotecas ou em mãos de particulares; é possível que tal capricho gráfico se deva ao fato de Facióla ser proprietário da Livraria Maranhense, especialista nesse ramo de atividades.
Estar diante do que bem complementa um trabalho desenvolvido pelo BF e não poder fofografá-lo foi uma experiência de profunda amargura e frustração.
É isto: como já havíamos aqui noticiado, não se pode mais registrar nada das Obras Raras; um desserviço à sociedade baseado na razão cínica de que o acervo perde a exclusividade e a chancela de sua guardiã.
Se quiséssemos uma cópia do Relatório Facióla deveríamos pagar por página a quantia de R$2,00 (são aproximadamente 120 laudas) e aguardar pelo menos uns 10 dias; mas não acreditemos que tal serviço tenha um controle de qualidade profissional que substitua um ordinário celular (sem flash), pois a digitalização é feita em um escâner doméstico A-4 de vidro já opaco onde a publicação sobra — sem levar em consideração o prejuízo causado pela lâmpada do equipamento à obra.
Você pode passar o dia debruçado sobre uma obra rara, babá-la, enchê-la de bactérias, arrancar-lhe páginas se vândalo for, mas, fotografá-la (sem flash): em hipótese alguma.
Para que novas tecnologias se a Biblioteca Públia Arthur Vianna é uma entidade pré-histórica que segue firme na contramão da democratização do conhecimento?
Tudo isso é deveras lamentável e arbitrário; e, com certeza, merece intervenção do Ministério Público para salvaguardar os direitos do cidadão à formação de sua identidade cultural.
Postscriptvm (o1/11/2014):
Acompanhe a evolução da pesquisa pelo SUMÁRIO que dá acesso às postagens sobre CLIPPERS até 24/10/2014.
Algumas informação contidas nesta postagem podem ter caído por terra em consequência da aparição de novos registros documentais.
Não fazemos nenhuma reparação nos textos originais, apenas colocamos esta nota ao final das publicações cobertas pelo período do resumo.
Aprendamos com os nossos erros.